Felipe Santinato
Engenheiro agrônomo, doutor e consultor ” Santinato&Santinato Cafés Ltda
O amadurecimento dos frutos de café não é uniforme. Trata-se de um processo influenciado pelas condições ambientais, número de floradas, disposição das gemas (interior ou exterior da planta), Ãndice de vegetação e exposição solar, dentre outros. Quando chega o momento de colher o café, o produtor se depara com duas situações:
ð Colher com o menor Ãndice de verdes possível: nesta alternativa a colheita é mais tardia, o produtor colhe mais cereja, passa e seco, no entanto, a quantidade de secos pode ser elevada em relação aos cerejas. Um ponto negativo é que os frutos permaneceram nos pés durante mais tempo, exaurindo as plantas, reduzindo a produtividade da safra seguinte, além da maior quantidade de café caÃdo na presente colheita, que deverá ser recolhido posteriormente.
ðColher o café antecipadamente, independentemente da quantidade de verdes: nessa alternativa, o produtor deverá utilizar a colhedora mais de uma vez, duas ou três passadas (parcelamento), com a finalidade de colher o máximo possível de cereja em cada uma das passadas da máquina. Durante o intervalo de espera de uma passada e outra, os frutos amadurecem naturalmente, de forma que no final das operações obtem-se maior quantidade de cerejas. A única desvantagem é o maior custo da operação (maior número) e a demanda de horas máquina também, podendo apertar o tempo de colheita.
É aà que entram os maturadores
Como ferramenta auxiliadora têm-se os maturadores de café. São estratégias que buscam acelerar ou retardar o processo do amadurecimento, de acordo com a necessidade de cada cliente (cada talhão). Existirão produtores que em determinados talhões de sua lavoura necessitam acelerar o processo de amadurecimento dos frutos, pois sua logÃstica e por outros motivos eles desejam colher aquele talhão específico com brevidade.
Da mesma forma, existirão produtores que desejam retardar o processo de amadurecimento, dando mais “time“ para a operação de colheita. De forma geral, a demanda de querer retardar o processo é maior do que querer acelerar, notadamente em regiões mais quentes, pois grande parte dos produtores passa por “sufocos“ na época da colheita, geralmente por não possuem maquinário suficiente a tempo de colher todo o café antes que ele comece a cair no chão.
O etileno
Para acelerar o processo de amadurecimento, usa-se também o etileno. Valores de pH superiores a 4,1 no citoplasma celular liberametileno dentro das células, além de cloreto e fosfato, promovendo desfolha excessiva (João Domingos Rodrigues e Elizabeth Orika Ono, UNESP, 2001)
O etileno aplicado na contração correta vai sincronizar o processo da abscisão dos frutos. Alguns cuidados devem ser tomados na aplicação do etileno, em nível de cultura. O produto deve ser aplicado nos frutos em estádio já desenvolvido, pois aqueles que ainda não atingiram o desenvolvimento pleno respondem ao etileno, mas não apresentam maturação normal.
Logo, a definição do estádio de desenvolvimento para a aplicação do produto é a chave do sucesso, devendo ser analisado pelo produtor a porcentagem de furtos granados no terço inferior da planta e porcentagem de frutos cereja, englobando o terço superior, médio e inferior dessa planta.
A aplicação deverá ocorrer quando 90% dos frutos do terço inferior da planta estiverem granados (solidificados) (João Domingos Rodrigues e Elizabeth Orika Ono, UNESP, 2001).
Esse fato altera o conceito da aplicação do produto, que antigamente baseava-se na porcentagem de frutos cereja, e hoje no estádio de desenvolvimento do fruto, o que definimos como granação, momento fisiologicamente mais adequado para o efeito do etileno na manutenção e colheita do cafeeiro.
Portanto, o momento correto da aplicação deste produto é fundamental para a obtenção de resultados favoráveis, que com certeza justificarão a utilização desta tecnologia (João Domingos Rodrigues e Elizabeth Orika Ono, UNESP, 2001).
Pesquisas
Carvalho et al. (2003), estudando a aplicação de etileno na cultura do café, verificaram que a aplicação do maturador proporciona uma antecipação e uniformidade na maturação dos frutos do cafeeiro, sendo que ocorre uma desfolha mais acentuada logo após a sua aplicação.
Porém, por ocasião da colheita, essa desfolha não foi significativa na cultivar Acaiá Cerrado MG 1474. Para a cultivarCatuaà e Topázio o Ãndice variou de 3,1 a 8,45%, respectivamente. Neste mesmo trabalho os autores não identificaram alterações indesejáveis sobre a qualidade da bebida ou na classificação do café (ExtraÃdo de Silva et al., 2006).
Em trabalho realizado na região do Sul de Minas Gerais, Silva et al., (2006) concluÃram que com relação à maturação dos frutos na planta, o aumento na porcentagem de cereja nos tratamentos em que se aplicou o etileno, foi em média de 9,5%. Já na colheita, ocorreu aumento na porcentagem e volume de cereja colhido, sendo o aumento médio do volume colhido de 46%. Além disso, não verificaram diferenças entre os tratamentos com relação à desfolha operacional e a qualidade de bebida do café.
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