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Mixes de plantas de cobertura para agricultura regenerativa

Os mixes de plantas de cobertura são a receita perfeita para a agricultura regenerativa, promovendo saúde do solo, biodiversidade e sustentabilidade.

Emerson Trogello
Doutor em Fitotecnia e professor – IF Goiano Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br

Geovana Almeida Carmo
Engenheira agrônoma e pós-graduanda em Olericultura – IF Goiano Morrinhos
geovanaalmeidacarmo@hotmail.com

O uso de plantas de cobertura é um dos pilares do sistema de plantio direto. São elas que garantem a cobertura do solo e outros inúmeros benefícios.

Foto: Shutterstock

Muitos estudos procuram determinar quais devem ser as espécies utilizadas antes do plantio de cada cultura comercial e quais são capazes de atender as necessidades daquele cultivo.

Surgiu, então, o uso de mixes de plantas de cobertura, onde são misturadas sementes de leguminosas, capins e outras gramíneas com o objetivo de melhorar a qualidade da matéria orgânica, durabilidade da palhada, aporte de nutrientes e disponibilização destes para as culturas subsequentes.

De acordo com o cenário podemos elaborar um tipo de mix de coberturas ideal, capaz de atender as principais necessidades da cultura de “importância econômica” e que também beneficie o sistema como um todo.

Antecedendo a cultura da soja, pode ser utilizado um mix de plantas que produzam maior quantidade de biomassa, enquanto que antecedendo o plantio do milho podemos introduzir um mix com leguminosas para atender em partes a necessidade do milho por nitrogênio.

Características dos mixes

Devemos observar que esse mix antes do milho deve ter uma relação carbono/nitrogênio (C/N) mediana para que o nitrogênio não fique imobilizado por microrganismos.

Os mixes, por apresentarem uma diversidade de sistemas radiculares, torna o solo poroso e aerado. Adiciona-se a palhada sobre o solo, que reduz a temperatura do solo, tornando o ambiente propício para a maior absorção e retenção de água, bem como para a menor evaporação do sistema.

Assim, conseguimos impactar o ciclo hidrológico, fazendo com que a água permaneça da “porteira para dentro” por um maior período de tempo. Em safras como a que estamos vivenciando (2023/24), onde as precipitações, principalmente no Cerrado, podem e estão sendo escassas e com alta variabilidade, este impacto no ciclo hidrológico faz toda a diferença em como as culturas irão “passar” por estes períodos de estresse hídrico.

Sustentabilidade

No uso de apenas uma espécie de cobertura, sobram recursos para serem explorados, enquanto que no mix, cada tipo de planta explora o solo de uma forma, podendo ocorrer entre leguminosas e outras espécies um fenômeno chamado simbiose tripartite.

Nesse fenômeno, os fungos micorrízicos arbusculares colonizam as raízes das plantas presentes, formando uma malha de hifas e conduzindo o nitrogênio excedente nas leguminosas para o sistema radicular das demais espécies.

O mix reduz, ainda, a necessidade de adição de nutrientes de fonte química, por fornecer um maior aporte de nutrientes durante sua decomposição, como também preserva a umidade do solo. Assim, há condições ideais para que os nutrientes passem para a solução do solo e possam se adsorvidos no sistema radicular da cultura sucessora.

Os dois lados da moeda

O mix pode conter misturas de leguminosas e gramíneas e assim o sistema se beneficiar das vantagens oferecidas pelos dois tipos de cobertura. Mas, atenção, o uso apenas de leguminosas ou apenas de gramíneas tem seu lado negativo.

As leguminosas são capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e disponibiliza-lo para a cultura sucessora, porém, gera uma palhada com baixa relação C/N que resulta em rápida decomposição e lixiviação do nitrogênio.

O uso de plantas de cobertura é um dos pilares do sistema de plantio direto

As gramíneas apresentam alta relação C/N e se decompõem lentamente. Porém, seu conteúdo de nitrogênio é baixo e esse acaba sendo consumido pelos microrganismos decompositores presentes no solo.

Vantagens dos mixes

Com o uso dos mixes (leguminosas + gramíneas), a cobertura do solo dura mais tempo, ocorre o incremento na produção de biomassa e disponibilidade de nitrogênio para a próxima cultura.

Em comparação ao cultivo solteiro, haverá menor necessidade de uso de fontes químicas de nitrogênio, as emissões de carbono serão reduzidas e a participação do C no perfil do solo aumentará.

Os agregados também obtêm maior estabilidade. A ação desses sistemas radiculares atinge maior área e profundidade, observando-se, também, a quebra de compactação nas camadas mais profundas.

O que ocorre é um sinergismo entre as características funcionais de cada espécie participante, possibilitando que em um único cultivo haja diversos benefícios proporcionados pela multifuncionalidade do mix.

Os benefícios comtemplam a parte nutricional, física, química e a boa sanidade, além de regenerar o sistema e recuperar o que foi exaurido e/ou exportado para fora do sistema por meio da colheita de grãos ou frutos de interesse econômico. 

Opções

Na escolha das forrageiras que compõem o mix, algumas características são observadas: capacidade de ciclar nutrientes, produzir cobertura persistente, rusticidade, produção abundante de biomassa verde e matéria seca, ciclo curto, baixo custo de implantação e redução de inóculo de doenças.

A relação C/N mediana visa a rápida liberação de nutrientes, com capacidade de acumular altos teores de macronutrientes (nitrogênio, fosforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre) e de desenvolver um sistema radicular profundo capaz de buscar nutrientes no subsolo.

Um sistema radicular que abranja uma área maior também é uma vantagem que pode ser encontrada em algumas forrageiras (principalmente nas de raiz fasciculada).

Entraves

Podemos ter algumas dificuldades na implantação dos mixes de cobertura, principalmente na proporcionalidade das sementes de cada espécie. Quando interagimos diferentes espécies em mesma área, podemos ter competições entre os indivíduos, podendo ora uma espécie se sobressair no ambiente, ora outra.

Assim, é extremamente importante ir “adaptando” o uso dos mixes para cada realidade de produtor e de ambiente. Ainda, tem-se, por vezes, a dificuldade operacional relacionada ao semeio de sementes de diferentes espécies e, consequentemente, de diferentes formatos e densidades.

Foto: Shutterstock

Por vezes, observa-se uma desuniformidade gerada no ato da semeadura. Ainda como dificuldades, podemos relatar o manejo de daninhas na área após a implantação do cultivo de cobertura, deixando o produtor sem opções de manejo químico em muitos casos.

Mais uma vez, entra aí o manejo cultural, priorizando a proporcionalidade das espécies e o bom e rápido cobrimento do solo. Ainda, é extremamente importante observar a cultura a ser posicionada após a implantação dos mixes, visando que as espécies posicionadas não sejam de difícil controle para a safra subsequente.

Na balança

Somando-se os benefícios e as dificuldades, a observação final é que seja feito o uso dos mixes de cobertura. Caso não seja possível, inicialmente, implantar um mix com alta complexidade, que pelo menos se adote uma espécie de cobertura, para assim iniciar os benefícios do sistema.

À medida que vamos evoluindo em conhecimento, o produtor pode ampliar o leque de utilização de espécies e, consequentemente, de efeitos benéficos do uso de plantas de cobertura nos sistemas produtivos. A recomendação é “ser melhor, antes de ficar maior”.

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