A humanidade enfrenta uma tríplice crise global provocada por suas próprias ações, que ameaçam diretamente todas as formas de vida na Terra, segundo a ONU: são as crises climática, de poluição e a da perda da biodiversidade, sendo essa última tão ou mais crítica do que as duas primeiras, mas ainda pouco discutida.
Para ajudar a mudar essa realidade, o Alana se uniu à Xprize Foundation e criou o prêmio XPRIZE Rainforest | Florestas Tropicais, que incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias feitas para acelerar e melhorar o mapeamento e conhecimento da biodiversidade nas florestas tropicais.
Especialistas dizem que a data limite do ponto de não retorno da floresta Amazônica está prevista para o fim desta década e, paralelamente, dados do projeto Synergize, que mapeia pesquisas na área, apontam que mais de 1/3 da região não foi sequer estudada. Isso mostra que corremos o risco de perder informações sobre a fauna e a flora da região que sequer chegamos a conhecer.
Exemplos reais
Esse tema foi abordado durante o “Diálogos Amazônicos”, evento que integra a programação da “Cúpula da Amazônia” e tem a participação de organizações da sociedade civil, academia, centros de pesquisa e agências governamentais.
O tema, conversado em um dos painéis que aconteceram no evento, trouxe exemplos de comunidades indígenas situadas em áreas de floresta que contam com o uso de tecnologias para proteger essas regiões.
Um dos casos trazidos foi o dos territórios indígenas “Raposa Serra do Sol” e “Serra da Lua”, localizados ao norte de Roraima. Desde 2015 eles têm a ajuda do aplicativo “Alerta Clima Indígena”, desenvolvido com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, que monitora, com a ajuda de drones, os impactos das chuvas, desmatamentos, garimpos e queimadas.
“Antes era preciso verificar presencialmente essas áreas, um processo demorado pela imensidão das terras e que expunha as pessoas a riscos e conflitos com os invasores. Por isso é fundamental termos acesso às tecnologias, em especial aquelas específicas para as florestas, pois as informações coletadas são necessárias para a proteção dos territórios, dos povos indígenas, tradicionais e quilombolas, além de essenciais para contribuirmos com as políticas públicas locais”, explica Sinéia Wapichana, líder indígena da etnia wapichana.
A ativista Atossa Soltani, fundadora da Amazon Watch, organização que atua na proteção das florestas tropicais e promoção dos direitos dos povos indígenas na Bacia Amazônica, defende que a humanidade atravessa o momento mais crítico da história e que é preciso considerar todas as soluções possíveis, principalmente aquelas cujas tecnologias contemplem os conhecimentos tradicionais, para tentar reverter a possibilidade de extinção das florestas tropicais.
“Os povos originários são guardiões de quase 80% da biodiversidade terrestre e responsáveis por conservar 60% de todos os bosques primários conhecidos. Ao longo da vida, um indígena adulto pode identificar quase 400 tipos de plantas e árvores, enquanto um xamã pode conhecer mais de 1300 tipos. É urgente reconhecermos que os povos indígenas são cientistas que entendem sobre os ciclos da natureza, dos animais, conhecem as plantas medicinais e sabem o que significam os tempos de migração das espécies. Esse conhecimento, que está sendo perdido, precisa ser incorporado nessas tecnologias e unido aos esforços que já fazemos para manter as florestas”, diz
Foco
Mapear, conhecer e proteger as florestas tropicais, incluindo a Amazônia, é o objetivo das seis equipes finalistas do XPRIZE Rainforest | Florestas Tropicais — Brazilian Team de Piracicaba (SP), ETH BiodivX da Suíça, Providence Plus da Espanha e Map of Life, Team Waponi! e Welcome to the jango, as três dos Estados Unidos —, que voltam a campo em junho de 2024 para testar, pela última vez, suas novas tecnologias que incluem iniciativas como sequenciamento de material genético ambiental, drones com sensores bioacústicos, uso de robótica terrestre, inteligência artificial e ciência cidadã.
“O prêmio propõe criar tecnologias para monitorar estrategicamente as florestas tropicais, ambientes extremamente desafiadores por sua densidade e umidade, para que tenhamos de forma rápida dados massivos para conhecermos não só a floresta brasileira, mas também outras florestas tropicais existentes em nove países na América Latina, África e Ásia”, diz Pedro Hartung, Diretor de Políticas e Direitos da Infância do Alana.
Na última etapa da competição, as equipes formadas por 40 profissionais e pesquisadores de diversas áreas de conhecimento, devem pesquisar 100 hectares de floresta tropical em 24 horas e relatar as descobertas mais importantes em até 48 horas. “Os dados descobertos serão importantes para desenvolver a economia da sociobiodiversidade a partir da criação de novos produtos e melhora na qualidade de vida das pessoas que vivem nessas regiões”, explica Hartung.
Sobre o XPrize Rainforest
O XPrize Rainforest é uma competição de cinco anos que revelará o verdadeiro potencial da floresta viva, acelerando o desenvolvimento de uma nova Bioeconomia, justa e sustentável.
Entre os seus conselheiros estão nomes como o ator Harrison Ford e o cientista brasileiro Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências. O prêmio estimula as equipes a desenvolverem tecnologias autônomas para a avaliação da biodiversidade com o intuito de melhorar a compreensão dos ecossistemas da floresta tropical, usando a rápida integração de dados para fornecer novos conhecimentos sobre a floresta.
As competições do XPrize são uma forma eficiente de aproveitar o investimento filantrópico para impacto e trazem um retorno exponencial, pois é esperado que cada dólar investido seja potencializado de 10 a 50 vezes, já que são geradas diversas pesquisas e desenvolvimentos em torno do tema.