Autores
Luís Paulo Benetti Mantoan
Engenheiro agrônomo e doutor em Ciências Biológicas – UNESP
Carla Verônica Corrêa
cvcorrea1509@gmail.com
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia – UNESP
O sorgo é uma cultura que vem ganhando cada vez mais espaço. Nos últimos anos ocorreu grande aumento de seu cultivo, principalmente na safrinha. Entre os motivos para a expansão das áreas com sorgo granífero, destacam-se:
; É uma espécie tolerante à seca;
; Ampla adaptação às diferentes regiões do Brasil;
; Aumento do consumo tanto para alimentação humana como animal;
; Baixo custo de produção;
; Mais rentável que as culturas de inverno;
; Plantio, cultivo e a colheita do sorgo podem ser realizados com o mesmo maquinário usado para soja, arroz e trigo;
; Opção de formação de palhada para a cultura sucessora, como a soja;
; Aumento da utilização do grão para produção de rações para animais;
; Uso do grão para produção de alimentos sem glúten, sendo uma alternativa para as pessoas com intolerância ao glúten.
Condições específicas
O sorgo apresenta a capacidade de se adaptar a temperaturas mais amenas, desde que na região ocorra período de calor para favorecer seu desenvolvimento. A temperatura ideal varia de acordo com cada cultivar. No entanto, geralmente a planta se desenvolve bem em condições de temperaturas que variam entre 16 e 38°C.
A maior produtividade do sorgo pode ser obtida em solos ricos em matéria orgânica, sendo importante o manejo de palhada. Deve-se ter em mente que a ideia de que o sorgo se desenvolve bem em solos de baixa fertilidade não é verdadeira.
Aliás, sua produtividade é diretamente proporcional à fertilidade e nutrição adequadas à cultura. No entanto, também é capaz de se adaptar a variados tipos de solo, indo desde os argilosos até arenosos. A única exceção é que o sorgo não tolera solos com baixa capacidade de drenagem.
Em relação ao controle de plantas daninhas, o controle químico é umas das soluções mais eficientes. No entanto, é importante levar em consideração o tipo de herbicida a ser empregado para cada cultivar, pois existem poucos produtos específicos para uso na cultura de sorgo granífero.
Condições para a cultura
O sorgo não é uma cultura muito exigente em relação ao tipo de solo. No entanto, deve-se evitar solo que não sejam bem drenados. Essa cultura não tolera solos encharcados, lembrando que um dos aspectos mais importantes dessa espécie é justamente ser tolerante à seca.
Para obter maiores produções, o produtor deve dar atenção à formação de palhada. O sorgo apresenta uma excelente produtividade em solos ricos em matéria orgânica. Deve-se enfatizar que solos mais ricos em matéria orgânica apresentam maior retenção de umidade, maiores teores de nutrientes, menor oscilação de temperatura (amplitude térmica), maior presença de microrganismos benéficos que contribuem para a redução de patógenos de solo e melhores propriedades físicas, o que contribui para o maior desenvolvimento do sistema radicular.
Como qualquer outra cultura, deve-se realizar a análise química de solo e foliar para realizar uma adubação econômica e que resulte em altas produtividades.
Clima ideal
Como a planta de sorgo se adapta a uma ampla variação de ambientes e produz sob condições desfavoráveis quando comparado à maioria dos outros cereais, vem ocupando cada vez mais áreas que antes seriam destinadas a outras culturas, como o milho, por exemplo.
Devido a sua tolerância à seca, é considerado como um cultivo mais apto para regiões com chuvas escassas. Assim, está se tornando cada vez mais frequente os produtores substituírem parte da área de cultivo destinada ao milho pelo sorgo, principalmente durante o cultivo safrinha, época essa com menores ocorrências de chuvas.
Em relação à temperatura, é necessário ter períodos de altas temperaturas, principalmente durante seu crescimento. Em baixas temperaturas, o crescimento é muito lento, o que resultará em baixa produtividade.
Adubação e nutrição
Em relação à adubação, o sorgo é uma cultura que responde bem à nutrição adequada. As recomendações de adubações encontram-se na tabela a seguir.
Recomendação de adubação de plantio e de cobertura para o sorgo granífero.
Adubação de semeadura | Adubação de cobertura | ||||
N | P2O5 | K2O | N | K2O | |
Classes de interpretações | Kg ha-1 | Kg ha-1 | |||
Muito bom | 0 | 0 | 0 | 80 | 0 |
Bom | 20-30 | 30 | 30 | 60 | 0 |
Médio | 20-30 | 50 | 60 | 60 | 0 |
Baixa | 30-4- | 80 | 80 | 80 | 50 |
Muito baixa | 30-40 | 120 | 80 | 80 | 80 |
Fonte: Embrapa
Fitossanidade
Um dos principais problemas na cultura do sorgo tem sido o controle de plantas daninhas. Isso se deve ao fato de existirem poucos herbicidas registrados no Ministério da Agricultura para a cultura do sorgo. Apenas o herbicida atrazine possui produtos comerciais registrados para a cultura do sorgo.
O controle de plantas daninhas de folhas estreitas é mais complicado na cultura do sorgo, devido à grande sensibilidade deste aos princípios ativos existentes no mercado. Em relação às doenças, as principais são:
þ Antracnose é a doença foliar mais comum, favorecida por temperaturas entre 22 e 30°C e alta umidade;
þ Helmintosporiose é mais severa onde ocorrem temperaturas amenas e umidade, ou seja, condições típicas nos plantios de safrinha;
þ Ferrugem, sendo favorecida por alta umidade e temperaturas mais amenas e ocorre na fase entre 45 e 90 dias após semeadura;
þ Ergot, sendo favorecido por temperaturas entre 13 e 19°C e umidades entre 76 e 84%.
Dessa forma, além do uso de produtos indicados para a cultura, o emprego de materiais com alguma forma de tolerância ou resistência, é a medida mais barata e eficaz no controle das principais doenças do sorgo granífero.
Na tabela a seguir, estão representados alguns produtos registrados para a cultura do sorgo:
Princípio ativo | Dose (Produto comercial.) | Doenças controladas |
Tebuconazol | 1L/ha | Ergot, ferrugem, helmintosporiose |
Epoxiconazol+Piraclostrobina | 0,75L/ha | Antracnose, helmintosporiose, ferrugem |
Azoxistrobina+ Ciproconazol | 0,3L/ha | Antracnose, helmintosporiose, ferrugem |
Tebuconazol+Trifloxistrobina | 0,6-0,75L/ha | Antracnose, helmintosporiose, ferrugem |
Propiconazol+Trifloxistrobina | 0,6-0,8L/ha | Antracnose, helmintosporiose, ferrugem |
Carbendazim | 0,6L/ha | Antracnose |
Fonte: Embrapa
Em relação às pragas, as mais frequentes na cultura do sorgo, são:
ð Lagarta elasmo: ataca a planta na fase inicial de desenvolvimento, reduzindo o estande da lavoura. A incidência desta praga se dá principalmente em período de estiagem, usualmente de maior ocorrência em plantios de safrinha e em solos mais arenosos;
ð Lagarta-do-cartucho: é, sem dúvida, a praga de maior importância para a cultura do sorgo. Inicialmente, raspam as folhas e deslocam-se para as partes mais protegidas da planta, denominado cartucho;
ð Broca-da-cana: inicialmente raspa a folha e dirige para a face interna da bainha, penetrando no colmo;
ð Pulgão-verde: ocorre durante todo estádio vegetativo, sugando a seiva das folhas e introduzindo toxinas e vírus. Quanto mais cedo iniciar o ataque dos pulgões, maiores serão os prejuízos e maior a queda de produtividade.
Medidas como tratamento de sementes, emprego de controle biológico e de produtos químicos, reduzem o avanço dessas pragas. O produtor deve manter um rigoroso cronograma de monitoramento de pragas e doenças, objetivando entrar com o controle adequado no momento certo. Assim, reduzem as chances de surgimento de resistência e gastos desnecessários com defensivos e maquinários.
Investimento x retorno
Sem sombra de dúvidas, o sorgo é uma cultura que irá ocupar cada vez as áreas de cultivos do Brasil. Para se ter uma ideia, o custo operacional para a cultura de milho transgênico é em torno de R$ 1.606,18. Já no caso do sorgo, esse valor é em torno de R$ 883,60. No entanto, este custo pode variar, principalmente em relação ao custo das sementes do híbrido e com o nível tecnológico adotado.