Edson Pereira Mota
Doutor e professor – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB) e especialista em Agronegócios
oedsonmota@gmail.com / prof.edson.mota@faesb.edu.br
O sistema de produção agrícola tem passado cada vez mais por desafios que implicam na busca por formas mais eficientes e otimizadas de garantir, ao menos, a manutenção dos níveis produtivos.
Ao considerar os fatores de produção, ou seja, aqueles que estão envolvidos diretamente no desenvolvimento dos cultivos por impactarem o potencial máximo das plantas, é comum encontrarmos complicações em um (ou vários) deles durante as safras.
Ao observar os fatores de produção, podemos ver que dois deles afetam significativamente o potencial produtivo e resultam em reduções consideráveis no campo: a água (entenda-se também como clima e chuvas) e o solo (Figura 1).
Figura 1. Fatores de produção do sistema de produção agrícola
Quando falamos de água, sabe-se que cerca de 80 a 90% da composição das plantas é relativa a esse composto, isto é, não existe uma boa produção agrícola nos casos de limitação hídrica.
Ao considerar o solo, os níveis de fertilidade são o segundo fator que mais limita os bons níveis de produtividade, mesmo com a fração mineral da planta representando menos de 10% do total vegetal.
Caminhos
Pensar nessas questões nos leva a perguntar: existem caminhos para combinar estratégias que otimizem o manejo da água e a fertilidade do solo?
A resposta é sim! Existem formas de realizar esses manejos no campo e, para que seja possível entender o funcionamento desse tipo de estratégia, é fundamental conhecer a dinâmica de funcionamento da água e do solo.
Em termos gerais, o solo é um grande sistema que contém uma composição básica de espaço sólido e espaço vazio (poros), considerando que o espaço vazio pode ser ocupado por ar ou água, temos três fases ou frações na composição do solo: gasosa, líquida e sólida.
A composição média que encontramos no solo possui cerca de 45% de fração sólida mineral, até 5% de fração sólida orgânica, cerca de 25% de fração líquida e cerca de 25% de fração gasosa (Figura 2).
Figura 2. Composição média das frações sólida, líquida e gasosa do solo
Fase a fase
A fase gasosa compreende o ar do solo, encontrado na macroporosidade (poros de maior tamanho), onde está a mesma composição de gases da atmosfera, porém, em concentrações ligeiramente diferentes, que permitem que ocorra a renovação dos gases, como o oxigênio consumido por raízes e microrganismos e a liberação de gás carbônico gerado na respiração destes seres.
A fase líquida compreende a água no solo, retida na microporosidade (poros de menor tamanho), sendo o local onde ocorre tanto a absorção de água para a hidratação da planta quanto dos nutrientes para a nutrição vegetal.
Esta fase é de extrema importância, já que todas as dinâmicas de disponibilidade de nutrientes envolvidas na fertilidade do solo e todo o suprimento para a planta dependem dessa água do solo.
A fração sólida do solo é, direta ou indiretamente, determinante para o funcionamento de todo esse sistema. Composto por material mineral (areia, silte e argila) e matéria orgânica (organismos vivos e mortos em diferentes estágios de decomposição), todo o funcionamento físico e químico advém da fração sólida.
Estrutura do perfil
No aspecto físico e definido pela textura do solo, temos a agregação e a estrutura do perfil, sendo que toda a organização do “corpo do solo” depende de seus agregados entre a parte mineral e a parte orgânica.
Assim, a quantidade e proporção dos poros do solo, que retêm a água e o ar, estão relacionados. Partes minerais e orgânicas agrupam partículas soltas em agregados que possuem forma e característica próprias, influenciando na formação das fases do solo.
Em relação ao aspecto químico, a própria retenção de nutrientes no solo, ou seja, o local onde os nutrientes são retidos para serem disponibilizados às plantas, é influenciado pela fração sólida, uma vez que partículas de argila e matéria orgânica decomposta geram cargas que possibilitam a retenção de nutrientes, o que pode ser chamado de CTC (Capacidade de Troca de Cátions) do solo.
Quanto maior a proporção de argila e, principalmente, matéria orgânica (principal geradora da CTC do solo), maior a capacidade do solo em reter nutrientes para os cultivos agrícolas.
Conhecimento é tudo
Pode ser entendido, até aqui, que o conhecimento do funcionamento do solo (de fato) impacta de forma vital os fatores de produção solo e água, influenciando até mesmo as expectativas de produtividade que podem ser projetadas pelos produtores agrícolas.
Em termos práticos, como podemos melhorar as características físicas e químicas do solo para melhorar o manejo da água e de nutrientes do solo, de uma só vez?
A resposta pode ser mais simples do que parece, porém, é necessário entender os conceitos envolvidos na seguinte resposta: aplicação de fertilizantes organominerais. É bem conhecido o papel que os fertilizantes possuem em fornecer nutrientes ao solo e auxiliar na boa nutrição dos cultivos agrícolas, sendo considerados insumos fundamentais para manutenção e elevação da produtividade, mas é preciso considerar que essa aplicação pode ser uma alternativa para otimizar a qualidade do solo.
Fontes nutricionais
Os fertilizantes minerais são fontes para fornecer nutrientes, geralmente com maior solubilidade e concentração de elementos nutricionais para as plantas, maior preço e tendo em sua base matéria-prima apenas mineral.
Já os fertilizantes orgânicos possuem a mesma função de fornecimento, geralmente com menores concentrações de elementos nutricionais, menor preço, maior número de nutrientes fornecidos e, por possuir matéria orgânica como matéria-prima, pode influenciar (como foi visto) na física e química do solo (como agregação, porosidade e CTC).
Vantagens das duas fontes em apenas uma
Os fertilizantes organominerais são a mistura de fontes minerais e orgânicas, fazendo com que seja obtido um número considerável de vantagens advindas das características das duas fontes.
Em termos gerais, são fontes que possuem composição nutricional mais completa e concentrações intermediárias de elementos minerais para as plantas, dada a mistura de fontes de maior concentração (minerais) com aquelas de menor concentração (orgânicas), resultando em custos de obtenção menores que os convencionais minerais e um pouco superiores às fontes puramente orgânicas.
Além disso, o material orgânico na composição possibilita que a qualidade do solo seja trabalhada durante as operações de adubação, já que os fertilizantes organominerais podem auxiliar em aspectos relacionados à agregação, porosidade, retenção de água no solo, matéria orgânica e microrganismos do solo, CTC e retenção de nutrientes.
Construção da qualidade do solo
Falando com maior detalhamento sobre a construção da qualidade do solo via fertilizantes organominerais, no aspecto físico o fornecimento de matéria orgânica auxilia na agregação do solo, juntando partículas minerais e cimentando-as com a fração orgânica.
Assim, melhora a porosidade gerada nos agregados formados, o que nos traz duas vantagens estratégicas: retenção de água e conservação do solo. A matéria orgânica, por si só, já possui maior capacidade de retenção de água, várias vezes a própria massa em água.
Adicionado a isso, a melhora na porosidade também reflete em maior retenção hídrica nos microporos e otimiza a capacidade de água do solo, principalmente em tempos de escassez de chuva (como as observadas com maior frequência na atualidade).
Temos, também, que a maior agregação fornece diretamente ao solo mais “força” contra a desagregação, uma vez que a cimentação das partículas minerais realizada pela matéria orgânica aumenta a estabilidade do agregado, dificultando a sua quebra e prevenindo que o processo chamado erosão se inicie ou se intensifique.