Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
Rafael Azevedo Arruda de Abreu
Engenheiro Agrônomo e doutorando em Fitotecnia/UFLA
O café sempre constituiu um produto nobre no agronegócio brasileiro. Desde a sua introdução no País, que data do período colonial, o cafeeiro encontrou aqui condições adequadas ao seu bom desenvolvimento e acabou permanecendo no portfólio dos principais produtos brasileiros.
O Brasil representa uma importante parcela na produção de café no mundo. A participação da produção brasileira é de fundamental importância no abastecimento do produto no mercado estrangeiro, além de ser a principal forma de abastecimento do mercado interno.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a produção da safra de 2017 está estimada em aproximadamente 44,7 milhões de sacas de café beneficiadas e a produtividade total (arábica e conilon) para a safra 2016 resultou em produtividade de 24,02 sacas por hectare. Devido à bienalidade apresentada pelas plantas, 2016 é considerado um ano de safra negativa para o café arábica.
Questões fitossanitárias
Além da bienalidade, outros fatores interferem diretamente na produção, acarretando prejuízos e reduzindo o lucro do cafeicultor. Dentre esses fatores estão os problemas fitossanitários causados por pragas e doenças. Neste contexto, podemos encontrar uma ampla lista de espécies de insetos, ácaros e patógenos que podem atacar tanto o cafeeiro quanto os frutos e acarretar grandes perdas na produção.
Dentre as principais doenças do cafeeiro podemos citar a ferrugem (HemileiavastatrixBerk. et Br), nematoides de galha (Meloidogyne spp.), cercosporiose (CercosporacoffeicolaBerk& Cook.), dentre outras.
Em relação às pragas, destacam-se o bicho mineiro (Leucopteracoffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae)), o ácaro vermelho (Oligonychusilicis (Acari: Tetranychidae)), a broca do café (Hypothenemushampei (Coleoptera: Scolitidae)), dentre outros. Esta última merece atenção especial devido a sua potencialidade de causar danos aos grãos, diminuindo a qualidade da produção e podendo prejudicar o valor de venda do produto.
É a segunda praga em importância na cafeicultura, ficando atrás apenas do bicho-mineiro. Neste sentido, o manejo correto faz total diferença na busca por alta produtividade, o que reflete na redução de custos de produção e garante o sucesso da safra, contribuindo para aumentar o destaque da produção brasileira no cenário mundial.
Prejuízos causados pela broca
A broca-do-café ataca os frutos em qualquer estádio de desenvolvimento, desde verdes pequenos (chumbinhos) até maduros (cerejas) e secos, e causa danos diretos e indiretos. Os danos diretos estão relacionados à perda de peso do café beneficiado. Ao se alimentar dos frutos, as larvas causam danos como o apodrecimento, quebra de grãos no beneficiamento, queda de frutos novos perfurados e perda de viabilidade de sementes para plantio.
Em relação aos danos indiretos, há perdas na qualidade da bebida, ao abrir galerias para oviposição, geralmente realizada na região da coroa, promove a entrada de microrganismos nos frutos, o que interfere na classificação pelo número de danos e, consequentemente,na qualidade de bebida. Cinco grãos perfurados constituem um defeito na classificação (tabela 1).
Tabela 1. Porcentagens médias esperadas de café segundo o grau de infestação de H. hampei
Grau de infestação (%) | Porcentagens médias esperadas de café | Tipos de café | |||
Normal | Broqueado | Escolha | DestruÃdo | ||
0 | 95,46 | – | 4,76 | – | – |
10 | 91,13 | 3,88 | 5,22 | 1,06 | 3-4 |
20 | 86,12 | 7,99 | 6,18 | 2,14 | 4-5 |
30 | 80,97 | 12,11 | 7,17 | 3,27 | 6 |
40 | 76,38 | 16,67 | 8,19 | 4,46 | 7 |
50 | 71,79 | 20,45 | 9,81 | 5,81 | 7 |
Fonte: Gallo et al., (2002), adaptado de Toledo, (1947).
Do ponto de vista comercial, o ataque é muito prejudicial à qualidade do café, pois diminui sensivelmente o valor de venda de acordo com o grau de infestação.
Sintomas
Após o acasalamento, a fêmea inicia a perfuração dos frutos, que ocorre frequentemente na região da coroa e começa a construção da galeria, desagregando pequenas partículas da casca. A galeria chega até o pergaminho da semente (pelÃcula bem fina que envolve a semente) e ao atingi-lo, alarga a galeria, demonstrando aspecto piriforme. Neste local inicia a postura e danifica a semente.