Carlos Gilberto Raetano
Professor adjunto do Departamento de Proteção Vegetal da FCA/UNESP ” Campus de Botucatu (SP)
Os adjuvantes são substâncias que, adicionadas durante o processo de formulação do produto fitossanitário (fabricação) ou no preparo da calda (produto formulado + adjuvante, com ou sem veículo diluente), facilita a aplicação, reduz perdas e riscos durante o processo, e/ou melhora o desempenho do agente químico de controle.
Comumente são denominados de surfactantes, no entanto, esses últimos constituem um grupo especial de adjuvantes com a função de reduzir a tensão superficial da calda de pulverização.
O que é
A palavra surfactante tem origem na expressão surface-acting agent (agente ativo de superfície) e denominada surfactante na lÃngua portuguesa. Quando adicionados à calda, diminuem a força de atração entre as moléculas do líquido, em especial da água, possibilitando, assim, maior contato das gotas de pulverização com a superfície vegetal.
A propriedade dos surfactantes de reduzir a tensão superficial de líquidos promove os efeitos espalhante, molhante ou umectante, espalhante-adesivo, penetrante e dispersante. No geral, são nomenclaturas distintas encontradas no rótulo dos produtos, mas geralmente consequência de uma propriedade semelhante, o que impossibilita, muitas vezes, isolar esses efeitos.
Mitos e verdades
Muitos questionamentos são feitos a respeito da necessidade do uso dos surfactantes nas pulverizações. A resposta é dependente da interação líquido-superfície vegetal. A tendência de redução das taxas de aplicação com tecnologias mais modernas exige melhor desempenho de um produto fitossanitário, em especial aqueles com modo de ação de contato, para o controle eficiente de um agente biológico com pequena mobilidade sobre a superfície vegetal.
Portanto, a adição dos surfactantes à calda pode favorecer o maior espalhamento do produto e o molhamento da superfície. Quando as taxas de aplicação excedem a capacidade máxima de retenção foliar, observado na prática pelo escorrimento, a adição dessas substâncias à calda pode contribuir para a perda do produto fitossanitário por antecipar o escorrimento.
A presença de ceras e tricomas (pilosidade) nas superfícies de muitos vegetais constitui barreira natural às gotas da pulverização, impedindo-as de entrar em contato com o tecido vegetal para desempenhar sua função. Nesse caso, o uso de surfactantes proporcionará redução da tensão superficial da calda, permitindo, assim, maior contato entre líquido e superfície.
Não obrigatoriamente, a adição desses produtos à calda de pulverização se traduz em ganhos de produtividade, pois isso é dependente do potencial genético da planta e pode se expressar diferentemente em função da condição ambiente. Porém, há inúmeros trabalhos demonstrando a redução das perdas na produtividade quando os surfactantes são usados em pulverização.
Cientificamente falando
Os surfactantes possuem em sua estrutura química duas regiões claramente definidas, uma porção lipofÃlica (não-polar), que corresponde à cadeia de hidrocarbonetos, e outra hidrofÃlica (polar), composta por uma cadeia de grupos oxietileno (CH2-CH2-O), que tem afinidade com a água.
A capacidade de molhamento e o espalhamento estão intimamente relacionados com a quantidade das porções hidrofÃlicas e lipofÃlicas no produto. Eles podem ser divididos em dois grupos: iônicos, não-iônicos e anfotéricos. Os iônicos dissociam-se, podendo ser aniônicos ou catiônicos e reagir com as moléculas do produto fitossanitário.
Já os surfactantes não-iônicos não tendem a alterar o equilíbrio de cargas elétricas nas formulações e nas caldas, pois não apresentam cargas em solução aquosa. Pelo fato de não interagirem com outros compostos químicos e com outros elementos em suspensão, apresentam baixa toxicidade e fitotoxicidade. Já os anfotéricos podem ionizar parte de sua molécula com carga positiva e parte com carga negativa.