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Solo e equilíbrio de nutrientes

Fernando Simoni Bacilieri Engenheiro agrônomo, doutor e professor – Departamento de Agronomia da UNOPAR – Ponta Grossa – PRferbacilieri@zipmail.com.br

Roberta Camargos de Oliveira Engenheira agrônoma e doutora – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) robertacamargoss@gmail.com

Solo – Fotos: Shutterstock

A nutrição de plantas apresenta destaque nesta cultura altamente responsiva, com alta capacidade de conversão de energia e assimilação em carboidratos. A aplicação dos fertilizantes NPK aumenta o tamanho dos tubérculos e reduz a proporção de tubérculos não comercializáveis.

Com o intuito de atingir altos tetos produtivos, então, buscam-se alternativas, novas formas de aplicação de fertilizantes, novas fórmulas de produtos e a combinação mais adequada para atender o almejado. Neste contexto, precisamos entender e incorporar que nem sempre mais é melhor.

Quando se utiliza doses e proporções equivocadas entre os nutrientes, o resultado pode ser o oposto, pelo desequilíbrio entre os elementos fornecidos às plantas. Portanto, a otimização e eficiência em todo o processo produtivo é adquirida quando se observa a adequada quantidade a ser fornecida, o que, na cultura da batata, é variável de acordo com a cultivar, o tipo de solo e as condições climáticas de cultivo.

Produtividade das batatas

 Os nutrientes desempenham funções específicas e são essenciais para o pleno desenvolvimento vegetal. Plantas bem nutridas são capazes de suportar melhor as condições de estresse, tanto biótico quanto abiótico, proporcionando melhores retornos em nível de quantidade e qualidade.

Os maiores incrementos em produtividade relacionam-se à aplicação de fósforo, nitrogênio e potássio, nesta ordem. O fósforo (P) aumenta o rendimento e encurta o período vegetativo.

O nitrogênio (N) aumenta o crescimento vegetativo das plantas, intensifica a cor verde da folhagem e retarda a maturidade. Porém, em doses excessivas, aumenta a suscetibilidade a doenças fúngicas. Já o potássio (K) é importante para fatores relacionados à qualidade, aumentando a conservação pós-colheita.

Demanda nutricional

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (1999), a demanda relativa de fertilizantes da batata é a maior entre as culturas produzidas no Brasil. Os valores elevados vão além da alta capacidade de resposta e se devem, em parte, à aplicação de doses acima da capacidade de assimilação da cultura, que pode ocorrer por um receio do produtor ou responsável técnico em não obter a produção almejada (é melhor garantir aplicando doses elevadas), ou ainda por falta de informação sobre os detalhes da fisiologia da cultura e da interação desta com o ambiente.

Para se ter uma adequada avaliação da quantidade de nutrientes a aplicar, é fundamental realizar a coleta de solo e sua interpretação, para que os nutrientes não sejam indisponibilizados pela inadequação do pH (complexação e/ou lixiviação dos nutrientes).

As recomendações devem seguir a avaliação do teor dos nutrientes contidos no solo, conhecimento sobre o tipo de solo, histórico da área (culturas anteriores, quantidade e qualidade da matéria orgânica), bem como das exigências de nutrientes absorvidos e acumulados por cada cultivar.

Por dentro do campo

As cultivares de batata possuem particularidades que refletem em diferenças no manejo e na produtividade. Fernandes (2013), em estudo com as cultivares mais plantadas no Brasil (Ágata, Asterix, Atlantic, Markies e Mondial), observou que as cultivares de batata diferem entre si com relação à absorção de P, devido a diferenças nas características morfológicas e fisiológicas dos sistemas radiculares.

Sabe-se que a absorção e a utilização de nutrientes são processos muito complexos, nos quais todos os nutrientes interagem e se conectam durante todo o processo de desenvolvimento da planta em uma série de reações químicas.

Portanto, o equilíbrio entre os nutrientes é fundamental para atender as necessidades das plantas, sendo ao mesmo tempo um desafio devido aos vários fatores do ambiente que influenciam nesta dinâmica.

A época de plantio, o macro e microclima influenciam o metabolismo das plantas. Todos estes fatores, em interação, determinarão as respostas distintas quanto ao uso e eficiência dos fertilizantes e, em consequência, resultarão em reflexos na produtividade das populações de plantas. 

Interações complexas

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Muitas vezes podem ocorrer interações complexas que não chegam a afetar a produtividade significativamente, tanto por limitação quanto por consumo de luxo, pois as plantas têm alta capacidade de se ajustarem ao ambiente e se desdobram a fim de perpetuar a espécie.

No entanto, em avaliações mais rigorosas é possível observar que os desequilíbrios podem gerar fragilidades na produção, pela desestruturação metabólica, o que resulta em processos desfavoráveis, como por exemplo, menor tempo de prateleira (armazenamento e conservação comprometidos).

Em equilíbrio

O melhor balanço entre os nutrientes contribui para promover resistência a estresses, e, essencialmente, por reduzir a aplicação de defensivos, fortalecer as plantas e permitir melhores condições para expressão do potencial genético das cultivares. 

Para entender como as interações e a dinâmica entre os nutrientes funcionam, vamos exemplificar com alguns efeitos dos macronutrientes primários (NPK). Iniciando pelo N, sabemos que ele está diretamente ligado à estrutura vegetativa da planta, por determinar a expressão da quantidade de enzimas presentes nos tecidos vegetais.

No entanto, doses elevadas de N reduzem a biossíntese de lignina, e como consequência levam a uma menor resistência à hospedagem de patógenos (Kuai et al., 2016). Plantas suscetíveis a patógenos são potenciais riscos de quedas em produtividade.

O aumento da oferta de P para a raiz pode refletir em redução do volume de pelos radiculares para a captação de P (Haling et al., 2013). Este fato influi na capacidade de absorção, pois a absorção de P é altamente dependente das características do sistema radicular.

O excesso de K, devido as altas concentrações aplicadas durante o cultivo, já foram relatadas como responsáveis pela percolação de Ca e Mg para as camadas inferiores do solo, limitando a sua disponibilidade para as plantas (Anjos et al., 2015).

Sob alto teor de K, Gott et al. (2014) observaram interferência na absorção do Mg devido ao efeito antagônico entre os dois nutrientes, o que gerou desbalanço de Mg. É relevante destacar que a menor absorção de Ca e Mg, em detrimento da maior concentração de K, torna as plantas suscetíveis às doenças bacterianas (Malvi, 2011), evidenciando a necessidade de manter o balanço nutricional.

Por outro lado, a adubação nitrogenada também interfere na dinâmica dos nutrientes catiônicos do solo. Porém, neste caso, favorecem a formação de pares iônicos entre o nitrato e os cátions Ca2+, Mg2+, K+ e Al3+, aumentando a absorção destes (Carneval et al., 2016). É importante considerar também o equilíbrio de bases entre os cátions em relação à CTC (Ca/T, Mg/T e K/T), priorizando uma relação de 45:15:5, respectivamente.

Quanto aos micronutrientes, a faixa estreita entre deficiência e toxicidade demanda mais atenção quanto ao acompanhamento dos teores para evitar quedas na produtividade, especialmente em relação ao B, pois doses elevadas de N reduzem os teores de B, podendo ser um fator limitante, se não avaliado.

Pode-se observar que o desequilíbrio entre os nutrientes no ambiente pode resultar em menores níveis de absorção de alguns elementos e, por consequência, em plantas de menor qualidade e menos produtivas.

Como implantar a técnica

Dentre os mecanismos disponíveis para otimizar a eficiência da recomendação de fertilizantes em áreas de cultivo de alta produtividade, pode-se citar a adoção de práticas que quantifiquem a disponibilidade de nutrientes durante o ciclo da cultura por meio de análise foliar.

Tal análise fornece informações do estado nutricional da planta por um baixo custo (visto como investimento) e pode servir de comparação com análises de outras lavouras, traçando um direcionamento de como o manejo nutricional pode ser melhorado ao longo dos ciclos de cultivo.

Os resultados de análises químicas de plantas podem ser interpretados por diversos métodos. Por cálculos matemáticos é possível obter informações sobre quais nutrientes encontram-se em limitação e excesso, o que torna a tomada de decisão muito mais confiável e viável economicamente.

Alguns métodos indicam faixas de suficiência ou níveis críticos de nutrientes em tecidos vegetais, para regiões específicas e sem a necessidade de ensaios de calibração, e têm sido considerados como ferramentas promissoras para a fertilidade do solo e nutrição de plantas.


Saiba mais

O fornecimento de quantidades balanceadas de nutrientes aplicados ao solo no cultivo de batata é determinante para que se obtenha altos rendimentos aliados a benefícios de ordem econômica e ecológica. Portanto, é fundamental a correta amostragem do solo e a adequada interpretação do laudo do solo, reunindo, para a recomendação de fertilizantes, as informações sobre o tipo de solo, época e região de plantio e cultivar selecionada.

Ao considerar a dinâmica entre os nutrientes no solo e a fisiologia das cultivares, é possível se aproximar de um melhor equilíbrio do sistema físico, químico e biológico e obter o máximo uso racional dos recursos disponíveis.

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