Autor
Diouneia Lisiane Berlitz
Bióloga, doutora e consultora – DLB Soluções Biológicas
dberlitz@hotmail.com A
As diferentes populações de insetos que ocorrem nos agroecossistemas apresentam grandes desafios na pesquisa de métodos de controle. Com a extensão das monoculturas, essas populações tornaram-se mais expressivas devido à grande disponibilidade de alimento, resultando no aumento populacional e consequentes perdas de produção e impacto econômico aos agricultores. Dentre os insetos-praga agrícolas, encontram-se o grupo das lagartas, que pertencem a diferentes famílias, de acordo com suas características.
As lagartas do gênero Spodoptera formam um complexo de espécies que apresentam alto potencial reprodutivo e rápida expansão de sua população, com a existência de múltiplas gerações sobrepostas e contínuas. Esse gênero é formado por diferentes espécies, cuja principal característica é o hábito desfolhador.
Culturas atacadas
São lagartas polífagas, ou seja, se alimentam de cerca de 80 espécies de plantas, como: milho, sorgo, arroz, aveia, trigo, feijão, soja, algodão, alfafa, amendoim, batata, batata doce, cana-de-açúcar, hortaliças, dentre outras.
Nesse complexo, pode-se citar as espécies S. frugiperda (J. E. Smith, 1797), S. cosmioides (Walker, 1858), S. eridania (Cramer, 1782), S. albula (Walker, 1857), e S. litura (Fabricius, 1775), que podem também ocorrer em plantas recém-germinadas quando lagartas de instares mais avançados cortam as plantas rente ao solo.
O feijão
Na cultura do feijão no Brasil, a safra 2017/18 apresentou produtividade de 981 kg/ha, de acordo com dados da CONAB, sendo que, na safra atual, houve uma diminuição de 8,8% devido à competitividade com áreas de soja e milho.
Em relação à Spodotera, no feijão a principal ocorrência é de S. frugiperda, denominada lagarta-cortadeira-do-feijoeiro, cujos danos são o corte de plantas recém-emergidas, além de perfurarem ou destruírem os cotilédones da planta, atacando também as folhas. Esses danos podem ser confundidos com os da lagarta-rosca, uma vez que são semelhantes.
S. frugiperda constitui-se em uma das espécies mais nocivas para as culturas anuais nas regiões tropicais.
De olhos abertos
O correto e contínuo monitoramento das lavouras é recomendado como uma prática eficiente e lucrativa para o controle não somente de Spodoptera, mas de outras pragas e doenças. No caso do feijoeiro, o monitoramento de S. frugiperda pode ser realizado avaliando o número de plantas mortas ou em dois metros de linha, além da avaliação das folhas e dos cotilédones, sendo necessário o controle com duas plantas danificadas ou mortas.
Essas práticas possibilitam que o agricultor realize o controle das pragas no momento correto, excluindo-se aplicações desnecessárias de inseticidas com seu uso racional e econômico, uma vez que aplicações preventivas não resultam em grandes benefícios, podendo causar aumento nos custos de produção.
Além disso, a utilização de inseticidas de baixo impacto e seletivos é recomendada, contribuindo para reduzir os riscos de resistência do inseto às moléculas químicas e para a conservação de inimigos naturais dessas lagartas.
Estratégias eficientes
O monitoramento de lavouras de forma correta e a aplicação de insumos e produtos fitossanitários foi avaliado em feijão, em Goiás, representando economia de 78 e 89% no custo de controle.
Outras estratégias de controle podem ser utilizadas, como o controle biológico de lagartas, que para Spodoptera pode-se utilizar a bactéria Bacillus thuringiensis, que apresenta atividade entomopatogênica aos insetos devido à produção de cristais proteicos que, quando ingeridos pelas lagartas, ocasionam uma ruptura das células intestinais, levando o inseto à morte.
Além desta bactéria, podem ser utilizados parasitoides de lagartas, como por exemplo Campoletis flavicincta (Ashmead) (Hymenoptera: Ichneumonidae), ou ainda cultivares de feijoeiro mais resistentes ao ataque das lagartas.