Autores
Elisamara Caldeira do Nascimento
Doutora em Ciência do Solo e pós-doutoranda em Agricultura Tropical – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor em Agronomia e professor de Fitotecnia – UFMT
glauciogenuncio@gmail.com
Os solos são definidos como corpos naturais independentes, constituídos de materiais minerais e orgânicos, organizados em camadas e/ou horizontes. A unidade básica do solo é chamada de pedon, do grego que significa solo, terra. Ela vai da superfície ao material de origem .
A face do pedon é chamada de perfil de solo. O perfil do solo é utilizado para fins de exame, descrição, coleta e classificação dentro de um sistema organizado. Para o caso do Brasil, seguimos o Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos.
Então, o perfil do solo é a seção vertical, da superfície até a rocha matriz, sendo dividido em horizontes mais ou menos paralelos. Os horizontes são camadas de solo com características em comum que ocorrem em função dos processos pedogenéticos atuantes ao longo do tempo. Essas características podem ser relativas à espessura, cor, textura, estrutura e outras.
Ponto de partida
Conhecer o perfil do solo é fundamental para o sucesso da produção, pois possibilita a tomada da melhor decisão e adoção das técnicas de manejo mais adequadas. Considerando que o planejamento do negócio é o primeiro passo do empreendimento e, quando bem feito, aumenta drasticamente nossas chances de obter bons resultados, fica evidente a necessidade de se conhecer o local onde as plantas estão se desenvolvendo e retirando tudo que é necessário para sua sobrevivência.
Isso ocorre porque o perfil do solo é um dos fatores que pode limitar as atividades que podemos desenvolver nas áreas agrícolas. Desta forma, quando se busca altas produtividades é necessário interpretar o sistema produtivo de forma integrada e tomar decisões específicas e pontuais. Isto determinará o sucesso da lavoura.
Quando falamos em “construção de perfil do solo”, nos referimos a formas de manejo para melhorias da capacidade química, física e biológica destes ambientes. Além disto, este termo se refere a trabalhos que envolvam além da camada arável, proporcionando melhorias em todo o sistema até profundidades maiores.
O perfil químico do solo se relaciona às características químicas de interesse agronômico que nele ocorrem e nossa preocupação é disponibilizar os nutrientes essenciais às plantas em quantidades ideais e no momento oportuno. Essas características englobam o pH, capacidade de troca de cátions, teor de nutrientes, teor de matéria orgânica e presença de possíveis elementos tóxicos no perfil do solo.
Não é novidade que a maioria dos solos brasileiros, abrangendo os diversos biomas, são ácidos e, por isso, a calagem é uma prática obrigatória, caso você queira extrair todo o potencial produtivo das plantas.
Viabilidade
Mesmo sendo uma prática simples e com custo relativamente baixo, a calagem ainda é negligenciada em muitas propriedades agrícolas. É importante ressaltar a importância da calagem. Essa prática objetiva fazer com que o pH do solo alcance valores na faixa de 6 a 6,5, ideal para maioria das culturas, incluindo a soja e tornar o Al tóxico, indisponível para as plantas.
Além disto, o calcário (CaCO3) também fornece Ca para o perfil, mas por ser um produto pouco móvel, estas melhorias se concentram na camada em que foi incorporado. Assim, a maioria das raízes ficam mais próximas da superfície do solo, o que compromete a absorção de nutrientes pelas raízes. E consequentemente, o desenvolvimento das plantas na sua lavoura.
Neste sentido, o gesso atua nas propriedades químicas do solo, principalmente nas camadas subsuperficiais. É importante ressaltar que ele não altera o pH do solo, mas por ter alta solubilidade, o gesso aumenta rapidamente as concentrações de Ca2+ e SO4– no solo em profundidade, promovendo a melhoria das propriedades físicas, físico-químicas ou da atividade biológica do solo.
O sulfato reage com o alumínio, diminuindo a toxidez de Al para as plantas e possibilitando o aumento do sistema radicular, além de disponibilizar no solo os nutrientes cálcio e enxofre. O cálcio é um macronutriente importante para as plantas, atuando na estrutura da planta (parede celular).
A principal vantagem da aplicação do gesso é o maior desenvolvimento radicular em profundidade, o que propicia melhor absorção de água e nutrientes pelas plantas.
O solo
Já o perfil físico do solo reflete a sua estrutura, ou seja, a forma como suas partículas sólidas estão arranjadas e regulam os processos de penetração das raízes, aeração, infiltração e retenção de água.
Solos com longos períodos em sistema de plantio direto podem apresentar uma camada de compactação que impede o desenvolvimento adequado das raízes. Reverter este processo inclui tomar decisões em que precisam ser avaliados todos os pontos do sistema produtivo.
A utilização de maquinários específicos para descompactação irá impedir a continuidade deste sistema conservacionista. Contudo, nada impede que ele seja interrompido e reiniciado, de forma que se evite os mesmos problemas futuramente.
Para isto, é necessário que se entenda como primordial a rotação de culturas (e não sucessão). O planejamento da lavoura com relação aos plantios deve ser de pelo menos três a cinco anos, incluindo espécies com diferentes alcances de sistemas radiculares e que ocupem diferentes nichos do solo.
Tanto a melhoria química quanto a física estimulam uma maior proliferação e atuação de microrganismos. O aumento do volume de raízes aumenta os macroporos, abrem bioporos e aumentam os teores de matéria orgânica.
A formação de um perfil de solo favorável ao enraizamento profundo é um indicador de qualidade de manejo da lavoura. Para alcançar o máximo de fertilidade é preciso conhecer o solo da propriedade, peculiaridades e características para que o manejo seja muito bem feito e que os resultados na lavoura sejam de altas produtividades.
Desafios
Atualmente, os principais desafios encontrados pelos agricultores incluem o tempo necessário para a construção de um perfil de solo favorável ao desenvolvimento e aprofundamento do sistema radicular (estratégia de manejo de médio a longo prazo). Mas é preciso lembrar que sempre iniciamos com um primeiro passo.
Além disto, algumas estratégias podem demandar um investimento expressivo dos produtores quanto a doses e frequência de fertilizantes e corretivos, disponibilidade de sementes de qualidade para a rotação de culturas, potência de tratores e aquisição ou recuperação de escarificadores/subsoladores, ou fertilizações profundas e amostragem de solo de camadas subsuperficiais.
Por fim, é importante destacar que o benefício da construção de um perfil de solo favorável ao aprofundamento do sistema radicular e resultados em produtividade é mais expressivo em anos com déficit hídrico ou situações de estresse às culturas. Neste processo, é importante o resgate da experiência dos agricultores inovadores que já vem investindo e que podem direcionar os esforços da pesquisa e dos consultores/agricultores.