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Organominerais potencializam o cultivo da batata

Cerca de 70% dos nutrientes extraídos pela hortaliça têm como destino os tubérculos.

Ana Paula Preczenhak
Doutora em Fisiologia e Bioquímica de Plantas e pós-doutoranda – ESALQ-USP e professora – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB)
prof.anapaula@faesb.edu.br
Edson Pereira Mota
Doutor em Ciências/Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP e professor – FAESB
prof.edson.mota@faesb.com  

A batata (Solanum tuberosum) é uma das mais importantes hortaliças cultivadas, presente no ranking dos cinco alimentos mais consumidos no planeta e utilizada como base na alimentação em muitos países dos cinco continentes habitados no mundo.

O tubérculo comercializado é altamente energético, composto por cerca de 80% de carboidratos na matéria seca, com destaque para os altos teores de amido. Além disso, possui proteínas, fibras e sais minerais em menores teores.

Nutrição da planta

Esta hortaliça é anatômica e fisiologicamente um órgão de reserva para a planta, em que tubérculos saudáveis e de calibre comercial são o alvo de seu cultivo, ou seja, a nutrição e desenvolvimento da hortaliça.

Assim, as características da batata refletem na sua alta necessidade de fornecimento de nutrientes durante o cultivo, em que a adubação equilibrada é fundamental para a obtenção de bons níveis de produtividade.

Em termos de exigência nutricional, considerando a exportação de nutrientes, para produtividades próximas a 40 t/ha, são recomendadas dosagens de macronutrientes superiores a 120, 16 e 160 kg/ha de N, P e K, respectivamente.

As altas dosagens de N e P estão relacionadas ao ciclo rápido da cultura, que apresenta crescimento e desenvolvimento acelerados com alta taxa de armazenamento de fotoassimilados.

Assim, energia e suplementos estruturais são necessários com alta atividade metabólica.

Ambiente salino

Cerca de 70% dos nutrientes extraídos pela hortaliça têm como destino os tubérculos. Nitrogênio e fósforo estão envolvidos na fotossíntese, que é a responsável pelo acúmulo de fotoassimilados, ou seja, estruturas carbônicas que levarão ao enchimento dos tubérculos das plantas.

Um outro nutriente de grande importância para a batata é o K, que deve ser manejado com cautela, pois mesmo sendo responsável por síntese de amido e aproveitamento de água nos tubérculos, altas doses prejudicam o desenvolvimento inicial de raízes.

Isso acontece porque a aplicação de K em excesso pode criar um ambiente salino no solo, que promove a desidratação celular e ocasiona o rompimento da parede celular e, consequentemente, apodrecimento (morte) das raízes.

A salinidade, além de prejudicar o desenvolvimento inicial da planta, também influencia negativamente na microbiota do solo. As raízes dependem de associações e da atividade microbiológica para favorecer o processo de decomposição e mineralização de nutrientes e, então, potencializar a absorção radicular, o que resulta em plantas mais vigorosas e permite atingir maiores produtividades.

Devido ao problema da salinidade, a adubação pode ser parcelada para garantir suprimento ao longo do ciclo da cultura. Cabe ressaltar que o cultivo de batata para produção de chips deve evitar o uso do tradicional cloreto de potássio, uma vez que o cloreto causa o escurecimento dos chips no processo de produção. Assim, o sulfato de potássio é uma fonte de maior qualidade para essa finalidade.

Fertilizantes organominerais

O contexto de alta exigência nutricional aliado à busca por boas produtividades e bons retornos econômicos ao produtor rural leva a busca de alternativas que possam ser técnica e economicamente viáveis no cultivo da batata.

Assim, quando se fala de adubação, uma nova vertente tem ganhado destaque – o uso de fertilizantes organominerais, uma vez que atende aos critérios técnicos de nutrientes adequados e busca por qualidade do solo e, também, os econômicos, como custos de obtenção e logística para utilização.

Mas, o que seriam esses fertilizantes?

Os organominerais são fontes que combinam os fertilizantes minerais: mais concentrados, solúveis e de maior custo de aquisição; com os orgânicos: menos concentrados, mas mais completos nutricionalmente, de menor solubilidade, mas ricos em material orgânico e de menor custo de aquisição.

Contemplados na legislação de fertilizantes orgânicos (IN 63 do MAPA), os organominerais passaram por período de rápida evolução nos últimos anos, devido às características do produto e ao cenário trazido pela pandemia do Covid-19, que elevou muito os preços dos fertilizantes e causou problemas logísticos para a sua obtenção junto aos estabelecimentos comercializadores.

Essa mistura de fontes consegue agregar vantagens das fontes mineral e orgânica, gerando um produto de boa concentração de nutrientes, boa liberação ao solo, pacote nutricional mais completo, fornecendo tanto macro quanto micronutrientes.

Além disso, auxilia na recuperação da biologia do solo, por meio do material orgânico na composição, o que traz ganho de sanidade para a planta, além do preço competitivo na compra desse tipo de produto.

O que tem dentro?

Muitas misturas podem ser feitas nos fertilizantes organominerais, combinando os tradicionais fertilizantes minerais (ureia, superfosfatos, cloreto de potássio e etc.) nas muitas fontes orgânicas, como nos estercos, tortas, cinzas e camas.

Desta forma, o escoamento logístico dos resíduos se torna mais fácil e o uso estratégico da adubação se torna otimizado, já que produtos de matriz mineral são, em sua maioria, importados, enquanto produtos de matriz orgânica possuem dificuldades logísticas para seu uso puro.

Mais produtividade

O ganho em produtividade pela aplicação de organominerais solúveis em batatas Asterix é relatado principalmente devido à liberação gradual dos componentes orgânicos, que favorecem ao mesmo tempo a liberação dos nutrientes e a manutenção das comunidades microbiológicas benéficas do solo.

Essa liberação, sendo mais lenta que a dos fertilizantes minerais, agrega valor nutricional ao solo por maior período, principalmente se levarmos em consideração a forma de plantio convencional da cultura.

O plantio convencional é realizado revolvendo-se o solo e expondo as camadas superiores. O manejo afeta a manutenção da matéria orgânica do solo e reduz a microbiota superficial, pois ao expor os microrganismos ao calor, radiação solar, baixa umidade e alta oxigenação, os leva à morte e acelera os processos de decomposição e estabilidade do sistema.

Da mesma forma, foram observados resultados positivos na produtividade da cultivar Monalisa, com a utilização de organominerais sólidos à base de esterco de gado com adição dos minerais N P K.

A aplicação do organomineral resultou no aumento de 19% no teor de matéria seca dos tubérculos em comparação aos tubérculos cultivados sob utilização de fertilizantes minerais.

Este aumento pode ser creditado ao incremento e disponibilidade de nutrientes e à contribuição da matéria orgânica do solo para a estrutura do solo. A matéria orgânica, além de melhorar a capacidade de troca catiônica do solo, também ajuda na capacidade de armazenamento de água.

Resultados semelhantes foram observados para cultivares Athantic, com utilização de organomineral líquido à base de torta de filtro mais macro e micronutrientes, sendo manejados no plantio via sulco e via foliar.

Complexação de nutrientes

Outro ponto que merece atenção se relaciona à possibilidade de complexar os fertilizantes organominerais com ácidos húmicos e fúlvicos, que são produtos gerados nos estágios mais avançados da decomposição de materiais orgânicos e podem trazer resultados ainda mais interessantes na aplicação na batata.

Embora os ácidos húmicos possam ter efeitos positivos no solo e no desenvolvimento das plantas em geral, os estudos específicos sobre seu impacto no florescimento da batata não são conclusivos.

Geralmente a promoção do florescimento e da frutificação em plantas, como a batata, está mais associada à disponibilidade de nutrientes essenciais, condições climáticas e práticas agrícolas adequadas.

Seguindo nessa linha, a complexação dos fertilizantes organominerais pode ser vantajosa no aspecto de favorecer o produto no solo, trazendo benefícios como a melhora na fixação de fósforo, maior número de cargas para adsorver bases do solo e complexação do alumínio, que pode ser nocivo às raízes.

No entanto, alguns estudos sugerem que os ácidos húmicos podem influenciar indiretamente o florescimento da batata, melhorando a absorção de nutrientes, estimulando a atividade microbiana benéfica no solo e promovendo a saúde das plantas de uma maneira geral.

Esses efeitos indiretos podem contribuir para um crescimento mais vigoroso das plantas de batata e, potencialmente, para um florescimento mais abundante.

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