Carlos Augusto de Carvalho Prado é engenheiro agrônomo, produtor agrícola e viticultor, com uma propriedade de 16 hectares no Vale do São Francisco, em Petrolina (PE). Lá, ele cultiva as variedades ARRA Sweeties™ e ARRA Cherry Crush™.
“”A videira não é típica da nossa região, afinal vivemos em um clima semiárido tropical, enquanto ela é mais comum em regiões de clima temperado, com estações do ano bem definidas. Por isso, enfrentamos o desafio de encontrar maneiras adequadas de fazer reservas, garantindo assim uma planta mais saudável e com alto potencial produtivo.”
Para garantir o sucesso da plantação, Carlos enfatiza a importância da poda no momento certo. “Aqui no Rio São Francisco, recomendamos plantar a uva e realizar a primeira poda após 10 a 12 meses. Isso contribui para prolongar a vida produtiva do parreiral. Manter a planta ativa fotossinteticamente, acumulando reservas para o próximo ciclo e garantindo a sanidade das folhas, é essencial.”
O intervalo entre as podas também é crucial. “É preciso manter as folhas ativas fotossinteticamente, evitando retrações causadas por pragas e doenças. Mesmo durante o período de descanso, é essencial permitir que a planta brote um pouco, para mantê-la sempre ativa e saudável”.
Durante o período de repouso, o produtor destaca a necessidade de um controle fitossanitário adequado e de uma irrigação adequada para evitar a rebrota e garantir que a planta esteja bem nutrida. “Desta forma, a planta terá o potencial necessário para o próximo ciclo. Esses cuidados são fundamentais.”
Produção sustentável e de qualidade
É importante que os produtores compreendam que a videira não é uma máquina e segue um ciclo bem definido, desde a poda até a colheita. Todo o processo de produção requer atenção às necessidades de nutrição, irrigação e manejo técnico das plantas.
Um ponto crucial assinalado por Carlos, para a manutenção da longevidade, produtividade e qualidade é o período de repouso. “Entre uma safra e outra, é essencial garantir de 45 a 60 dias de repouso para que as plantas possam se recuperar e se manter saudáveis”.
Ele menciona que, com a introdução de novas variedades na região há cerca de 10 a 12 anos, houve um aumento significativo no potencial produtivo. “Isso demanda uma atenção redobrada aos cuidados nutricionais, sanitários e de irrigação, especialmente devido à ausência de inverno e à temperatura média de 26 graus na região. O manejo adequado da planta em termos de nutrição e irrigação é fundamental para garantir um alto potencial produtivo e longevidade.”
E ressalta a importância do intervalo entre o plantio e a primeira poda, que deve ser de pelo menos 12 meses, para garantir uma planta mais madura, bem estruturada e com alto potencial produtivo para os anos seguintes. “Resumindo, a primeira poda deve ocorrer no mínimo após 10 meses do plantio, e é essencial respeitar o intervalo entre as podas para garantir a reserva necessária para as plantas nos ciclos seguintes, o que contribuirá para a produtividade, sanidade e longevidade do vinhedo”.
Monitoramento é essencial
Os principais sinais de que um parreiral está recebendo manejo inadequado são a baixa produção e a morte de plantas. Segundo Carlos, quando uma planta começa a produzir menos, isso indica que está sendo mal gerenciada e pode ser causado por diversos fatores, como problemas sanitários, excesso de produção no ciclo anterior, baixa reserva de nutrientes, intervalos curtos entre poda e colheita, questões de fitossanidade e irrigação inadequada.
O produtor acrescenta que outro sinal de manejo inadequado é a morte de plantas, decorrente de um manejo inconsistente e insustentável. “Quando se observa uma brotação deficiente, com dominância apical, brotação irregular, cachos pequenos e falta de vigor, é possível concluir que o parreiral terá uma vida útil reduzida e baixa produtividade.”
Ele também destaca a importância da distribuição das folhas e da iluminação do solo. “Ao entrar no parreiral, deve-se avaliar se o solo está equilibrado, com cobertura uniforme de folhas e sem áreas muito escuras ou muito abertas. Isso pode indicar manejo inadequado na adubação, irrigação ou poda. Um parreiral com excesso de sol direto no solo pode resultar em plantas fracas, enquanto um parreiral muito sombreado pode indicar problemas nutricionais.”
Técnicas para manter boas reservas energéticas
Para garantir que as videiras mantenham boas reservas energéticas, é fundamental proporcionar um bom repouso à planta. Um bom repouso significa ter uma planta verde e fotossintetizante, o que resulta em uma próxima safra produtiva.
Carlos enfatiza a importância de não sobrecarregar a videira durante seu ciclo produtivo. “É essencial manter um controle na produção, evitando que uma produção excessiva cause sequelas para a próxima poda. É crucial considerar o potencial da área para não comprometer o rendimento futuro do ciclo seguinte.”
Ele exemplifica: “Se um parreiral atual está produzindo 20 toneladas em uma safra, como posso aumentar sua capacidade produtiva para 35 toneladas? É necessário compreender e conhecer bem o parreiral para evitar erros que possam comprometer sua produtividade. Extrapolar a capacidade produtiva do parreiral sem embasamento técnico pode comprometer não apenas a produção, mas também a saúde e longevidade das plantas”.
Um ponto crucial em regiões semiáridas como o Vale do São Francisco é a necessidade de uma boa irrigação e drenagem. “É fundamental garantir uma irrigação adequada e uma drenagem eficiente para promover a aeração do solo e evitar o encharcamento, o que poderia resultar na morte das raízes. Portanto, é essencial aplicar técnicas de drenagem para garantir um solo bem preparado, com uma boa irrigação e drenagem adequadas”.
Vida longa às parreiras
“No Vale do São Francisco, enfrentamos condições severas. A planta praticamente não descansa, está sempre produzindo e sob estresse. Podemos produzir em qualquer época do ano, o que é uma vantagem, mas também acarreta uma vida útil menor. Enquanto podemos produzir duas vezes por ano, em outras regiões do mundo é apenas uma vez por ano. Em 10 anos, podemos produzir 20 safras, enquanto em uma região normal seria apenas metade. Isso torna nossa longevidade complicada.”
Carlos destaca que o clima da região não é típico para videiras, que geralmente prosperam em climas temperados. “No clima temperado, a planta leva de 180 a 200 dias desde a brotação até a colheita, o que é um processo mais lento, mas que garante maior longevidade e potencial. Aqui, precisamos garantir um manejo adequado para evitar que a produtividade da planta diminua consideravelmente”.
Ele ressalta que, após o oitavo ou nono ano, o estande de plantas começa a diminuir, tornando necessária a reforma das plantas. “Manter os parreirais por mais de 12 anos é difícil, pois há a necessidade de podar as plantas várias vezes, o que torna a colheita estressante. Quando sinais de baixa produção ou queda de produção são observados devido à idade das plantas, é viável substituí-las para manter a produção da área.”
Estratégias para lucratividade e longevidade
Para alcançar a lucratividade e garantir que os parreirais sejam vistos como negócios lucrativos e longevos, Carlos enfatiza que o produtor precisa primeiro compreender o seu segmento. “Ele deve identificar seu nicho de mercado e determinar para qual destino pretende produzir, seja mercado local, regional ou exportação”, explica.
E enfatiza a importância de escolher as variedades certas, ajustadas às preferências do mercado-alvo. “Existem variedades mais adequadas para a exportação do que para o mercado interno, e entender essa dinâmica é fundamental para garantir preços justos e demanda equilibrada”.
Ele também menciona a necessidade de estar ciente dos custos envolvidos na exportação, incluindo certificações e estruturas necessárias para atender aos padrões do mercado externo. “Todo esse aparato exige uma preparação específica e um entendimento profundo do negócio para garantir sua longevidade e rentabilidade.”
Um erro comum, segundo Prado, é o produtor não compreender verdadeiramente seu negócio e não definir corretamente seu posicionamento de mercado. “Isso pode levar a problemas de lucratividade e rentabilidade, afetando diretamente o sucesso do empreendimento”.
Questão de clima
Em regiões de clima temperado, as estações do ano são bem definidas: primavera, verão, outono e inverno. Nestas regiões, as empresas começam a podar no inverno, a videira brota na primavera e a colheita acontece no verão.
Porém, no São Francisco praticamente não há inverno. Carlos conta que a temperatura durante o dia chega a 22ºC, mas pela manhã ou madrugada pode baixar, sendo a média de 26ºC.
“Com essa condição de temperatura e o sistema de irrigação, podemos produzir uva o ano todo. Os produtores locais podam a uva semanalmente e realizam a colheita ao longo de toda a semana, o que nos permite ter produção constante e nos diferencia de outras regiões do mundo”, finaliza.