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Greening é a mais destrutiva doença dos citros?

Autores

Tais Santo Dadazio
Engenheira agrônoma, mestra, doutora em Proteção de Plantas e professora de Fitopatologia – FIB e Unisalesiano
tais.dadazio@hotmail.com
Roque de Carvalho Dias
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia – UNESP/FCA
roquediasagro@gmail.com
Leandro Tropaldi
Engenheiro agrônomo, mestre, doutor em Proteção de Plantas e professor de Plantas Daninhas – UNESP – Dracena
l.tropaldi@unesp.br

Crédito: Shutterstock

O huanglongbing (HLB) ou greening é causado pela bactéria Candidatus Liberibacter spp., que é transmitida à planta por um inseto vetor, o psilídeo Diaphorina citri. Outra forma de transmissão da doença é o uso de borbulhas retiradas de plantas infectadas, que originam mudas contaminadas, sendo um importante meio de disseminação da bactéria a longas distâncias.

O HLB foi relatado pela primeira vez no Sul da China em 1919, sendo a doença mais importante e destrutiva da citricultura mundial. Originada da Ásia, em 2004 foi identificado o primeiro foco da doença no País no Estado de São Paulo. Logo em seguida, em 2005 já estava presente em Minas Gerais e no Paraná, e atualmente se encontra disseminada em todo o mundo, sendo a patologia mais grave da cultura.

Alerta

O greening ataca todos os tipos de citros. O inseto e a bactéria se reproduzem em toda a família de citros, tais como laranjas, tangerinas, mexericas, limas-ácidas e limões. Os vetores podem se reproduzir também na planta ornamental Murraya paniculata, conhecida como murta, falsa-murta ou dama-da-noite.

As árvores novas afetadas não chegam a produzir e as adultas em produção sofrem uma grande queda prematura de frutos e definham ao longo do tempo, causando inúmeros prejuízos ao produtor. Além disso, não há cura para as plantas doentes e nem variedades resistentes, o que torna este um grande problema, e a planta contaminada precisa ser erradicada.

Por afetar diretamente a produção e não ter cura, a doença tem causado a destruição de pomares, interferindo no setor citrícola e nos milhões de empregos gerados direta e indiretamente. Atualmente, a doença está presente em 32,2 milhões de plantas frente a 194 milhões de árvores infectadas.

Outro grande problema que torna o greening a doença mais grave da citricultura, além da dificuldade de manejo, é a facilidade de disseminação da doença. O psilídeo D. citri não tem limitações climáticas, enquanto que os adultos permanecem nas folhas e ramos numa inclinação de 45º, o que ajuda no seu reconhecimento.

O vetor adquire a bactéria, se alimentando de plantas doentes. Uma vez que adquiriu a bactéria, mesmo no estágio ninfa, nunca mais a perde, daí a necessidade de todas as plantas com sintomas da doença serem eliminadas, independente de se adotar ou não o controle químico do vetor.

Assim, além de ter grande facilidade de disseminação, estar presente em todas as regiões produtoras e não ter cura, o greening reduz diretamente a produtividade e qualidade dos frutos e sucos.

Danos

De acordo com dados do Manual Técnico do Fundecitrus (2009), os danos se iniciam com a presença de ramos de coloração amarela, em contraste com a coloração verde das folhas sadias, reduzindo a área fotossintética. Com o passar do tempo o sintoma começa a aparecer em outros ramos, até tomar toda a copa das plantas.

Um sintoma típico observado em todas as áreas onde a doença está presente, independente do agente causal, do hospedeiro e da condição ambiental, é o “mosqueado”, em que ramos perdem parte da sua coloração verde, apresentando-se parcialmente amarelos e verdes, sem delimitação clara entre essas duas colorações.

Já os maiores prejuízos ocorrem nos frutos de ramos sintomáticos, que podem apresentar-se de tamanho reduzido, assimétricos, incompletamente maduros e com a região estilar mantendo-se verde, diferente de frutos de ramos sadios. Cortes perpendiculares ao eixo desses frutos permitem a observação de assimetria dos mesmos, e também de sementes abortadas e vasos alaranjados.

Progressão da doença

Com o progresso dos sintomas aumenta a proporção e a queda de frutos sintomáticos, podendo ocorrer redução na produção de frutos de até 100%, dependendo da proporção da copa afetada. Além da queda precoce, frutos sintomáticos são menores e apresentam-se mais ácidos e com menores valores de °Brix, porcentagem de suco e sólidos solúveis, reduzindo a qualidade do suco.

No entanto, o HLB não provoca a morte das plantas, as quais, com o passar dos anos, ficam debilitadas e improdutivas. Observações de pomares afetados em diferentes regiões citrícolas do mundo, inclusive em São Paulo, revelam que pomares inteiros podem tornar-se inviáveis economicamente entre sete e dez anos após o aparecimento da primeira planta sintomática, se medidas de controle não forem adotadas (Belasque Junior et al., 2009). 

Esse tempo pode ser menor para pomares jovens, de até quatro anos, os quais se tornam economicamente inviáveis em até cinco anos.

Controle

Em 2018 a Fundecitrus disponibilizou uma cartilha com conjuntos de 10 práticas para o controle do greening que devem ser seguidas rigorosamente para obter um bom resultado, ressaltando o planejamento e escolha do local de plantio, plantio de mudas sadias e certificadas, aceleração do crescimento e da produtividade das plantas, manejo intensificado na faixa de bordadura, onde está a maior quantidade de vetores, inspeção de plantas, erradicação das plantas com sintomas, monitoramento e controle do psilídeo, manejo regional e alerta fitossanitário, além de ações externas de manejo.

O monitoramento é uma prática muito importante para a identificação de plantas sintomáticas, notando a presença ou ausência de sintomas e sinais visuais. A maioria das plantas sintomáticas são encontradas nas bordaduras dos talhões.

A realização do controle cultural por meio do monitoramento, quando identificada a planta doente, é um fator muito importante para eliminar fontes de inóculos, evitando a disseminação da doença. Um dos meios para esse controle é a erradicação das plantas doentes, garantindo a sanidade do pomar.

Novamente ressaltamos a importância da erradicação das plantas doentes, o que diminui o nível de dano causado, uma vez que manter plantas doentes no pomar consequentemente afetará negativamente a produtividade, com redução gradativa da qualidade dos frutos, além de serem fontes contaminadas e que podem disseminar e até mesmo em colocar risco a área para replantio.

Prevenção

Para o greening, outra estratégia de manejo consiste no controle do inseto vetor, o psilídeo, que é o transmissor da doença. Podemos utilizar várias técnicas neste manejo, mas atualmente o controle químico vem sendo o mais eficaz, com inseticidas para combatê-lo. Diferentes princípios ativos estão disponíveis para reduzir o risco de descendentes resistentes.

A aplicação química é feita a cada 15 dias periodicamente por meio de pulverizadores, evitando grandes infestações. A maneira mais eficaz para aplicar o inseticida é do meio do talhão para as bordas, cobrindo uma área maior e induzindo os psilídeos para fora do pomar.

Entretanto, há também o controle biológico, uma alternativa que não agride o meio ambiente e que reduz a população do inseto vetor. No controle biológico pode ser usada uma vespa predadora do psilídeo, a Tamarixia radiata, que naturalmente ocorre no campo em áreas com baixo controle químico ou em áreas de cultivo orgânico. Outra alternativa é o fungo entomopatogênico Isaria fumosorosea, que pode ser inoculada na área.

A soltura da vespa não causa desequilíbrio ambiental e deve ocorrer somente em locais onde não há controle químico, como pomares abandonados, chácaras e quintais com plantas de citros ou murtas, nas zonas rural e urbana.

A Tamarixia radiata é um parasitoide que utiliza as ninfas do psilídeo para se reproduzir, matando-as no processo. A vespa, de aproximadamente 3,0 mm, deposita seus ovos embaixo das ninfas, que servirão de alimento para as larvas quando elas crescerem. Cada vespa pode eliminar até 500 psilídeos.

Enquanto a Isaria fumosorosea é a primeira alternativa biológica registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo um pó concentrado, em que os conídios agem por contato, aderindo ao tegumento do inseto, o fungo germina e produz um complexo de enzimas que degradam o tegumento do inseto. Uma vez no interior do inseto, o fungo continua a produzir enzimas e metabólitos que levam o inseto à morte.

Com isso, se faz necessário um manejo integrado do vetor, uma vez que ainda não há métodos de controle para a bactéria, e assim, não há uma cura definitiva para a doença.

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