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Recentemente surgiu uma inovação no plantio de soja, que se caracteriza por semear quatro sementes juntas, na mesma “cova“.
Paulo Roberto Arbex Silva
Professor de Mecanização Agrícola da UNESP de Botucatu
Luan SolérFrancischinelli
Graduando em Agronomia – UNESP de Botucatu
O Brasil é o segundo produtor de soja do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, mas com potencial de expansão do mercado maior que o dos americanos. A projeção é que a produção nacional cresça à marca de 3,15 ton/ha até 2024. A previsão é que as terras adicionais para tal crescimento serão na região conhecida como Matopiba (Estados de Maranhão, Tocantins, Piauà e Bahia), segundo a FAO.
A soja é uma oleaginosa que apresenta enorme importância como produto nacional, sendo largamente utilizada na indústria alimentÃcia para fabricação de manteigas, sorvetes, sucos, maioneses, barra de cereais, dentre outros. Também é utilizada como fonte de alimento aos animais, na produção de biodiesel e até no ramo de cosméticos, farmacêuticos, etc.
Os números da soja são impressionantes, sendo que 44% dos grãos são exportados, 7% estocados e os outros 49% restantes processados. Dos 49%, 79% são destinados a farelos (podendo 52% serem exportados, e 48% para uso animal), e os 21% restantes podem ser usados para consumo doméstico (77%) ou exportados (23%).
Teto produtivo
Para se obter maiores produtividades, os produtores rurais têm buscado diferentes alternativas, sendo uma delas os novos arranjos de plantas nas linhas de semeadura. No Brasil são utilizadas diversas populações diferentes de plantas, dependendo do material genético utilizado, que possam se adaptar melhor às diferentes regiões.
Alguns produtores variam também o espaçamento entre linhas e a maneira de plantar, como o uso de alta densidade de plantas, fileiras duplas, etc.Uma das novas técnicas que surgiu recentemente é a semeadura cruzada, que se baseia em dar duas passadas com a semeadora, uma perpendicular à outra. O que impossibilitou esta prática em larga escala no Brasil foi o elevado custo operacional que, mesmo propiciando um incremento na produção, não vale a pena na relação custo/benefÃcio.
Ideias que deram certo
Recentemente surgiu outra técnica de arranjo de plantas chamada de semeadura agrupada de soja, que se caracteriza por semear quatro sementes juntas, na mesma “cova“. Algumas empresas colocaram no mercado um novo conjunto de disco, anel e martelete que permite esta forma de semeadura com uma única passada da semeadora, mantendo o mesmo custo e rendimento de um plantio convencional.
Alguns procedimentos desta técnica permanecem iguais à semeadura convencional, tal qual a população de plantas por hectare. Isso permite que o cálculo de adubo depositado na área seja o mesmo do convencional.
Como exemplo, podemos citar: se uma variedade é recomendada pelo fabricante para 315 mil sementes por hectare, ela deverá ser plantada com 14,2 sementes por metro, no caso de espaçamento entre linhas de 0,45m. Isso significa que a distância entre cada semente será de 07 cm. Para se plantar agrupado, essa distância será quadruplicada, ou seja, quatro sementes espaçadas a cada 28 cm.
Como a população total de plantas não se altera, o produtor consegue semear com a mesma quantidade de fertilizante recomendada pela análise de solo realizada na área. Outra coisa que não varia é a regulagem da semeadora para o número de sementes por metro que serão depositadas, pois o número de sementes é igual à semeadura convencional.
A semeadura agrupada de soja se sustenta em algumas teorias, porém, ainda sem resultados de pesquisa comprovados. Relatos dos adeptos desta prática defendem que a competição intraespecífica causada propositalmente induz a planta a tentar ser mais forte que a outra, aumentando, por consequência, o seu sistema radicular, a parte vegetativa e, portanto, a produtividade.
Outra teoria relacionada a tudo isso é o aumento da incidência de luz em cada planta, devido à maior distância entre as “covas“. Relacionado a toda esta teoria, indica-se uma menor incidência de doenças causadas por fungos, pois este arranjo de plantas também irá ocasionar menor umidade na parte mais baixa da planta.
O que fazer
Acredita-se que para o sucesso desta técnica o produtor deve escolher variedades de sementes com hábito de crescimento indeterminado, para que seja possível um maior engalhamento da planta depois de adulta, e faça com que cada indivÃduo compense a grande distância entre um agrupamento e outro na linha de semeadura.
Isso também resultaria numa maior área foliar, mais capacidade fotossintética, elevada conversão de luz por energia, e por fim, maior produtividade.
Um ponto negativo desta técnica está relacionado à operação de aplicação de defensivos durante o ciclo da cultura. A tendência é que as plantas apresentem engalhamento muito bem desenvolvido, causado pelo distanciamento entre os agrupamentos e pela competição. Isso poderá causar sérias dificuldades para pulverizar produtos fitossanitários de contato na parte baixa das plantas.
Seguindo o mesmo raciocÃnio, deve-se admitir que o controle de daninhas poderia ser mais facilitado pelo maior sombreamento do solo nos estádios mais desenvolvidos da lavoura.
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