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Tomate italiano x doenças foliares

A cultura do tomateiro é suscetível a muitas doenças foliares e esse é um embate difícil.

Ana Luisa Rodrigues Silva
aninhamj97@gmail.com

Patrick Lopes Gualberto Agrônomo
patrick.gualberto1@estudante.ufla.br
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Entomologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Fabrício Teixeira de Lima Gomes
Engenheiro agrônomo e mestrando em Ciência do Solo – UFLA
agro.fabriciogomes@gmail.com

O tomateiro pertence à família Solanaceae, sendo a segunda hortaliça mais cultivada no mundo, depois da batata. Em 2021, a produção mundial foi de aproximadamente 189 milhões de toneladas de frutos produzidos em uma área de 5,2 milhões de hectares.

O Brasil ocupa a 9ª posição no ranking mundial, com uma produção de 3,6 milhões de toneladas em uma área de 52 mil hectares, apresentando um rendimento médio de 70.880 kg ha-1 (FAOSTAT 2023).

Tomate italiano

O saladete é comercializado tanto para consumo in natura quanto para indústria

O tomate híbrido tipo italiano, também chamado saladete, apresenta dupla aptidão, podendo ser comercializado tanto para consumo in natura quanto para indústria. Os seus frutos são alongados, de coloração vermelha intensa, firmes e se destaca pelo sabor, pela polpa espessa, menor acidez e alta produtividade.

Principais doenças foliares

A cultura do tomateiro é suscetível a um grande número de doenças foliares, causadas por fungos, bactérias e vírus. Essas doenças reduzem a área fotossintética e prejudicam a produção de fotoassimilados destinados ao desenvolvimento da planta e enchimento dos frutos.

Portanto, devem ser bem manejadas para que a produtividade não seja comprometida e sejam obtidos frutos atraentes aos consumidores. Confira a seguir as principais doenças foliares que acometem a cultura, seus agentes causadores e principais sintomas:

Doenças causadas por fungos:

Pinta-preta (Alternaria solani): os sintomas se iniciam em folhas mais velhas, sendo lesões irregulares e escuras, que se expandem com o desenvolvimento da doença. Eventualmente, desenvolvem-se anéis pretos concêntricos, semelhantes a um alvo de tiro. A desfolha completa das plantas pode ocorrer em condições favoráveis à doença. Sintomas também podem ocorrer em hastes e frutos.

Requeima (Phytophthora infestans): causa, inicialmente, a dobra dos pecíolos das folhas. Lesões foliares são grandes, irregulares e com aparência de encharcamento, começando nas folhas jovens. Com o desenvolvimento da doença, as lesões crescem e adquirem tom amarronzado e aspecto seco. Lesões escuras podem ocorrer no caule e manchas amarronzadas nos frutos. A doença ocorre em temperaturas amenas, próximas aos 20ºC.

Mancha-de-estenfílio (Stemphylium solani e S. lycopersici): ocorrem lesões nas folhas jovens, sendo irregulares, pequenas e de coloração cinza a amarronzada. Podem ocorrer orifícios no centro das lesões mais antigas, devido ao secamento. As lesões podem, inclusive, se unir, deixando as folhas com aspecto de queima e suscetíveis à queda. Não afeta os frutos nem as hastes.

Septoriose (Septoria lycopersici): sintomas ocorrem primeiramente nas folhas velhas e consistem de manchas arredondadas, com coloração marrom escura nas bordas, mas acinzentada no centro. O centro da lesão pode apresentar pequenas pontuações negras, e as lesões podem coalescer, secando a folha. Lesões alongadas ocorrem no caule, pedúnculo e cálice, mas os frutos são dificilmente afetados.

Oídio (Oidiopsis sicula): sintomas são observados exclusivamente nas folhas mais velhas. Na face superior da folha, ocorrem lesões cloróticas e o tecido pode ou não ficar coberto por uma pulverulência branca, ocorrendo nas folhas superiores. Folhas podem secar, mas não se desprendem. Ocorre principalmente em cultivo protegido e os frutos não são infectados.

Doenças causadas por bactérias:

Mancha-bacteriana (várias espécies do gênero Xanthomonas): causa manchas necróticas, circulares e com aspecto encharcado, concentradas nas bordas das folhas. Caule, pecíolo e pedúnculo também ficam manchados, enquanto nos frutos ocorrem lesões inicialmente brancas, que se tornam marrons.

Pinta-bacteriana (Pseudomonas syringae pv. tomato): lesões foliares necróticas, frequentemente circundadas por halo amarelado e podendo apresentar aparência gordurosa. Também afeta caules, pecíolos, flores e frutos. A doença é favorecida por temperaturas mais amenas, entre 13 e 25ºC.

Cancro-bacteriano (Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis): folhas mais velhas murcham e secam e ocorre a queda dos frutos, que apresentam lesões esbranquiçadas de centro escuro, popularmente chamadas de “olho de perdiz”. O pedúnculo também é afetado, apresentando lesões amarronzadas.

Doenças causadas por vírus:

Vira-cabeça-do-tomateiro (causada por vários Tospovírus): folhas ficam arroxeadas e as plantas pequenas, se forem infectadas jovens. O broto superior se deforma, virando-se para o lado e apresentando pontuações necróticas. Frutos ficam deformados e com manchas amarronzadas, comumente ocorrendo anéis claros. Doença transmitida pelo tripes.

Foto: Arquivo

Mosaico dourado (causada por vários Geminivírus): sintomas variam com o vírus, mas comumente ocorre amarelecimento intenso das folhas jovens, podendo ficar deformadas em formato de colher. Doença transmitida pela mosca-branca.

Resistência às doenças foliares

A folha é o órgão da planta onde são produzidos os fotoassimiliados e que posteriormente são enviados para os frutos e demais partes da planta. Desse modo, é necessário que as folhas estejam em boas condições para que a planta consiga produzir seus metabólitos e garantir seu crescimento e desenvolvimento adequado, o que reflete nos parâmetros de qualidade dos frutos produzidos.

Doenças foliares podem reduzir a área foliar ou até mesmo causar desfolhas, o que reduz a taxa de fotossíntese, principal fonte de energia das plantas, refletindo diretamente no crescimento e desenvolvimento da planta e do fruto.

Nesse sentido, a utilização da resistência genética nas cultivares de tomateiro permite minimizar a incidência de doenças na cultura, além de reduzir a aplicação de agrotóxicos, aumentando a produtividade, a qualidade dos frutos e diminuindo o custo de produção.

Ao escolher uma variedade a ser produzida, o produtor deve verificar com os fornecedores de sementes as características das variedades que estão sendo comercializadas.

As empresas divulgam em seus portfólios as características de cada cultivar de tomateiro a ser comercializada, assim, basta analisar aquelas que apresentam resistência a doenças foliares e que melhor atendem as necessidades e exigência do mercado.

Alternativas

A medida de manejo adotada para prevenir doenças dependerá do agente causador das mesmas. Em geral, as doenças fúngicas tratadas acima são favorecidas por altas temperaturas e umidade, condições necessárias à germinação do patógeno.

Portanto, o cuidado deve ser redobrado em verões chuvosos e cultivos em casa-de-vegetação. No campo, evitar cultivar em áreas muito úmidas ou próximas a cultivos antigos de tomate.

As doenças bacterianas mencionadas também são favorecidas por altas umidades, sendo facilmente dispersas pelo respingo de gotículas provenientes do sistema de irrigação por aspersão.

Como método de prevenção, é interessante priorizar a irrigação por sulco ou por gotejamento. Também são transmitidas por sementes infectadas, por isso, deve-se utilizar sementes com qualidade sanitária certificada.

Já as doenças viróticas necessitam de vetores para se dispersar. São, portanto, favorecidas por condições climáticas que beneficiam estes vetores, sendo o clima seco e quente. Os insetos vetores devem ser manejados adequadamente e deve-se evitar o cultivo do tomate italiano perto de culturas hospedeiras do inseto-praga vetor.

Plantas repelentes podem ser cultivadas próximas ao tomateiro, objetivando afastar os insetos vetores.

Outras medidas de prevenção:

– Eliminar as plantas daninhas e restos culturais da área, que podem servir de fonte de inóculo para a doença e como abrigo para os vetores;

– Realizar a rotação de culturas, evitando cultivar solanáceas uma após a outra;

– Plantar o tomateiro com o espaçamento adequado, evitando criar microclima muito úmido e permitindo a ventilação;

– Evitar causar ferimentos nas plantas durante o manejo;

– Desinfectar maquinários e equipamentos.

Controle químico

O cultivo do tomate italiano é muito dependente de agrotóxicos para o controle de pragas e/ou de doenças. No Brasil, o controle químico é o mais adotado, sendo muito eficiente e de fácil utilização. Entretanto, é possível produzir sem o uso destes produtos, como é feito na agricultura orgânica.

Caldas naturais podem ser utilizadas como fungicidas preventivos ou curativos, como: calda sulfocálcica, calda bordalesa e calda viçosa. O equipamento de proteção individual (EPI) deve ser utilizado também na aplicação de caldas naturais.

Biofertilizantes, ao serem aplicados na parte aérea do tomateiro, também podem protegê-lo contra bactérias e fungos. Os microrganismos ali presentes protegem a folha, dificultando a penetração e desenvolvimento dos patógenos.

Genética

Para algumas doenças foliares, o controle químico não é satisfatório, como ocorre com a mancha bacteriana, uma das mais relevantes e que causa grandes prejuízos para esta hortaliça.

Nesse sentido, o controle de doenças pelo uso de cultivares resistentes é o mais barato e de fácil utilização. Outras vantagens são a menor agressão ao meio ambiente, uma vez que reduz o uso de produtos fitossanitários, menor exposição do agricultor aos agrotóxicos e a produção de frutos de maior qualidade para o consumidor, maximizando a eficiência dos fatores econômicos e ambientais.

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