Leandro Luiz Marcuzzo
Doutor em Agronomia e professor – Instituto Federal Catarinense – IFC/Campus Rio do Sul
leandro.marcuzzo@ifc.edu.br
Diversas doenças incidem sobre as aliáceas, mas a mancha púrpura causada por Alternaria porri (Ellis) Cif. é a mais abrangente nessa família e comumente encontrada em todas as regiões produtoras de alho, alho-elefante, alho-poró, cebola e cebolinha-verde, com mais intensidade em condições de temperatura elevada e alta umidade.
Estragos
A doença promove a destruição da parte aérea da cultura e, como consequência, a redução da produtividade. Inicialmente, as lesões da doença são pequenas, irregulares e elípticas.
O centro esbranquiçado pode ser confundido com sintomas abióticos ou de fitotoxidade, o que também pode ocorrer quando a umidade relativa está abaixo de 70%. Com a expansão da lesão e sob influência da alta umidade relativa, ocorre a formação de um halo concêntrico de tonalidade púrpura, com a produção de esporos escuros na parte central.
Com a necrose do tecido, ocorre uma linha necrótica que acompanha as nervuras da folha. A ocorrência de várias lesões provoca o secamento da folha, que compromete a produção dos bulbos, ou que ficam com pequeno diâmetro.
O sintoma em bulbo de alho é pouco evidente em relação à cebola.
Pesquisas
O conhecimento da biologia do patógeno é de grande importância para compreender o desenvolvimento da doença no campo, bem como para tomar medidas de manejo da doença.
A pesquisa foi realizada no Laboratório de Microbiologia e Fitopatologia do Instituto Federal Catarinense/Campus Rio do Sul junto com a aluna Evelyn Kamphorst, do curso de agronomia, com o objetivo de avaliar in vitro a influência da temperatura e do fotoperíodo no crescimento micelial de A. porri.
O isolado de A. porri obtido de planta de alho-poró com sintoma da doença em lavoura foi multiplicado em placas de Petri contendo meio de cultura de BDA (batata-dextrose-ágar), por meio da coleta de conídios sobre o tecido lesionado.
Discos de micélio com 9,0 mm de diâmetro foram removidos dessas placas e inoculados no centro de placas de Petri com 8,0 cm de diâmetro contendo meio de cultura BDA e incubados em câmera de germinação do tipo B.O.D. (Demanda Biológica de Oxigênio) a uma temperatura de 25°C e fotoperíodo de 12 horas durante sete dias, para crescimento do micélio e obtenção do inóculo.
Após isso, discos de micélio foram transferidos para placas de Petri contendo meio de cultura BDA e incubados nas temperaturas de 10, 20, 30 e 40°C (±1°C) e fotoperíodo de 12 horas luz.
A cada dois dias foi feita a medição do crescimento micelial em duas linhas diagonais opostas com uma régua. No décimo dia, o micélio atingiu a proximidade das bordas das placas de Petri e finalizou-se as avaliações.
A partir da obtenção da temperatura ótima (24°C) de desenvolvimento, repetiu-se o ensaio seguindo a mesma metodologia da temperatura, incubando nos fotoperíodos de 0, 6, 12 e 24 horas de luz.
Para o fotoperíodo em função da temperatura ótima, o micélio atingiu a proximidade das bordas das placas de Petri ao oitavo dia e finalizou-se as avaliações.
Conclusão
Verificou-se que a temperatura influenciou o crescimento micelial, tendo apresentado melhor desenvolvimento entre 20 e 30°C (Figura 1A). Utilizando a equação gerada pela curva (y = -0,0263x² + 1,2595x – 8,425, R² = 0,998), obteve-se a temperatura ótima de 24°C para o crescimento micelial.
Menor valor (1,5 cm) de crescimento micelial foi obtido com 10ºC e, pela equação (Figura 1A), teria o limite de 9°C, não se desenvolvendo abaixo disso. Na temperatura de 40°C não houve crescimento, mas pela equação, o limite seria de 39ºC.
Portanto, o limite de desenvolvimento micelial fica dentro da faixa (±1°C) avaliada (10° – 40°). Resultado da temperatura está próximo do ideal de 22°C para germinação dos conídios, também verificado por Marcuzzo (2021).
Esses resultados in vitro confirmam os obtidos com o presente trabalho in vivo, no qual a doença necessita de temperatura elevada para seu desenvolvimento na planta. O próprio autor tem verificado nos experimentos de campo em que a doença não se desenvolve por causa da baixa temperatura durante o ciclo da cultura do alho nas condições do sul do Brasil.
Crescimento micelial
Em relação ao crescimento micelial em diferentes fotoperíodos, ajustou-se melhor a uma polinomial (R² = 0,8422) e através da equação y = -0,0005x² + 0,007x + 6,6436).
Verificou-se que o fotoperíodo mais favorável ao desenvolvimento foi de zero horas de luz, com um crescimento micelial final de 6,6 cm, quando comparado a 24 horas de luz, que obteve um crescimento final de 6,2 cm.
Porém, foi pouco expressiva a diferença (0,5 cm) do fotoperíodo ao se comparar a temperatura. Mediante isso, é possível que A. porri tenha seu crescimento favorecido por menores períodos de luz.
Assim, em dias de inverno, as poucas horas de luminosidade durante o ciclo da cultura no sul do Brasil acabam favorecendo o desenvolvimento da doença, mas são limitantes, por causa da temperatura.
Marcuzzo (2021) também não encontrou diferenças em relação ao fotoperíodo quando avaliou a germinação de conídios de A. porri.
O que se viu
Conclui-se que o melhor crescimento micelial foi obtido em temperaturas de 20 a 30°C, sendo a temperatura ótima de 24°C e menores períodos de luz.
As informações obtidas em relação à temperatura e ao fotoperíodo no crescimento micelial de A. porri permitem um maior conhecimento da biologia do agente causal da mancha púrpura da aliáceas, auxiliando no entendimento da epidemiologia e suporte para manejo da doença no campo.