Regina Maria Quintão Lana
Doutora em Agronomia, cofundadora e diretora da Agro R Consultoria
Treinamento e Pesquisa
Neuton Ribeiro Neto
Cofundador e diretor da Agro R
Consultoria, Treinamento e Pesquisa
Murilo Carvalho
Engenheiro agrônomo e consultor técnico – Agro R Consultoria, Treinamento e Pesquisa
Ácidos orgânicos ricos em carbono
Ácidos orgânicos ricos em carbono são compostos caracterizados por grupos funcionais contendo carbono, como carboxilas (-COOH) e ácidos fenólicos, que desempenham papéis cruciais em processos biológicos, físicos e químicos. Entre os principais exemplos estão os ácidos húmicos, fúlvicos e huminas, derivados da decomposição de matéria orgânica, leonardita, turfa e outros. As substâncias húmicas possuem estruturas complexas e variadas, ricas em carbono, hidrogênio e oxigênio.
A aplicação desses ácidos tem sido amplamente estudada na agricultura como uma prática para restaurar a fertilidade de solos degradados, aumentar a produtividade agrícola, controlar pragas e doenças, incluindo nematoides, e mitigar os impactos de estresses ambientais nas culturas, como salinidade e seca.
Como funciona?
A tecnologia de microcarbono apresenta benefícios sobre os atributos físicos, químicos e biológicos que desempenham funções essenciais na agricultura. No aspecto físico, esses materiais possuem alta capacidade de interação e retenção de água, devido à sua estrutura molecular complexa e superfície específica altamente reativa.
Quimicamente, contêm grupos funcionais, como carboxílicos e fenólicos, que facilitam o transporte e a disponibilização de nutrientes no solo. Esses ácidos são particularmente eficazes na redução da fixação de fósforo e na quelatação de micronutrientes, como ferro, zinco, cobre e manganês, de forma que poderiam ficar indisponíveis às plantas devido à fixação em formas insolúveis. Essa característica é especialmente relevante em solos onde a biodisponibilidade de P e micronutrientes é limitada.
Biologicamente, essas substâncias estimulam a proliferação de microrganismos benéficos, fornecendo substratos que favorecem processos como a decomposição de matéria orgânica e a síntese de compostos que promovem o desenvolvimento das plantas. Essas propriedades integradas tornam essa tecnologia uma aliada estratégica para melhorar a saúde do solo e enfrentar os desafios de produtividade e sustentabilidade agrícola.
Entenda o processo
Os ácidos húmicos e fúlvicos são frações distintas das substâncias húmicas, que possuem a capacidade de melhorar a estrutura do solo, aumentar a capacidade de troca catiônica (CTC), complexar íons de hidrogênio (H+) e alumínio (Al³+), tornando os nutrientes mais disponíveis para as plantas e promovendo a solubilização de micronutrientes essenciais.
Os ácidos orgânicos diferenciam-se por sua composição molecular, peso molecular e comportamento químico. Os ácidos húmicos possuem cadeias moleculares mais complexas e elevado peso molecular, sendo insolúveis em pH ácido, o que lhes confere maior estabilidade e papel predominante na formação de agregados no solo.
Em contrapartida, os ácidos fúlvicos apresentam menor peso molecular, maior proporção de grupos funcionais oxigenados, como carboxilas e hidroxilas, e solubilidade em todas as faixas de pH, facilitando a quelação e o transporte de micronutrientes para as plantas. Essa diferenciação funcional é amplamente reconhecida por permitir que os ácidos húmicos atuem na melhoria da estrutura do solo, enquanto os fúlvicos influenciam diretamente os processos fisiológicos e metabólicos vegetais.
Atuação no solo
Os ácidos orgânicos também exercem um papel importante na promoção da atividade microbiana no solo. Por fornecerem uma fonte de carbono facilmente assimilável, eles estimulam a biodiversidade e a proliferação de microrganismos benéficos, como bactérias e fungos, essenciais para a decomposição da matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes. Esse aumento na atividade microbiana cria um ambiente mais saudável e produtivo para as plantas, favorecendo sua nutrição e crescimento.
Esses compostos ainda atuam diretamente no metabolismo das plantas, estimulando a produção de enzimas e hormônios vegetais, como a auxina, que é essencial para o crescimento radicular e a formação de raízes laterais. Estudos recentes também indicam que os ácidos húmicos e fúlvicos potencializam processos bioquímicos, como o aumento na respiração celular e na síntese de ATP, fundamentais para o metabolismo energético das plantas.
Como resultado, eles melhoram a capacidade das plantas de assimilar nutrientes, promover a fotossíntese e aumentar a produção de carboidratos, impactando positivamente o rendimento e a qualidade das culturas. Além disso, essas substâncias têm um impacto positivo na germinação de sementes e na produtividade de culturas, demonstrando seu potencial como complemento em sistemas agrícolas sustentáveis.
Mitigação de ações externas
Além de seus benefícios diretos para o solo e as plantas, esses ácidos orgânicos ajudam a mitigar os efeitos negativos de práticas agrícolas intensivas, como o uso excessivo de fertilizantes químicos e pesticidas. Sua aplicação pode restaurar a saúde do solo, promovendo a formação de húmus e a recuperação da capacidade de retenção de nutrientes e água. Isso torna o manejo agrícola mais sustentável e menos dependente de insumos químicos, representando uma alternativa promissora para sistemas de produção mais resilientes e eficientes.
Agricultura regenerativa e sustentável
As substâncias húmicas têm sido amplamente reconhecidas na agricultura moderna como ferramenta, agregando alto valor na agricultura regenerativa e sustentável, proteção à lavoura de resíduos tóxicos, gestão no crescimento da planta e fornecimento de nutrientes ultra eficientes. Essa tecnologia reduz a necessidade de fertilizantes químicos e melhora a resiliência das plantas frente a estresses bióticos e abióticos, como estresses químico, hídrico e térmico.
Essas características são especialmente relevantes diante das mudanças climáticas e da necessidade de adaptar os sistemas agrícolas a condições mais extremas e imprevisíveis. Aplicações práticas desses compostos de microcarbono formulado com nutrientes têm demonstrado benefícios em aumentar a produtividade e reduzir a necessidade de fertilizantes químicos. Essas evidências reforçam o papel fundamental dos ácidos húmicos e fúlvicos em uma agricultura mais eficiente, sustentável e ambientalmente equilibrada.
Esses produtos podem ser aplicados tanto via solo quanto foliar em todas as fases do ciclo das plantas, o que proporciona flexibilidade ao agricultor, e são frequentemente combinados com reguladores de crescimento, pesticidas e nutrientes líquidos para potencializar seus efeitos. A dosagem recomendada varia entre 1,0 a 4,0 L/ha, dependendo da cultura, das condições específicas e do produto adquirido.