Com base na teoria e prática, o segmento passou por ajustes estruturais e de manuseio, especialmente a aplicação de antibióticos para fins de aumento da produtividade e, também, a prevenção e o controle de patologias.
A introdução dos antibióticos na agropecuária começou após estudos feitos na década de 1950 revelarem que a administração em doses menores contribuia para acelerar a criação. O que não se sabia, na época, era sobre os efeitos negativos do descontrole das dosagens, aliado com o uso continuado desses melhoradores de desempenho, em longo prazo.
Consequências do uso indiscriminado
Passados mais de 60 anos desde o início da aplicação de medicamentos nos alimentos da produção animal, o cenário geral aponta para os riscos de contaminação e o surgimento de superbactérias. A bactéria Escherichia coli, resistente à droga colistina, foi um dos achados responsáveis por despertar o senso de alerta da comunidade internacional.
O material foi identificado no porco de uma fazenda de criação intensiva em Xangai, na China. O nível de resistência antimicrobiana e a capacidade de se proliferar entre microrganismos como Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa fez cientistas locais realizarem uma pesquisa aprofundada com outras criações da indústria pecuarista. Assim, se comprovou a presença em 166 de 804 suínos e frangos e em 16 amostras de 1.322 pacientes hospitalizados.
No Brasil, situações pontuais também foram observadas dentro de uma análise feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nos anos de 2004 e 2006. O levantamento apontou a existência de cepas de Salmonella e Enterococcus resistentes a duas ou mais classes de antibióticos. Para evitar o aumento de casos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) proibiu uma série de insumos com compostos químicos relacionados ao aceleramento da produção animal.
Medidas de contenção de danos
Medicamentos como os antibióticos passam a ter o efeito reduzido quando administrados em quantidade e tempo maiores que o necessário. Diante do fato de a prática ter se tornado comum no manejo agropecuário, profissionais formados na faculdade de veterinária assumem o protagonismo da luta pelo uso consciente dessas substâncias.
O médico veterinário Locke A. Karriker, professor na Universidade de Iowa, é uma das vozes que levantam o movimento. Segundo ele, o surgimento de doenças e cerca de 23 mil mortes nos Estados Unidos estão relacionados com superbactérias. Por essa razão, defende a elaboração de leis que tornem mais rigorosa a administração de drogas na criação de animais.
Nacionalmente, um esforço parecido é conduzido com incentivo de entidades ligadas à saúde. O Plano Nacional de Prevenção e Controle de Resistência aos Antimicrobianos evidencia a preocupação em trazer informações e bases científicas para que a gestão de terapias na pecuária, do pequeno ao grande produtor, seja feita com responsabilidade, preferencialmente acompanhada e/ou supervisionada por profissionais que cuidam da saúde animal.