Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor e professor de Fruticultura da Agronomia – FAAZ/UFMT
Wellington Alan Signor
Kamilla Silva de Jesus
Graduandos de Agronomia – FAAZ/UFMT
Tendo em vista que o maracujá é uma cultivar muito suscetível a pragas e doenças, o uso de agrotóxicos e adubação mineral é quase inevitável para que se tenha uma boa produção. Em contrapartida, o cultivo orgânico apresenta mais segurança à saúde do agricultor, consumidor, ambiente e microfauna quanto à contaminação proveniente do uso de defensivos agrícolas.
O sistema orgânico se beneficia de resíduos animais e vegetais, acarretando numa maior valorização do produto, pois os agroquímicos podem interferir nas características naturais do maracujá. No sistema orgânico, o solo recebe atenção redobrada, pois ele serve como uma das bases para um crescimento vigoroso da cultivar, visando enriquecê-lo com matéria orgânica.
Manejo orgânico
O preparo das mudas favorece que a cultivar chegue vigorosa ao plantio. As sementes devem ser plantadas em substrato de qualidade, livre de doenças e com boa porosidade, para evitar o encharcamento e favorecer um bom desenvolvimento radicular.
Nessa etapa de preparo das mudas, o uso de solo é evitado, a fim de se evitar ao máximo a ocorrência doenças, como a podridão-radicular e fusariose.
Quanto ao solo, seu manejo de correção e adubação deve ser feito previamente ao plantio das mudas, com base nas análises químicas. As adubações posteriores ao plantio devem ser feitas no máximo a cada 60 dias, com base na fase do cultivo.
Outro manejo importante é a condução do maracujazeiro, pois se trata de uma planta trepadeira de crescimento rápido. Os tipos de condução podem ser de espaldeira vertical (mais comum) ou tipo latada.
O tipo espaldeira vertical propicia a condução do maracujazeiro em forma de cortina (entre mourões). Feito o manejo de maneira correta, pode-se evitar que os ramos se embaralhem, havendo maior aeração.
Neste sistema, a polinização é facilitada, diferentemente do tipo latada, que consiste em uma condução em forma de “cobertura” (sobre mourões). Tem um custo mais elevado e dificulta a polinização manual, a qual gera maior rendimento.
Nutrição das plantas
Segundo Zacharias et al. (p. 240, 2016), inicialmente devem ser feitas análises químicas e microbiológicas do solo. A correção inicial pode ser realizada com calcário ou gesso e, para a fosfatagem, o mais utilizado é o pó de rocha ou farinha de ossos.
As adubações após o plantio devem ser feitas de acordo com as evidências da planta, tendo como base fontes orgânicas, como compostagem, vermicompostagem e fosfato de rocha natural.
É de suma importância que seja feito o coroamento do maracujazeiro, que consiste na capina ou retirada manual de mato, num círculo ao redor do caule da cultivar. Esse manejo aumenta a eficiência da adubação, diminuindo a competição por nutrientes.
Desafios
O principal desafio em qualquer cultivo orgânico é o controle de pragas e doenças. As pragas e doenças e doenças são normalmente as mesmas encontradas no cultivo convencional do maracujazeiro, no entanto, seu controle é o que se torna um desafio.
Dentre as principais pragas podemos citar a lagarta-desfolhadora, a broca-do-maracujazeiro, o percevejo, a mosca-das-frutas, o besouro-da-flor-do-maracujazeiro, a formiga-cortadeira e os ácaros.
Com relação às doenças, o maracujazeiro pode ser atacado por fungos, bactérias e vírus, com intensidade de danos que depende das condições climáticas e dos aspectos culturais. Para que se tenha um bom controle e garantia de uma produção, o manejo integrado das principais pragas e doenças deve ser bem executado.
O manejo de pragas deve ser feito de maneira que dispense defensivos químicos, assim como o manejo de plantas daninhas. No mercado, podemos encontrar opções como o extrato de nim ou o extrato pirolenhoso, que são boas opções para diminuir a população de insetos pragas na lavoura.
Para o controle das daninhas, o mais recomendado é a utilização de roçadeiras ou capinas. Outra prática importante é evitar o acúmulo de cobertura vegetal na base do maracujazeiro, pois é uma cultura muito sensível a diversas doenças.
O material orgânico mantido próximo à base caulinar torna um ambiente propício para o desenvolvimento de patógenos.
Papel da biodiversidade
Um dos princípios para termos uma agricultura mais sustentável, por meio do sistema de produção orgânico, é a preservação e ampliação da biodiversidade ou diversidade biológica. Para o maracujá, essa biodiversidade e preservação da fauna são extremamente benéficas.
A ausência de defensivos propicia uma maior incidência dos polinizadores naturais da cultura, o que possibilita redução dos gastos com a polinização manual da cultura. Outro ponto importante é a microbiota do solo, que é beneficiada devido à adubação ser toda de origem orgânica de insumos vegetais e animais.
A quantidade e diversidade de microrganismos se torna enorme, com papel extremamente importante na fertilidade do solo e disponibilidade de nutrientes para a planta.
Colheita e pós-colheita
Os manejos de colheita e pós-colheita são bem similares ao convencional, mas requerem alguns cuidados redobrados, devido ao produto ter valor agregado maior no mercado.
Normalmente, o fruto é colhido quando atinge o seu ponto fisiológico e cai no chão, no entanto, esta não é uma prática indicada. O maracujá é um fruto climatérico e pode ser colhido quando apresentar uma coloração amarelada >30% no fruto.
Essa prática de colher o fruto ainda no pé evita danos mecânicos e a contaminação por patógenos do solo, aumentando o tempo de prateleira do fruto. Além disso, são colhidos frutos mais pesados, pois evita a desidratação deles após a abscisão da planta.
O cuidado com a acomodação dos frutos para o transporte é redobrado, evitando ao máximo o dano mecânico entre os frutos. Os frutos já na indústria passam por uma higienização, a fim de retirar sujeiras e reduzir a carga microbiana presente na casca do fruto. A partir disso, ele pode seguir para o processamento ou ser embalado e vendido in natura.
Perspectivas
As perspectivas para o cultivo do maracujá orgânico são muito boas, pois o mercado de orgânicos anda em crescente crescimento, atualmente. Isso está altamente ligado a uma mudança de personalidade por parte de alguns consumidores brasileiros, em especial, preocupações com a segurança do alimento, com a sustentabilidade e biodiversidade, com o bem-estar animal, apoio a negócios locais e um foco crescente em escolhas de alimentos mais saudáveis.
O cultivo de maracujá orgânico ainda é extremamente restrito no Brasil, o que pode ser altamente rentável, analisando que a oferta é baixa e é um nicho de mercado em que os consumidores estão dispostos a pagar um pouco mais pela qualidade do produto.