Imagine uma faculdade em que os alunos todos os dias solicitam mais conteúdo aos professores. Mesmo com uma carga alta de conhecimentos, condensada em apenas 3 anos, o curso de Big Data no Agronegócio da FATEC de Pompéia, inédito no Brasil, com excelente grade curricular e corpo docente de alto nível acadêmico, tem vivido essa realidade devido à uma proposta inovadora que transforma o próprio curso em uma incubadora de startups reais. Este ano foram criadas 12 startups que envolvem todos os alunos deste curso.
É o que explica o aluno Rafael Petraca, que está no terceiro termo e destaca que a dinâmica do curso proporciona muita autonomia na hora de estudar.“ Acabamos influenciando muito o ritmo do curso na medida em que solicitamos mais matéria e informação, explica o aluno que desenvolve uma startup voltada para o agronegócio.
O professor da Fatec, Tsen Chung Kang, que acompanha os alunos nas startups, explica que a experiência deste semestre, mostrou que os conteúdos passados em sala de aula representam de 20% a 30% dos conhecimentos necessários para que os alunos desenvolvam as suas startups. “De tal forma que existe uma reclamação comum entre os alunos do 2º e 3º termos, os quais afirmam que as aulas estão oferecendo conteúdos que já foram absorvidos anteriormente, motivando os mesmos a solicitar um aprofundamento maior para resolver os problemas de suas startups“, comemora o docente. Tsen disse que para resolver este “GAP“, foram criados grupos de conhecimentos formados pelos alunos e suportado pelos professores e profissionais das empresas que apoiam o curso, proporcionando assim aos alunos, os conhecimentos que não são passados em sala de aula.
O curso de Big Data conta hoje com três grupos de conhecimento atuando na Fatec:Â Desenvolvedores Open Source,Captura e tratamento de imagens, Redes Sociais e Marketing Digital.
O programa de incubadora de Startups começou este semestre, portanto todas as startups começaram em março de 2018.
Das 12 startups:Â 6 desenvolvem aplicativos para celular, 1 trabalha com captura e tratamento de imagens por satélite e drones, 1 trabalha com sensores hiperespectrais, 1 trabalha com tecnologia de RFID, Â trabalha com automação de processos logÃsticos, 1 trabalha com sensor de detecção de agrotóxicos, Â 1 trabalha com redes sociais e marketing digital.
A criação de startups faz parte do projeto do curso de Big Data no Agronegócio, o qual foi criado com o objetivo de se tornar uma incubadora de startups. As atividades acadêmicas que dão suporte a essa proposta são definidas pela metodologia de aprendizagem canadense Profound Learning, baseada em PBL (Problem Based Learning ou Aprendizagem à partir de Problemas), que propõe a aplicação prática do conhecimento obtido com o objetivo de solucionar problemas reais e assim aumentar a capacidade de absorção de conhecimento dos alunos em um menor intervalo de tempo. Ainda segundo o professor Tsen, “O problema que propusemos aos alunos é que eles construam a sua Startup, ou que trabalhem em uma startup criada por alguns dos colegas empreendedores “.
Durante o curso, os alunos aprendem conteúdos técnicos como matemática, cálculo, estatÃstica, conteúdos de programação como C, Java, Python, bancos de dados, até conteúdos avançados como Hadoop, R, Analytics, e Machine Learning, mas os alunos também têm uma base muito forte em gestão de projetos, gestão de negócios e de recursos humanos. O curso oferece disciplinas de empreendedorismo, administração e gestão de projetos, onde os alunos aprendem as metodologias Canvas, MVP e Scrum, para coordenarem e gerenciarem as suas startups.
Empreendedorismo na formação
De acordo com o coordenador do curso, Luís Hilário Tobler Garcia, implementar uma visão empreendedora nos alunos é uma tendência nos cursos superiores da atualidade. “Integrar a construção do conhecimento e a construção de competências nos alunos com criação de startups reais tem sido uma tendência na nova formatação de ensino superior. Isso motiva o aluno e aumenta de forma significativa a sua participação em todas as atividades do curso, permitindo que estes alunos sejam formados como profissionais prontos para o mercado de trabalho“, destaca.
Para o coordenador, dar uma visão de empreendedorismo é a forma mais rápida para se ganhar competitividade no mercado. A metodologia de ensino, explica Luis, é motivadora e estimula o aluno a explorar todo o seu potencial ainda na faculdade, o que torna o curso diferenciado.
Ele também explica que antigamente existiam dois tipos de profissionais, profissionais responsáveis pela visão estratégia, também conhecidos como “colarinhos brancos“ e profissionais responsáveis pela execução, também conhecidos como “colarinhos azuis“. O primeiro grupo, concentrado nos níveis de gestão das empresas, tinha como foco “pensar“ nas ações que deveriam ser tomadas, enquanto o segundo grupo, concentrado no chão de fábrica, eram focados em “fazer“ aquilo que havia sido decidido. Mas hoje com a grande velocidade em que tudo acontece, torna-se importante a formação de profissionais com uma visão geral, capazes de “pensar“ e “fazer“ e assim entregar resultados em uma maior velocidade.
Ele destacou ainda que as empresas de tecnologia de hoje precisam ser velozes e ágeis, para acompanharem as mudanças e disponibilizarem as suas soluções dentro de um intervalo de tempo cada vez mais curto, só assim elas não perderão o chamado “Time to Market“.
 A formação
O professor Tsen explicou que o grande problema na maioria dos cursos tradicionais, é que o aluno não sabe porque está aprendendo um determinado conteúdo de conhecimento. Ele estuda porque vai cair na prova. Já no PBL (metodologia baseada em estudo de casos) o aluno busca o conhecimento porque precisa do mesmo para resolver o problema proposto. A motivação dos alunos pelo aprendizado é muito maior. Eles vão muito além da matéria que é passada em sala de aula.
“As universidades precisam mudar o seu foco, e formar bons empreendedores, e não mais bons executivos. Os executivos, como o próprio nome diz, são executores. E o espaço da execução será tomado cada vez mais pelas máquinas e pelos robôs. As pessoas precisam ocupar o espaço que as máquinas não vão ocupar e este espaço está no “Empreender“. O empreendedor consegue enxergar as necessidades do mundo, e consegue trazer as soluções inovadoras que vão atender a estas necessidades.“, destaca o professor.
Todos os alunos do curso estão envolvidos nas startups. São cerca de 100 alunos, distribuídos em 12 startups. Cada Startup tem em média de 7 a 8 alunos.
Um aluno pode escolher ser o CEO (Chief Executive Officer), que é responsável pelo direcionamento estratégico do negócio, ser o CTO (Chief Technology Officer), que é o responsável pela condução técnica do projeto, coordenando a equipe de desenvolvimento, ou fazer parte da própria equipe de desenvolvimento.
Para Tsen a formação da mentalidade empreendedora é fundamental para a transformação da sociedade. Os empregos tradicionais vão ficar cada vez mais escassos. Os empreendedores é que vão fazer a economia girar.
“Vejam o que acontece hoje no mundo do Marketing Multi-NÃvel (MMN), onde talvez os maiores exemplos no Brasil sejam a Polishop, Hinode, Avon e Natura. Cada consultor destas empresas não é mais um empregado com carteira assinada CLT, mas é um micro-empreendedor. A Polishop tem 2 milhões de consultores, e a Hinode perto de 1,5 milhões. É muita gente que já está trabalhando com uma mentalidade de empreendedorismo“, comemora Tsen.
O passo a passo das startups
O primeiro passo é encontrar os empreendedores dentro do grupo de alunos. Então no inicio do semestre elas passam por um processo seletivo para CEOs e CTOs. Escolhemos então 12 CEOs e 12 CTOs, que seriam os líderes das 12 startups, e formamos os pares de CEO e CTO entre eles.
O segundo passo é da escolha dos temas que cada equipe gostaria de trabalhar. “Através da parceria com empresas da nossa região, trouxemos vários problemas reais, que estas empresas enfrentam no seu dia a dia, e apresentamos às 12 duplas de CEO/CTO. Eles então escolheram os temas que tinham maior interesse e afinidade, e que seriam trabalhados ao longo do semestre“, explica Tsen.
O terceiro passo é a contratação das equipes. Cada dupla de CEO/CTO foi ao “mercado“ contratar os seus colegas para comporem as equipes das suas startups.
Àpartir daÃ, cada dupla de CEO/CTO faz a gestão da sua Startup como uma empresa real. Eles podem demitir e contratar subordinados, e em alguns casos a equipe pode também demitir o CEO ou CTO que não está tendo boa performance. Tudo isto aconteceu ao longo deste semestre.
Ao final do semestre os professores responsáveis pelo programa avaliam as entregas dos projetos, e dão nota para a equipe. A nota da equipe é multiplicada pelo número de elementos da equipe, e a dupla CEO/CTO avalia o desempenho de cada elemento da equipe e distribui a nota proporcionalmente à entrega de cada elemento.
Perenidade das Startups
O tempo médio de duração das empresas tem caÃdo muito ao longo dos últimos anos.
Este fenômeno é mundial, e é reflexo do surgimento contÃnuo de novas empresas.
Hoje existem startups que nascem, crescem e dentro do seu planejamento estratégico já estão programadas para serem compradas por empresas maiores, e portanto desaparecem em pouco tempo. É o que os empreendedores chamam de “estratégia de saÃda“.
“Isto é muito comum nos mercados mais avançados de startups, como o Silicon Valley. Muitas Startups surgem, crescem e depois são adquiridas por varias centenas de milhões de dólares por empresas maiores como Facebook, Intel ou Google. Esta também é uma boa forma de empreender e ganhar dinheiro“, finaliza o professor Tsen.
Alunos empreendedores
O curso de Big Data é bem completo para quem quer empreender na área da informática. Essa é a opinião do aluno, Carlos César de Oliveira, que está no primeiro termo do curso e atua como CEO da recém criada Startup TradeBox. Há quatro meses ele e sua equipe vem desenvolvendo o aplicativo que é destinado a trazer soluções para condomÃnios fechados.
“É fantástica a ideia de desenvolver uma empresa ainda estudando, o que nos incentiva a ficar várias horas no ambiente da faculdade trabalhando e aprendendo as tecnologias através do PBL“, destaca o aluno.
Solucionadores de problemas com visão empreendedora, é como se define o aluno, Flávio Henrique Licório Leiva, do terceiro termo e seus colegas de turma. Formado em Mecanização em Agricultura de Precisão, Leiva acompanhou a criação do curso de Big Data e acredita que essa faculdade vai formar uma geração de empreendedores com perfil multifuncional desenvolvendo potenciais nas mais diversificadas áreas.“Somos mais autônomos e mais autodidatas’, destaca.
Um curso desafiante e que sai do estilo comum tirando o aluno da comodidade e levando-o a buscar conhecimento e informação. É o que declara o aluno Johan Raphael Maehashi, do terceiro termo e que lidera a startup que visa implantar um aplicativo para detectar agroquímicos nas área de plantio.
“Somos desafiados em situações semelhantes ao mercado de trabalho num ambiente que temos uma estrutura com flexibilização a mudanças e a oportunidade de errar e buscar acertos para melhor desenvolver nossas idéias. Ele destaca que trata-se de um curso estimulante pois os objetivos são bem definidos, claros e mensuráveis. Outra vantagem da faculdade, segundo o aluno é a inserção num ambiente de estudo que faz com que as pessoas fiquem interligadas, aprendam e sejam estimuladas à convivência em grupo.
O curso de Big Data oferece 40 vagas para o período da tarde nas dependências da Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia em Pompeia, interior de São Paulo. Visa transformar informações em conhecimentos estratégicos. Possibilita gerar, coletar, armazenar enormes quantidades de dados e, a partir destes, gerar conhecimentos relevantes para tomada de decisões.