Luana de Carvalho Catelan
luana.catelan@unesp.com
Alana Emanoele Pereira
ae.pereira@unesp.br
Engenheiras agrônomas e doutorandas em Proteção de Plantas – UNESP
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UNESP
adriana.kronka@unesp.br
A soja, uma das culturas de maior relevância no agronegócio brasileiro, é utilizada para diversas finalidades, sendo a principal no setor alimentício. Devido a sua variabilidade de uso, a soja apresenta alto valor econômico a nível nacional e internacional.
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento, na última safra 2021/22, o Brasil produziu cerca de 126 milhões de toneladas de soja e exportou 77,20 milhões de toneladas, se tornando, assim, líder mundial em produção e exportação do grão.
Para que essa posição seja mantida, é necessário um aumento no rendimento da cultura, que se dá pelo uso de tecnologias mais eficientes, planejamento nutricional e manejos adequados das áreas de cultivo.
Além das adversidades climáticas que podem limitar a produção do grão no País, a deficiência ou insuficiência de nutrientes necessários para o desenvolvimento da planta é outro fator limitante de produção.
Nutrição
Os macronutrientes, como nitrogênio, potássio e fósforo, são exigidos em maiores concentrações pela planta, enquanto os micronutrientes, como boro, zinco, manganês e molibdênio, são exigidos em menor quantidade.
Entretanto, sejam eles macro ou micronutrientes, quando considerados essenciais para o desenvolvimento da cultura, a deficiência de apenas um deles já faz grande diferença, podendo reduzir a produtividade final.
Zinco x produtividade
O zinco é um micronutriente requerido em pequenas quantidades pela planta, entretanto, sua disponibilidade faz toda a diferença na produção, pois este elemento está diretamente relacionado ao crescimento e formação dos grãos de soja.
Este micronutriente age na síntese de proteínas e no crescimento meristemático estando, então, envolvido nos processos bioquímicos da planta.
Para produzir uma tonelada de grãos de soja, a planta precisa absorver cerca de 60 g de zinco. Sendo assim, observa-se que a cultura da soja é exigente em zinco e pode ter sua produtividade reduzida, caso este micronutriente não seja disponibilizado à planta.
Além disso, a deficiência de zinco interfere nos processos de síntese de proteínas e regulação de hormônios, principalmente na auxina, que atua como regulador de crescimento, o que também resulta na redução da produção de grãos de soja.
Estudos mostram que o zinco apresenta influência na produtividade da cultura da soja, sendo visível sua contribuição em alguns componentes de produtividade. A adubação com zinco é uma ferramenta importante que auxilia na obtenção desses altos índices de produção.
Sendo assim, é importante realizar a suplementação de zinco na cultura por meio da adubação no solo, foliar ou via tratamento de sementes, para que a planta não seja prejudicada devido à escassez do micronutriente e obtenha bom desenvolvimento e produtividade final.
Entretanto, vale ressaltar que, caso haja o desbalanço de outro nutriente no solo, a produtividade da cultura pode ser limitada.
Manejo de adubação
O zinco está presente na maioria dos solos, entretanto, nem sempre está disponível para as plantas. Geralmente, este micronutriente encontra-se adsorvido na argila de matéria orgânica, o que reduz sua disponibilidade.
Além disso, sua disponibilidade é afetada pelo pH do solo, estando disponível em soluções de solo com pH mais baixo. Outros fatores que agravam a disponibilidade de zinco são solos orgânicos, ricos em fósforo ou que recebem aplicação fosfatada elevada, além das condições de frio e umidade.
Na região do Cerrado, onde a soja é cultivada em larga escala, os solos apresentam baixa fertilidade natural de zinco devido à sua rocha de formação, que sofreu um intenso processo de intemperismo, o que pode comprometer a produtividade da cultura. Dessa forma, utilizam-se práticas de adubação para suplementar este micronutriente para a planta, com a finalidade de não afetar seu desenvolvimento.
Recomendações
Antes de realizar a adubação do solo, deve-se fazer uma análise química do mesmo com a finalidade de verificar a necessidade do micronutriente e a quantidade ideal a ser aplicada, seguindo as recomendações para a cultura, para que não haja problemas com o excesso de nutrientes.
O zinco pode ser ofertado para as plantas por meio de fertilizantes, sendo o sulfato de zinco uma das fontes mais conhecidas.
A adubação com zinco via solo possui como objetivo aumentar os níveis do micronutriente no solo e, consequentemente, aumentar a produtividade da soja, caso os demais fatores de manejo e ambiente estejam de acordo com as exigências da cultura.
Além disso, é uma forma de correção lenta e gradual. Pode ser realizada a lanço, entretanto, neste sistema, ocorre um alto contato do nutriente com as partículas do solo, o que pode gerar uma alta adsorção e reduzir a efetividade do nutriente, principalmente em solos argilosos.
Para reduzir o contato do fertilizante com as partículas de solo, pode-se realizar a adubação no sulco de plantio.
Devido à baixa mobilidade do zinco no solo, é importante ressaltar que as plantas devem apresentar um sistema radicular vigoroso para que consigam alcançar o nutriente, que é absorvido pelas raízes e transportado para o colmo.
Por este mesmo motivo, caso tenham ocorrido sintomas de deficiência de zinco na planta, a aplicação em cobertura não dará bons resultados, pois o nutriente irá demorar ou nem chegará às raízes da planta para ser absorvido.
Adubação foliar
Como exposto anteriormente, a disponibilização do zinco para as plantas é facilitada em solos com pH mais baixo. Sendo assim, em áreas onde o pH do solo encontra-se próximo ou acima de 7, provavelmente a deficiência de zinco será manifestada nas plantas, refletindo negativamente na produtividade.
Neste caso, a aplicação de fertilizante via foliar é uma opção. A adubação foliar não substitui a adubação no solo, mas serve como um complemento, quando parte do nutriente já foi adicionado por meio de fertilizantes no plantio, ou para suprir a demanda da planta a determinado micronutriente.
A adubação foliar apresenta como vantagem a rápida absorção, o que gera uma resposta imediata da planta, aprimorando os processos fisiológicos e nutricionais na célula vegetal. Outras vantagens são a utilização de menor quantidade de fertilizante e a distribuição uniforme do mesmo na planta.
Além disso, a adubação foliar funciona como um estímulo fisiológico à planta, o que potencializa sua atividade fotossintética. Dessa forma, é a ferramenta mais eficiente para sanar e prevenir a deficiência de zinco na planta, conferindo maior produtividade.
Recomenda-se a realização da adubação foliar de zinco na cultura da soja após o aparecimento de sintomas de deficiência do micronutriente na planta, para prevenir determinados déficits nutricionais já esperados, para recuperar a planta de alguma situação de estresse ambiental ou por fitotoxidez.
Cuidados
Ao realizar a adubação foliar com zinco, devem-se tomar alguns cuidados, desde a escolha do produto utilizado até a época de aplicação. Deve-se atentar, também, para a dose recomendada, visto que a aplicação de micronutrientes em doses excessivas pode ocasionar toxidez na planta.
Além disso, as condições ambientais devem estar favoráveis para a pulverização do produto, como temperatura, umidade relativa e velocidade do vento. Outro ponto importante é a adição de adjuvantes na calda de pulverização a fim de aumentar a aderência do produto nas folhas, fazendo com que permaneça por mais tempo e aumente, assim, a taxa de absorção.
Além disso, para que se tenha êxito na adubação foliar, é necessário verificar o pH da calda de pulverização, pois esta condição pode interferir na eficiência do produto.
Mitos e verdades
Um dos erros mais comumente cometido pelos produtores é utilizar a prática da adubação foliar como substituta da adubação de solo. Deve-se lembrar que essa técnica serve como um complemento à fertilização do solo, e quando ambas são realizadas corretamente, o retorno é certo.
Outro erro comum é a realização da adubação foliar juntamente com outras operações de manejo, como controle de plantas invasoras ou doenças, misturando o fertilizante foliar com fungicidas e herbicidas.
Recomenda-se a utilização de produtos de boa qualidade, com a formulação ideal, para que haja acréscimo de pelo menos três a quatro sacas de soja por hectare. O investimento no manejo de nutrição foliar durante todo o ciclo da soja soma em torno de duas sacas por hectare.
Sendo assim, o custo-benefício dessa prática é positivo, desde que realizada de maneira correta, atendendo a todas as recomendações.
É fundamental que os nutrientes estejam disponíveis no cultivo da soja de forma correta, em quantidades adequadas, e que sejam fornecidos no momento ideal para que atinja seu potencial produtivo. Portanto, a adubação do solo aliada à adubação foliar gera um aumento na produtividade da soja, além de um bom retorno financeiro ao produtor.