Fabio Rossi Cavalcanti
Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho
Vanessa Foresti Pereira
Engenheiraagrônoma, doutora e coordenadora de pesquisa da Empresa Agroteste
Pedro Martins Ribeiro Júnior
Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador da Embrapa Semiárido
A videira (Vitisvinifera) está sujeita a uma série de doenças,principalmente quando condições climáticas que favorecem o processo de parasitismo de microrganismos patogênicos. Doenças como o míldio (causado pelo oomiceto Plasmoparaviticola), a podridão cinzenta do cacho (pelo fungo Botrytiscinerea) e da uva madura (pelo fungo Colletotrichumgloeosporioides) provocam grandes perdas na produção e, frequentemente, tornam-se fatores limitantes ao estabelecimento de um cultivo comercialmente competitivo, se medidas adequadas de controle não forem adotadas.
Atualmente, os consumidores de produtos vegetais possuem uma maior preocupação com as questões ambientais e com a segurança alimentar. Esse fenômeno vem fazendo com que o setor produtivo busque tecnologias alternativasmais sustentáveis e que reduzam ou mesmo substituam o uso de agrotóxicos na agricultura, quando possível.
Essas tecnologias têm que apresentar baixa ou nenhuma toxidez, tanto ao homem quanto ao meio ambiente, e devem oferecer produtos seguros aos consumidores, respeitando critérios de qualidade e segurança fitossanitária. Geralmente técnicas ditas “alternativas“ para proteção de cultivos vêm sendo organizadas e aplicadas na agricultura sob a forma do Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD).
O MIPD
O MIPD basicamente é a aplicação organizada e racionalizada de todas as técnicas disponíveis capazes de promoverboa produtividade e qualidade aos produtos agrícolas, sem a adoção de insumos baseados em moléculas sintetizadas quimicamente.
Dentre os fenômenos biológicos que podem ser usados para compor um MIPD do cultivo da videira, o uso da Indução de Resistência (IR) vegetal apresenta-se como uma opção potencial, principalmente com o uso de fosfitos em esquemas de controle do míldio.
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Os fosfitos
Produtos à base de fosfito são amplamente reconhecidos como fungicidas eficazes no controle de muitas doenças de planta causadas por oomicetos, principalmente por espécies de Phytophthora. O fosfito parece ter uma atuação direta sobre o agente causador do míldio da videira (Plasmoparaviticola), também um oomiceto, provavelmente pela sensibilidade e inibição de processos respiratórios (fosforilação oxidativa) que esses pseudo fungos podem apresentar, quando expostos a fosfitos e fosfonatos.
Tais alterações comprometem amorfologia, a fisiologia e a esporulação do pseudo fungo, interferindo no processo de parasitismo (KING et al., 2010).Como acima comentado, substâncias baseadas em fosfitos também atuam como estimuladores de Indução de Resistência (IR) vegetal. Fosfitos de potássio, quando expostos a tecidos vegetais e após reconhecimento celular pelos mesmos,são relatados a induzir formação de espécies ativas de oxigênio associadas a respostas de defesa celular.Isso envolve síntese e deposição de calose e expressão de genes associados à defesa mediada a ácido salicílico e ácido jasmônico, que são respostas metabólicas correlacionadas a um controle, muitas vezes significativo,de doenças causadas por oomicetos.
Qual escolher?
Estão disponíveis no mercado diversas formulações de fosfitos indutores de resistência, de variados fabricantes, sendo que os mais comercializados são os fosfitos de potássio, zinco e manganês. No entanto,no Brasil, os fosfitos são usualmente registrados como fertilizantes, porque, além de atuarem com essa finalidade, esse tipo de registro agiliza e barateia a inscrição do produto comercial.
Em ensaios de campo conduzidos no Núcleo Tecnológico da Epamig, em Caldas (MG), foram avaliadas duas formulações de fosfitos de potássio para proteção da videira contra o míldio,sendo também avaliados parâmetros físico-químico de uvas e a produtividade associada ao esquema de proteção (PEREIRA etal., 2012).
Na safra de 2010/11, foi observado um aumento na produtividade de parcelas protegidas por fosfito de potássio (PhiB, 340 g P2O5 L-1; 240 g K2O L-1), que passou de 0,16 para 1,93 kg, um aumento de 3,47 vezes. Nessas áreas protegidas por aplicação de PhiB, na dose de 2,1 g P2O5 L-1, da diluição 6,0 mL L-1, foi observada, na mesma safra, uma redução de 60% na área abaixo da curva de progresso da severidade do míldio (AACPSD).
Outras variáveis importantes foram alteradas por aplicação de PhiB, como a massa média de cachos, que promoveu um aumento de 2,45 vezes de um valor transformado (de 18,0 para 47,4 g cacho-1, aumento nominal de quase seis vezes) com relação à testemunha. Os sólidos solúveis totais medidos nos mostos das uvas colhidas na safra de 2010/11 não sofreram grande alteração pela imposição do tratamento com PhiB.
Indução de Resistência
Com o objetivo de evidenciar a ação biológica do PhiB como ativador de respostas metabólicas de defesa da célula hospedeira, um outro ensaio foi conduzido em condições de casa de vegetação usando-se mudas de três meses de idade, da cultivar Merlot, enxertadas sobre porta-enxerto 1103P, clone 519.
Foram utilizadas duas formulações de fosfito de potássio aplicadas na dose de 6mL L-1, a primeira formulação (PhiA)contendo 280 g L-1 de K2O e 420 g L-1 de P2O5, e a segunda (PhiB) contendo 240 g L-1 de K2O e 340 g L-1de P2O5, além do controle positivo: o benzotiadiazol (BTH), na dose de 0,4 g L-1, que é uma substância fartamente evidenciada como indutora de resistência de plantas. Encerrando os tratamentos, parcelas testemunha sem pulverização (controle negativo) foram incluÃdas no experimento.