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Novidades no controle de formigas

Autores

Pedro Guilherme Lemes
Engenheiro florestal, doutor em Entomologia e professor de Entomologia Florestal – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
pedroglemes@hotmail.com
José Cola Zanuncio
Engenheiro florestal, PhD em Entomologia e professor de Entomologia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)

As formigas-cortadeiras são pertencentes aos gêneros Atta, conhecidas como saúvas, e Acromyrmex, conhecidas como quenquéns. São indiscutivelmente as principais pragas florestais do Brasil, já que suas populações em plantios florestais dificilmente diminuem naturalmente.

Pelo contrário, só aumenta com o tempo e a falta de manejo, ataca árvores em todas as idades (desde mudas recém-plantadas até árvores adultas prestes a serem cortadas) e, ao contrário da maioria das pragas, que são sazonais ou ocorrem em surtos cíclicos ao longo dos anos, essas atacam e ocorrem o ano inteiro.

Os problemas com formigas-cortadeiras são ainda maiores no setor florestal, pois a maioria desses plantios são feitos em grandes monoculturas que ocupam grandes extensões de áreas contínuas no Brasil e são espécies muito polífagas, isto é, atacam uma grande variedade de espécies, tendo sido registradas atacando praticamente todas grandes culturas florestais brasileiras, entre elas várias espécies de eucalipto e pinus, além de acácias, cedro-australiano, mogno-africano, paricá, seringueira, teca e até mesmo o nim-indiano, considerada planta inseticida.   

Danos

As formigas-cortadeiras, como dito anteriormente, ocorrem o ano todo e atacam plantas de todas as idades. Essas formigas cortam as folhas frescas e, em alguns casos, ramos mais tenros, sementes e flores, não para a sua alimentação, mas sim para alimentar o fungo simbionte que cultivam no subsolo, dentro de seus ninhos.

Dentro dos viveiros já se deve tomar cuidado, pois podem cortar as mudas. Quando não controladas de maneira preventiva, antes de se iniciar a fase de plantio, podem impedir o estabelecimento de qualquer espécie florestal, já que cortam de forma contínua e ininterrupta, e o seu controle significa a própria sobrevivência das mudas.

Em plantios adultos, podem deixar as árvores completamente desfolhadas, causando perdas em crescimento, tanto em altura quanto diâmetro e, consequentemente, no volume.

Esses prejuízos podem chegar a mais de 60% da produtividade final em eucaliptos e, muitas vezes, se não foram combatidas, podem matar as árvores. Há estimativas que o aumento de 1 m2 de terra solta de ninho de saúvas em plantios florestais pode reduzir a produtividade entre 0,04 e 0,13 m3 por hectare.

Também se estima que os gastos com controle de formigas-cortadeiras representem três quartos de todo gasto com manejo de pragas em eucalipto, e até 7% do preço final da madeira em pé na colheita. Além de perdas na produtividade, o ataque de formigas-cortadeiras pode provocar alterações na forma do fuste, prejudicando a colheita e o uso da madeira para fins mais nobres, além da produção exagerada de galhos laterais, em um processo conhecido como envassouramento das árvores.

Sintomas

Os principais sintomas do ataque de formigas-cortadeiras é o aparecimento de árvores desfolhadas, algumas totalmente peladas, e a presença de folhas picadas ao pé das árvores. Outra característica é que a atividade de corte, geralmente, se inicia da parte baixa da copa para o topo. As folhas cortadas apresentam cortes feitos de forma semicircular ou de meia-lua, muito característica de formigas-cortadeiras.

† Região da planta: as partes mais atacadas são as folhas das plantas, mas, eventualmente, pedaços do caule mais macios também são cortados, principalmente em mudas recém-plantadas ou em condução de brotações. Flores e sementes também podem ser cortados e carregados, apesar de ser menos comum.

† Região geográfica: as formigas-cortadeiras ocorrem em toda a região neotropical, ou seja, desde o Sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, com exceção do Chile. No Brasil, ocorrem em todo o território nacional, e o que vai variar são as espécies de cortadeiras que ocorrem em cada região. Na região sudeste as espécies mais comuns são as saúvas Atta sexdens rubropilosa (saúva-limão) e Atta laevigata (saúva-cabeça-de-vidro), e algumas quenquéns que causam menos prejuízo.

Já na região sul as saúvas não são o maior problema, mas sim as quenquéns, como Acromyrmex crassispinus em plantios de pinus. Algumas espécies de saúva são mais importantes em algumas regiões específicas, como Atta cephalotes (saúva-da-mata) na região norte e Atta opaciceps (saúva-do-sertão) na região nordeste.        

Controle (preventivo e curativo)

As formigas-cortadeiras em plantios florestais só podem ser controladas com um bom plano de manejo integrado de pragas, envolvendo técnicas de controle preventivas e curativas, além, é claro, de um programa de monitoramento dessas pragas nos plantios.

A principal técnica preventiva utilizada é o controle químico. Pode parecer estranho, mas nenhum plantio florestal consegue se estabelecer se não se combater as formigas-cortadeiras e eliminá-las da área de plantio antes do plantio das mudas, ou até mesmo ao se conduzir brotações de ciclos anteriores.

E o único modo de eliminá-las de maneira eficiente e segura é pelo controle químico, com o uso de iscas formicidas à base de fipronil ou sulfluramida, ou com pó seco em formigueiros pequenos.

Na fase inicial, as mudas são altamente vulneráveis, e poucos formigueiros na área já são capazes de destruir várias mudas, obrigando o replantio, que além de custar caro, poderá fazer com que as plantas estejam em idades e tamanhos diferentes no plantio. 

Aliado ao controle químico, podem ser adotadas outras estratégias para serem utilizadas de forma preventiva. A técnica do cultivo mínimo mantém o solo coberto com material vegetal, dificultando a localização de um local para a formação de novos ninhos pelas tanajuras e reduzindo o número desses na área, mas também pode dificultar a localização de todos os ninhos a serem combatidos na fase inicial do plantio.

A presença de faixas e ilhas de vegetação nativa pode servir como fonte de alimento alternativo para as formigas, diminuindo o corte das árvores plantadas. Nesses ambientes também podem estar presentes inimigos naturais das formigas-cortadeiras, como besouros, moscas, parasitoides e aves.

Aves de rapina podem eliminar a maioria das tanajuras que poderiam formar novos ninhos, e mesmo assim um grande número de novos ninhos ainda é formado, o que evidencia a importância dessas aves.

Outra técnica preventiva é o uso de barreiras, físicas ou químicas, como o uso de cones plásticos, géis, óleo queimado, etc. que impedem as formigas de escalarem as árvores e cortarem as folhas. No entanto, essa técnica só é viável em árvores individuais de grande importância ou em quintais, devido ao custo e mão de obra necessária para realizá-la.

Novamente, é válido ressaltar que a única técnica preventiva capaz de controlar as formigas-cortadeiras de forma efetiva é o controle químico, e essas outras técnicas apresentadas apenas auxiliam e, dificilmente (para não dizer jamais) controlam as formigas, quando utilizadas sozinhas.

Após o uso do controle químico preventivo e eliminação dos formigueiros, então passa-se a realizar um monitoramento constante dos plantios por pessoal treinado, avaliando a quantidade e densidade de formigueiros e os danos e prejuízos causados por esses insetos no plantio.

Após a fase inicial, apenas a presença das formigas-cortadeiras no plantio não justifica o controle, e as técnicas curativas só devem entrar em ação quando o monitoramento mostrar que são necessárias. Formigueiros que causam danos só irão surgir após dois anos, se o tratamento preventivo foi feito com sucesso. 

Próximo passo

Se o monitoramento indicar necessidade de controle, então técnicas curativas devem entrar em ação. O controle químico com uso de iscas-formicidas de fipronil ou sulfluramida, novamente, tem papel importante, já que nesse estágio do plantio os formigueiros provavelmente estarão em tamanho muito grande para serem combatidos com o pó seco aplicado por bombinhas.

Por muito tempo foram utilizados os termonebulizadores, que aplicavam uma fumaça com inseticida dentro dos formigueiros, controlando-os. Mas, devido aos constantes problemas com as máquinas e custos de manutenção, riscos à saúde dos aplicadores e falta de produtos registrados, essa técnica entrou em desuso.

A escavação mecânica de formigueiros pode ser feita com uso de enxada ou algum implemento acoplado a um trator. No entanto, essa técnica só é recomendada para formigueiros pequenos, com até 20 cm de profundidade, e em áreas pequenas.  B

Iscas com Beauveria bassiana

As iscas formicidas à base de inseticidas sintéticos, como a sulfluramida, foram criadas nos anos 90 para substituir as feitas à base de dodecacloro, um composto bastante tóxico. Desde então, foram utilizadas com sucesso no controle de formigas-cortadeiras nos plantios florestais.

Mas, por pressão da certificação florestal e também na busca por uma maior sustentabilidade, tem-se pesquisado alternativas de controle de formigas-cortadeiras. No entanto, encontrar substitutos que controlem de maneira efetiva as formigas-cortadeiras não é tarefa fácil.

Esses insetos contam com diversas adaptações e comportamentos que tornam o seu manejo e controle diferente de qualquer outro inseto no planeta, e por isso essas técnicas também devem ser diferentes.

Detalhes específicos

O primeiro fator a se levar em consideração é a organização social dessas formigas. Elas vivem em supercolônias, onde uma rainha de vida longa é o principal indivíduo, pois é a única capaz de botar ovos, enquanto as outras, as operárias, realizam os outros trabalhos da colônia.

Por isso, técnicas de controle que matem as operárias e não a rainha só terão sucesso se conseguirem suprimir a rainha de forma indireta, ou mate mais operárias do que a rainha consiga repor, e assim as atividades essenciais, como cuidado da prole e do fungo da colônia, são suprimidas e o ninho entra em colapso.

Outro fator é que, apesar de cortarem muitas espécies florestais, as formigas escolhem o que cortam e são capazes de detectar componentes e microrganismos. Por isso, podem rejeitar o carregamento de qualquer material que apresente inseticidas ou patógenos que afetam as operárias ou o fungo.

Atingir o jardim de fungo das formigas não é tarefa fácil, tanto pelo comportamento de seleção mencionado anteriormente quanto pela alta higiene mantida dentro da colônia.

As formigas-cortadeiras possuem glândulas e microrganismos simbiontes que também produzem substâncias antibióticas por todo o seu corpo. Além disso, elas se limpam, limpam suas companheiras e todo material que chega ao jardim de fungo.

Todo material morto, infectado ou contaminado é levado e isolado em compartimentos específicos dentro da colônia, conhecidos como panelas de lixo. A estrutura dos ninhos, principalmente de saúvas, é outro complicador.

Alguns ninhos são enormes, atingindo dezenas de metros de profundidade e ocupando centenas de metros de área com milhões de operárias, e atingir todos esses compartimentos e formigas não é nada fácil.

Até mesmo a criação de novas substâncias para serem utilizadas no controle químico é difícil. Existe uma série de necessidades para que um composto usado em iscas tóxicas tenha sucesso. O composto não deve matar apenas soldados ou operárias, mas de alguma forma afetar toda a colônia, principalmente a rainha ou o fungo.

A substância não pode ser repelente, senão as formigas não irão carregar a isca, e também não pode agir muito rapidamente, para que se espalhe por muitos indivíduos, e deve interromper a atividade de corte o mais rápido possível.

Além de tudo, esse composto deve ser ambientalmente viável. Por tudo que foi dito, várias técnicas alternativas têm falhado no controle das formigas-cortadeiras ao longo dos anos.

Controle biológico

Fungos entomopatogênicos são aqueles que causam algum tipo de doença em insetos. Muitas pesquisas têm sido feitas com o uso desses fungos, especialmente Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, na tentativa de controlar as formigas-cortadeiras.

No entanto, dos vários estudos feitos, nenhum demonstrou resultados práticos com viabilidade técnica, efetividade, custo-benefício e disponibilidade, mesmo para colônias de Acromyrmex, que são menores. Isso se deve, principalmente, aos comportamentos e estrutura social discutidos anteriormente, como a alta higiene, complexidade da colônia e seleção do material levado para dentro do formigueiro.

Estudos com esses fungos já foram testados para várias espécies de saúvas e quenquéns, mas com resultados pouco animadores. Esses estudos são, em sua maioria, testes de virulência, e na maioria comprovam a ação desses fungos sobre as formigas-cortadeiras individualmente isoladas de suas colônias dentro do laboratório, geralmente confinadas em placas de Petri. Não existem resultados práticos em campo com esses fungos.

Ainda sem resultados

Testes com esses fungos já vem sendo feitos há muito tempo, mas sem resultados conclusivos. Isolados de B. bassiana foram testados em Atta sexdens piriventris, a saúva-limão-sulina, espécie comum do Sul do Brasil.

Em testes com colônias no campo, a atividade de forrageamento das formigas cessou após 60 dias da aplicação (Silva & Diehl-Fleig, 1995). Isolados desse fungo foram testados em Acromyrmex crassispinus e Acromyrmex heyeri, obtendo 87,2% em colônias no campo (Diehl-Fleg et al., 1993).

Testes de patogenicidade de B. bassiana foram feitos em soldados de A. sexdens sexdens em laboratório, atingindo até 80% de mortalidade, quatro dias após a exposição (Loureiro & Monteiro, 2005).

Operárias de A. bisphaerica isoladas foram testadas com esse fungo, atingindo apenas 50% de controle (Ribeiro et al., 2012). Dois isolados de B. bassiana foram testados em iscas cítricas contra colônias de A. sexdens rubropilosa em laboratório, mas apesar de matar algumas operárias, não controlou as colônias (Cardoso et al., 2012).

Em testes de laboratório em operárias de Acromyrmex lundi, o melhor isolado causou mortalidade de 92,3% entre quatro e cinco dias após a inoculação (Goffré et al., 2018). Tem-se testado a aplicação desses fungos aplicados com inseticidas para facilitar a ação do agente patológico. No entanto, testes com imidacloprido têm se mostrado pouco eficientes.

Existem outros testes além dos citados, mas também sem resultados conclusivos. Esses testes com B. bassiana, com formigas isoladas de suas colônias, parecem mal direcionados, pois na maioria dos casos não apresentam resultados compatíveis com a realidade do campo.

Mesmo quando apresentam uma alta mortalidade de operárias isoladas da colônia, não há o controle “social” de todo o formigueiro. Testes mais próximos da realidade deveriam ser feitos em formigueiros de pelo menos dois anos de idade, com espécies que possuem grandes ninhos, uma realidade mais próxima da que temos na agricultura, silvicultura e pastagens.

Além disso, muitos desses experimentos contêm erros experimentais, análises incorretas e outros problemas apresentados, como foi bastante discutido por uma equipe de especialistas em formigas-cortadeiras do Brasil (Brito et al., 2017). Por isso, o uso de fungos entomopatogênicos em iscas formicidas ainda está em fase inicial de pesquisa, e muitas pesquisas ainda deverão ser feitas até se consiga melhores resultados práticos e efetivos no campo.

As colônias de formigas-cortadeiras também apresentam peculiaridades comportamentais e biológicas, já abordadas anteriormente, que tornam o uso dessas iscas ainda mais complicado.

Em Acromyrmex, as operárias limpam, desinfetam e isolam a cultura do fungo simbionte, e em alguns casos, podem até mudar o local da colônia. Portanto, a pesquisa ainda não produziu resultados com viabilidade técnica, econômica, operacional e acessível, mesmo para formigas-cortadeiras com ninhos pequenos como as quenquéns. 

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