Autor
Milton Garbugio
Presidente da Abrapa e produtor rural
miltongarbugio@gmail.com
Na safra 2018/19, a perspectiva é que o Brasil produza 2,9 milhões de toneladas de pluma, atinja 1,7 mil quilos por hectare como nível médio de produtividade, e 1,6 milhão de hectares com a commodity. Os três maiores Estados produtores são Mato Grosso, com 1,1 milhão de hectares plantados e produção de 1,9 milhão de toneladas, a Bahia, que plantou 331 mil hectares e produziu 625,6 mil toneladas e, em terceiro lugar, Minas Gerais, com área de 42,7 mil hectares e 73,6 mil toneladas de pluma.
Sob forte impacto da queda dos preços do algodão no mercado internacional, a área plantada com a pluma no Brasil, em 2020, deve ficar igual ou, no máximo, 3% maior que na safra 2018/2019. A produção esperada para o próximo período é de três milhões de toneladas de pluma, número semelhante (+1%) ao alcançado na colheita recém-concluída, um recorde de 2,9 milhões de toneladas do produto beneficiado.
As marcas levantadas para a safra 2019/20 ainda são previsão, uma vez que o plantio começa a partir de dezembro. Mas o cenário não deve se alterar muito em relação às estimativas atuais. A produtividade nas lavouras deve permanecer inalterada, ou com discreta redução (-2%), sobre o total alcançado no ano agrícola de 2018/2019, em que são previstos 1,768 quilos por hectare.
Safra
A safra 2018/19 foi marcada por preços mais baixos, tanto no mercado nacional quanto no internacional. A distribuição de chuvas mais irregular e os níveis de produtividade ficaram menores em comparação aos resultados obtidos nas duas safras anteriores.
O maior ataque de pragas, especialmente do bicudo-do-algodoeiro, alto volume de chuvas em estágios avançados da cultura e menores índices de insolação em alguns estados produtores foram as principais causas para a queda de produtividade, entretanto, a perspectiva de alcançar 1,7 mil quilos de pluma/ha para a safra 2018/19 é altamente satisfatória e ainda coloca o Brasil como o campeão em produtividade mundial de algodão em sequeiro.
Em função do atraso da colheita na safra 2018/19, na maioria dos Estados produtores, pela distribuição de chuvas mais irregular, ainda há algodão sendo beneficiado no mês de novembro nas usinas das fazendas produtoras, cooperativas e algodoeiras terceirizadas. Até o final do mês, espera-se que 100% da pluma já estejam beneficiadas e a caminho do mercado, no Brasil ou no exterior.
Crescimento das atividades cotonicultoras
Desde a safra 2016/17 o Brasil vem aumentando a área plantada e, consequentemente, o volume de fibra produzido. Os preços atrativos e viáveis para o cultivo, aliado às condições climáticas favoráveis e demanda mundial aquecida foram os fatores que mais contribuíram para o constante incremento na área e produção brasileira. A safra 2018/19 foi marcada por vários novos entrantes na cultura, principalmente, nos estados de Mato Grosso e Bahia.
Para a safra 2019/20, as perspectivas de preço internacional estão abaixo do ponto do equilíbrio de 64 centavos de dólar/libra-peso. Entretanto, nota-se que, nos últimos três meses, os patamares estão com tendência de alta.
O cenário de preços do algodão, comparado aos de soja e milho, é determinante para o cotonicultor tomar as decisões mais corretas – se vai plantar e o quanto – já que todos os produtores de algodão cultivam também soja e/ou milho. Diante ainda de um cenário não tão claro, é difícil afirmar se a área plantada sofrerá alguma alteração considerável para a safra 2019/20.
Importação x exportação
Na safra 1999/00, ano da criação da Abrapa – Associação Brasileira dos Produtores de Algodão -, o Brasil ocupava a 56ª colocação no ranking de maiores exportadores mundiais de algodão e uma das primeiras colocações entre os maiores importadores. Na safra 2018/19, o Brasil alcançou a segunda posição no ranking, atrás dos EUA, segundo o ICAC, exportando 1,31 milhão de toneladas de fibra para o mundo, especialmente, para o continente asiático.
Mais de 2,2 bilhões de dólares em divisas para o Brasil foram gerados no período. As estimativas da Câmara Setorial do Algodão e Derivados são de cerca de 2,1 milhões de toneladas a serem exportados do algodão produzido na safra 2018/19. A balança comercial (exportações menos importações) é altamente positiva, já que o volume importado dificilmente passa de 5 mil toneladas há algumas safras.
Entre os meses de agosto e outubro de 2019, o Brasil já embarcou 458.302 toneladas de pluma, montante 76% superior ao mesmo período em 2018. Isso sinaliza que, nesta safra, a exportação de algodão será maior que os 1,31 milhão embarcados.
Na safra 2018/19 o Brasil se consolidou como um grande player, passando decisivamente a influenciar o mercado, inclusive os preços. Isto porque a produção cresceu e, consequentemente, as exportações. Se tradicionalmente éramos conhecidos com um fornecedor de segundo semestre, a partir desta safra, para adequar o incremento no volume de pluma à capacidade logística de escoamento, o país Passa a ser fornecedor em 12 meses do ano.
Isso significa um posicionamento importante: garantimos quantidade (volume), frequência maior e constância no fornecimento. Somem-se a isso os diferenciais competitivos, que são fruto de um trabalho intensificado ao longo dos últimos 20 anos, seja nas fazendas, como resultado do mais acesso e incorporação de tecnologia e adoção de melhores práticas agrícolas, ou, em âmbito coletivo, por meio do associativismo.
Credibilidade
O incremento da qualidade nas lavouras foi acompanhado pelo investimento da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e afiliadas estaduais em programas para melhoria de qualidade de análise de fibra, sustentabilidade, rastreabilidade e promoção do algodão brasileiro. Isso gerou credibilidade e aumentou a procura pelo produto nacional.
Exemplos deste trabalho é o programa Standard Brasil HVI (SBRHVI), que padronizou e integrou os laboratórios de análise de fibra que atendem aos produtores no Brasil, e se fundamenta em três pilares: o Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA), a orientação aos laboratórios e o banco de dados da qualidade.
O CBRA é certificado internacionalmente pelo renomado ICA Bremen, sendo parte de um seleto grupo de laboratórios no mundo que recebem a chancela desta instituição.
Visão panorâmica da atividade
A alta da procura internacional pelo algodão aumentou o interesse dos produtores brasileiros nesta cultura nas últimas safras. A expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que as exportações da pluma possam atingir cerca de 1,5 milhão de toneladas, um aumento de 60% na quantidade embarcada na safra passada.
Segundo a Conab, a safra passada trouxe um resultado recorde para a cotonicultura brasileira, dentro de sua série histórica, tanto em volume colhido quanto em destinação de área para tal produção.
Da mesma forma, a expectativa para a temporada atual é otimista, com perspectiva de incremento na área plantada, bem como uma produção próxima àquela verificada em 2018/19, devendo ultrapassar novamente as 6,0 milhões de toneladas com o algodão em caroço.
O cultivo de algodão é realizado por produtores altamente tecnificados, que dispõem de um bom pacote tecnológico e de insumos. Além disso, a cultura passa por uma translocação do período de plantio, na maioria dos Estados, aproveitando as chuvas no desenvolvimento da planta e, na época da colheita, aproveitam-se de um clima mais seco, ideal para uma pluma de boa qualidade.
Paraná
O cenário favorável também atrai o interesse pelo cultivo da fibra em algumas antigas regiões produtoras, a exemplo do Paraná. Para o período 2018/19, as estimativas apontam que sejam plantados 700 hectares.
Na safra 1989/90, o Estado foi o principal produtor do País, quando chegou a concentrar 50% da produção total. Entretanto, naquele ano as lavouras foram dizimadas devido às condições climáticas desfavoráveis e aos baixos preços da pluma praticados pelo mercado, o que levou o estado a abandonar o cultivo de algodão por alguns anos agrícolas.