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Solo: como o pH afeta a fertilidade?

Josias Reis Flausino Gaudencio
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
josiasflausinogaudencio@gmail.com
Silvino Moreira
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas e professor do Departamento de Agricultura – UFLA
silvinomoreira@ufla.br

O pH do solo é uma medida da atividade de íons H+ em solução e é um dos mais importantes atributos químicos avaliados em uma análise de rotina em laboratórios de solos, pois afeta direta e indiretamente uma série de outros parâmetros, como comentado a seguir:

Disponibilidade de nutrientes

O pH afeta a forma, atividade e disponibilidade de nutrientes. Em condições de alta acidez (pH abaixo de 5,5), há maior solubilidade de Al, e dos micronutrientes catiônicos Cu, Fe, Mn, Ni e Zn.

Em contrapartida, nessa condição os macronutrientes se encontram em menor disponibilidade, principalmente o P. Nestes casos, o P precipita com íons Fe2+ e Al3+, formando os precipitados fosfato de ferro e fosfato de alumínio, reduzindo a eficiência das adubações fosfatadas.

A alta acidez também favorece a reação inicial de adsorção de P às cargas positivas da superfície dos coloides. O aumento de pH, por sua vez, leva a um aumento da disponibilidade dos macronutrientes, como o P, N e S.

No caso do N e S, há aumento da mineralização da MO, elevando a disponibilidade; no caso do P e S, há redução na adsorção dos nutrientes; Ca e Mg são fornecidos pela calagem, durante a correção da acidez, e o K tem maior disponibilidade pelo aumento da retenção de cátions, provocada pela calagem.

A elevação de pH também favorece a disponibilidade de B, Cl e Mo.

Toxicidade de Al

Em condições ácidas pode ocorrer no solo teores tóxicos de Al3+, que se manifestam nas plantas como sintomas de engrossamento, redução do comprimento e diminuição do volume de raízes, prejudicando a absorção de água e nutrientes. O aumento de pH provoca a hidrólise de Al3+, que se completa em valores de pH H2O maior que 5,5, com a precipitação do Al3+ em Al(OH)3, forma insolúvel e que não causa toxicidade às plantas.

Eficiência da adubação

Em geral, há um aumento da eficiência das adubações com a correção de pH. Isso ocorre devido à diminuição da lixiviação de cátions no perfil de solo; redução da atividade de íons como Fe2+ e Al3+ que se precipitam com o fosfato; neutralização de Al e a melhoria das condições químicas para que as raízes possam crescer em volume e profundidade de exploração.

Assim, permite a absorção de água e dos nutrientes fornecidos pela adubação. 

Interação entre matéria orgânica e fertilidade do solo

A matéria orgânica do solo (MO) tem um papel fundamental na melhoria da fertilidade dos solos tropicais. Entende-se por MO todo o material de origem biológica, passante em peneira de 2,0 mm, presente no solo em diferentes compartimentos: fase viva (biomassa microbiana e exsudatos radiculares) e fase morta (matéria macrorgânica, substâncias não humificadas e húmus).

Em função da diversidade de compostos, o teor de MO no solo é indiretamente estimado a partir do teor de C da amostra. O fator 1,724 é utilizado para converter C em MO e tem origem em uma proporção estimada de ácidos húmicos (AH) na MO de 58%, logo, 58/100 = 1,72.

Porém, trabalhos mais recentes têm sugerido a revisão desse fator de conversão.

A CTC

A MO afeta o grau de fertilidade do solo em diferentes aspectos. É a principal responsável pelo aumento da CTCnos solos brasileiros, onde predominam frações de argila de baixa atividade, como caulinita de óxidos de Fe e Al.

As substâncias húmicas possuem elevada capacidade de geração de cargas negativas (100 a 1400 cmolc dm-3), enquanto a caulinita tem uma capacidade bem inferior (3,0 a 15 cmolc dm-3).

Assim, a contribuição da MO na geração de cargas negativas no solo pode ser superior a 80%. Dessa forma, incrementos no teor de MO impactam positivamente a capacidade dos solos em reter cátions, diminuindo as perdas por lixiviação e otimizando as adubações.

Transformação das formas orgânicas

Durante a decomposição de resíduos orgânicos, há a transformação de formas orgânicas em formas minerais dos elementos presentes na constituição desses materiais, sendo passíveis de absorção pelas plantas.

Alguns desses exemplos são N, S e P, liberados nas formas de nitrato, sulfato e fosfato, respectivamente. Para o N, a mineralização tem um papel ainda mais importante na disponibilização do elemento para as plantas, pois mais de 95% do teor total de N no solo se encontra associado a compostos orgânicos.

Por outro lado, quando há alto aporte de resíduos orgânicos, os microrganismos podem competir com as plantas pelo N disponível, em um processo denominado imobilização, ou seja, o N ficará temporariamente sequestrado na biomassa microbiana.

Nesse caso, para que não ocorra deficiência para a cultura subsequente, a adubação deverá levar em consideração essa demanda adicional de nitrogênio no sistema.

A MO pode complexar metais no solo a partir de ácidos e ligantes orgânicos. A interação organometálica pode reduzir a atividade de Al, tornando o elemento menos disponível para as plantas e, consequente, reduzindo a toxicidade às culturas.

Essa é uma das razões que explicam altas produtividades em solos sob plantio direto com teores de Al em níveis considerados indesejados. Por outro lado, os complexos organometálicos auxiliam a nutrição da planta com micronutrientes em condições de pH alcalino, onde seriam esperadas deficiências desses elementos.

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