Autor
Hélio Casale
Engenheiro agrônomo
hecasale@terra.com.br
No dia a dia, o que é pior, falta de tecnologia ou omissão no emprego? A sustentabilidade da atividade cafeeira é comumente representada por um triângulo em que, numa das pontas, fica o respeito ao social. Em outra ponta o ambiental, e por fim o ecológico.
Já o sucesso na prática da sustentabilidade é representado em outro triângulo, em que numa das pontas fica o trabalho, em outra a disponibilidade de recursos e, por fim, o conhecimento sobre a atividade como um todo.
O professor Malavolta sintetizou os principais fatores que afetam o crescimento e a produção, dos pontos de vista físico, químico e biológico. São mais de 30 fatores, o que faz com que o cafeicultor seja um verdadeiro herói para conseguir o sucesso atendendo tantas variáveis.
Por outro lado, Paulo de Tarso Alvin, um grande fisiologista, mostra que a temperatura e a altitude são os únicos fatores que afetam os principais processos fisiológicos – fotossíntese, crescimento, florescimento, balanço hídrico, respiração e absorção de nutrientes minerais.
Essenciais
Os nutrientes, classificados como fundamentais: carbono, hidrogênio e oxigênio (95%), os micronutrientes primários são o nitrogênio, fósforo e potássio (3), nutrientes secundários: cálcio, magnésio e enxofre (4,9%) e por fim os micronutrientes (0,1%) – boro, cobre, ferro, manganês, molibdênio e zinco.
Todos são igualmente importantes, pois na ausência ou na pouca disponibilidade de qualquer um deles as plantas não se desenvolvem normalmente.
Numa pesquisa feita pelos professores E. Malavolta, J. L. Favarin e o José Sebastião M. da Silveira tratando da média dos macros e micronutrientes contidos em duas diferentes variedades, o Catuaí Amarelo e o Mundo Novo, revela que tanto nas flores como nas folhas e nos ramos, o teor de manganês é maior no Catuaí Amarelo. Com base nesses dados o professor Malavolta concluiu: – As flores do cafeeiro constituem forte dreno temporário de nutrientes, variável de acordo com o cultivar; a acumulação dos nutrientes Magnésio e Manganês pelas flores dos cultivares Catuaí Amarelo e Mundo Novo representam alto percentual em relação ao total extraído pelas diferentes partes da planta – folhas, flores e ramos; a adubação do ceifeiro deve começar antes do florescimento.
Análise de folhas
Ü O que é? Trata-se de um procedimento analítico em que é determinado o quanto existe de nutrientes que foram absorvidos apelas plantas.
Ü Para que serve? Simplesmente para orientar produtores., técnicos e consultores para ajustar as adubações tanto de solo como foliar a serem feitas.
Ü Quando amostrar? A mais importante época é no final de abril de cada ano. Com base nos resultados, podem-se equilibrar as necessidades, principalmente de magnésio e manganês para a florada – Uma segunda amostragem, antes da segunda adubação de solo, que poderá ser aumentada, reduzida ou postergada, e uma terceira antes da terceira adubação de solo, quando também poderá ser modificada, ou mesmo postergada/cancelada, o que muito comumente acontece na prática.
Ü Que folha tomar? O terceiro par de folhas. Folhas recém-amadurecidas, geralmente com mais de três centímetros de comprimento, ou dois dedos.
Ü Onde coletar? No terço médio das plantas e dos dois lados das plantas. Interessante manter a mesma metodologia ao longo dos anos, ou seja, o mesmo empregado ou processo, no mesmo local, nas mesmas épocas.
Ü Número de folhas por amostra composta: um mínimo de 10 amostras simples deve ser misturado numa composta, que representa a área amostrada, que não deve ser maior que o talhão, ou até 10 ha.
Ü Como embalar? Em sacos de papel para evitar deformação da amostra quando da transpiração ou umidade das folhas.
Ü Como interpretar? Passar os dados para um fertigrama, onde são classificados em 5 classes, a saber: baixo, médio, adequado, elevado e muito elevado. Mais importante que os números absolutos, são os relativos. Nesse mesmo fertigrama adicionar as seguintes relações principais: N/P, N/K, N/S, N/B, N/Cu, P/Mg, P/Mn, K/Ca, K/Mg, K/Mn, Ca/Mg, Ca/Mn e Fe/ Mn. Vale lembrar que as relações são mais importantes que os números absolutos.
Sugestão para os ajustes no programa de adubação
Elementos | Teor folhas | Ajuste | Épocas |
Nitrogênio | < 25 | + 25% | No 2°, 3º e 4º parcelamentos |
25 – 32 | Manter | ||
>32 | Reduzir, postergar, cancelar | ||
Potássio | < 17 | + 25% | |
17 – 22 | Manter | ||
>22 | Reduzir, postergar, cancelar | ||
Boro | < 40 | Aplicar via foliar | |
40 – 80 | 1/2 via foliar | ||
>80 | 0 | ||
Manganês | < 100 | Aplicar via foliar | |
100-250 | Aplicar via foliar | ||
> 250 | 0 | ||
Zinco | < 12 | Aplica via solo e foliar | |
12 – 20 | Via foliar | ||
> 20 0 |
Significância
O resultado de uma análise de folhas vale, na prática, mais que uma centena de análises de solo. Estas servem mais para definir as adubações corretivas como calagem, gessagem e potassagem.
Ao contrário do praticado pelos médicos, que se baseiam mais em análises de sangue para o diagnóstico, estamos usando mais intensamente análises de solo ao invés de usar as de folhas, onde corre o sangue das plantas, a seiva.
No ano de 2018, em seis dos principais laboratórios que atuam na região onde o cultivo do cafeeiro é mais intensamente cultivado, o número de amostras de solo e de folhas foram os seguintes: solos 123.685 e de folhas apenas 30.254, ou seja, apenas 24,46% do primeiro.
Por fim, alguns lembretes: o que vale é a diferença – o que sobra no bolso; quem não mede, não controla: quem não sabe quanto custa, não sabe para onde vai…