Autores
Daniele Brandstetter Rodrigues – Engenheira agrônoma e doutora em Ciência e Tecnologia de Sementes – ufpelbrandstetter@hotmail.com
Erica Camila Zielinski – Engenheira agrônoma e mestranda em Produção Vegetal – Universidade Federal do Paraná (UFPR) – ericacamilazielinski@gmail.com
Daniela Andrade – Engenheira agrônoma e mestra em Fitotecnia – daniela.agronomia@hotmail.com
O sucesso na implantação de uma lavoura está associado à qualidade da semente utilizada, bem como à proteção que ela recebe. Dessa forma, para um bom estabelecimento e desenvolvimento da semente é necessário que esta seja protegida de microrganismos e insetos que possam danificá-la. Por isso o tratamento de sementes é um dos fatores essenciais para a obtenção de uma lavoura uniforme e, consequentemente, de alta produtividade.
Primeiramente, é importante destacar que o tratamento de sementes de soja ocorre em duas modalidades atualmente, que são o chamado on farm, realizado diretamente na fazenda, e o tratamento industrial de sementes (TSI).
Entre um e outro
Existem diferenças significativas no tratamento entre estas duas maneiras. No tratamento de sementes on farm o nível de precisão e tecnologia, a priopri, é inferior ao TSI, devido à dificuldade de realizar a dosagem correta dos produtos e uma cobertura uniforme da semente, além de oferecer maiores riscos à saúde.
No entanto, esse tipo de tratamento oferece ao produtor o critério de escolha dos produtos a serem utilizados. Já o tipo TSI tem a grande vantagem ter um nível de tecnologia agregado, podendo ser realizado no pré-ensaque, antes do armazenamento ou no momento da entrega das sementes ao produtor.
A maioria da comercialização de semente de soja é feita com TSI incluso, possivelmente pelos seguintes benefícios: proteção às sementes e plântulas contra fungos de solo, evitar o desenvolvimento de epidemias no campo, maior precisão do volume de calda e na dose de produtos por unidade de semente, melhor cobertura da semente com o produto químico (uniformização), menor risco de intoxicação dos operadores e maiores rendimentos por hora.
Além do mais, alguns produtores preferem adquirir as sementes já tratadas (TSI), por agregar maior praticidade ao sistema produtivo, afirmando-se o porquê da maior quantidade de sementes tratadas serem oriundas do tratamento industrial ao invés do on farm.
Benefícios do tratamento de sementes
O tratamento de sementes, atualmente, é de vital importância para o controle de doenças e insetos que tanto acometem as plantas no seu desenvolvimento inicial. Alguns produtos, inclusive, expressam efeitos aditivos benéficos na garantia da expressão do vigor no estabelecimento das culturas.
Ainda, o tratamento inúmeras vezes contribui para que o produtor postergue pulverizações, então, o TSI acaba sendo, de fato, efetuado por parte dos agricultores em virtude da sua eficácia sistêmica e efeito residual após semeadura.
Culturas beneficiadas
As culturas que atualmente utilizam o tratamento químico de sementes no Brasil são: mais de 90% de soja, milho algodão, mais de 70% de trigo e mais de 50% de arroz (Peske e Platzen, 2019).
Manejo
Para a implantação do tratamento de sementes industrial, é necessário ter uma estrutura específica, com máquinas especializadas para realização do tratamento. O processo consiste na utilização de sementes testadas, dentro dos padrões de qualidade estabelecidos, na qual são adicionados os produtos do tratamento como fungicida e inseticida diluídos em água, acrescidos de corante e polímero. Caso sejam utilizados organismos biológicos no processo, os mesmos são adicionados separadamente da calda, quase na hora do plantio.
Para a aplicação do TSI, as sementes passam por uma esteira que realiza a correção do peso com a dosagem que deve ser aplicada e os produtos são adicionados por meio de jatos dirigidos, permitindo uniformidade de distribuição.
Após esse processo, pode ser realizada adição de pó secante, com o intuito de deixar a semente mais uniforme e lisa para a etapa de plantio. Após o tratamento, outra etapa de testes é realizada nos lotes tratados, visando verificar se o processo e os produtos utilizados não afetaram a qualidade da semente. Caso aprovado, a semente estará pronta para a comercialização.
Produtividade
Considerando a produtividade da propriedade, o TSI possibilita maior agilidade para o produtor no momento do plantio, visto que as sementes já chegam prontas, tornando o processo mais rápido e produtivo, sendo necessário menor dispêndio de tempo e equipamentos, possibilitando maior assertividade na janela produtiva.
Em campo
[rml_read_more]
Grande número de microrganismos fitopatogênicos podem ser transmitidos pelas sementes e, como consequência dessas implicações, ocorre redução da produtividade e aumento do custo de produção para o controle dessas doenças.
Vários exemplos podem corroborar a importância de emprego de sementes sadias e os riscos advindos do emprego de sementes portadoras de agentes patogênicos. No caso específico da soja, de acordo com posicionamento da Embrapa, as doenças mais relevantes de transmissão e introdução via sementes na propriedade são o cancro-da-haste (Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis) e o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), podendo ser causado devido à ausência e/ou inadequação de tratamento de semente.
Considerando os princípios de controle de doenças, o tratamento de sementes com defensivos se enquadra em dois deles: a erradicação e a proteção/prevenção. O tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas pode prevenir ou retardar a disseminação desses patógenos. Entretanto, o manejo integrado das doenças da soja consiste em aplicar práticas conjuntas necessárias à obtenção de uma lavoura sadia.
Erros
Deve-se tomar cuidado com os pacotes de tratamento de sementes, quanto do TSI ou on farm, porque podem ser utilizada uma grande quantidade de produtos na mesma semente, como a combinação de fungicidas, inseticidas, inoculantes, micronutrientes, nematicidas, reguladores de crescimento e polímeros, que podem provocar fitotoxicidade às sementes devido ao excesso de produtos, que talvez nem sejam necessários à realidade daquele produtor.
O efeito fitotóxico do tratamento pode afetar a qualidade fisiológica das sementes, diminuir a germinação e a emergência de plântulas, por provocar engrossamento, encurtamento, rigidez e fissuras longitudinais em hipocótilos, retardamento do desenvolvimento vegetativo da parte aérea das plantas, e em algumas situações a presença de multibrotamento no nó cotiledonar, reduzindo assim o estabelecimento e a produtividade da cultura.
Uma maneira de evitar esses efeitos seria a compra de sementes tratadas com certificado de garantias de qualidade pela empresa que oferta o produto. E, caso o produtor opte pelo tratamento on farm, deve procurar auxilio e suporte de um agrônomo para a operação ser realizada com qualidade e sem excessos.
Investimento x retorno
Segundo dados de Richetti e Goulart (2018), o custo do tratamento de sementes de soja gira em torno de R$ 46,53/ha, atualmente representando 1,48% do custo total da produção de soja. O TS caracteriza-se como um ‘seguro barato’ que o agricultor faz previamente à implantação de sua lavoura.
Com vistas à possível necessidade de ressemeadura, por exemplo, a segurança que as sementes tratadas agregam é determinante, já que a necessidade de semear novamente uma mesma área pode custar 11,34% a mais.
O custo-benefício se traduz também no fato de que o retorno benéfico é verificado em curto prazo, ou seja, no bom estabelecimento inicial, que tanto contribui para altas produtividades na colheita e durante a condução das lavouras na ausência da necessidade de aplicações pulverizadas.