Autor
Bartolomeu Braz Pereira – Presidente da Aprosoja Brasil – Associação Brasileira dos Produtores de Soja
O campo não parou por causa da Covid-19. A agricultura e as atividades de apoio, como o transporte, foram consideradas áreas essenciais pelo governo federal para o enfrentamento da pandemia. Dessa forma, os alimentos continuam chegando à mesa dos brasileiros e ao mercado internacional. A safra deste ano, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 251,8 milhões de toneladas de grãos, dá indicativos nesse sentido.
O Brasil bateu novo recorde de exportações em março (13,3 mi de t contra 12,3 mi de t em maio de 2018) e já escoou mais de 35 mi de t neste ano. Cerca de 60% da safra 2019/2020 já foram comercializadas e mais de 30% da safra 20/21, esta última a maior parte para a China.
Conforme dados fornecidos pelo Departamento Norte Americano de Agricultura (USDA) e pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria e Comércio (Secex), o Brasil tem 50% das exportações mundiais de soja, 25% de participação no comércio internacional de farelo e 17% das vendas de milho para o exterior. Cerca 40% do total exportado pelo agronegócio vem do complexo soja.
A contribuição da soja para o Brasil vai muito além dos números apresentados e sua importância para a economia do País é inquestionável. De cada US$ 100 exportados pelo País, US$ 14 são oriundos da soja. A oleaginosa é responsável por boa parte do superávit de US$ 48 bilhões de 2019 e dos mais de US$ 300 bilhões acumulados nos últimos anos em reservas cambiais pelo Brasil.
Socialmente falando
No âmbito social, o grão também traz impacto positivo. Mais de 243 mil produtores vivem da cultura da soja no País e geram 1,4 milhão de empregos diretos e outros milhões de forma indireta e induzida, sendo responsáveis por boa parte da arrecadação de impostos dos dois mil municípios do interior em que o grão é cultivado. A oleaginosa contribuiu com a interiorização do País e o seu desenvolvimento, além da produção de óleo e carnes a preços acessíveis para toda a população.
Segundo dados das Nações Unidas, nos municípios em que a soja passou a ser cultivada, a qualidade de vida das pessoas melhorou. Em 1991, 79% dos municípios rurais apresentavam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo e 20% deles muito baixo. Em 2018, 57% dos municípios rurais passaram a apresentar IDH alto e 38% deles IDH médio.
A produção brasileira de grãos alimenta mais de 1 bilhão de pessoas em todo mundo. Nos últimos 30 anos o Brasil tornou-se um gigante na produção de alimentos, dado o empreendedorismo dos produtores rurais, a disponibilidade de terras, a alta competitividade alcançada com dinamismo e tecnologia incorporada e, sobretudo, a crescente demanda mundial por alimentos.
Demanda
Não é possível falar de demanda de alimentos sem citar a Ásia e os 1,4 bilhão de chineses. No caso da soja, coincidência ou não, foi nos últimos 30 anos que a China assumiu o protagonismo nas importações.
Se o Brasil tem US$ 48 bilhões de superávit na balança comercial, é graças, em boa medida, aos grãos de soja que exportamos para aquele país. Em 2019, em valores acumulados, dos US$ 26 bilhões exportados, o equivalente a 78% seguiu para a China. E, por tratar-se de segurança alimentar, podemos dizer que nossa parceria é sustentável. Mais do que isso: é essencial e deve perdurar por muitos anos.
A China passa por transformações demográficas e econômicas que fizeram com que a demanda por grãos aumentasse. A ascensão da classe média faz com que as famílias possam aumentar o consumo de carne per capita e o atendimento a essa demanda só é possível se eles tiverem soja e milho de qualidade e com os preços competitivos dos grãos brasileiros.
Em relação ao Brasil, o mundo pode ficar tranquilo que os produtores de soja e milho seguirão garantindo safras recordes e excedentes para entregar alimentos aos nossos clientes internacionais.
Levando em consideração a crescente demanda, não nos causa preocupação a possibilidade de arrefecimento da guerra comercial entre China e Estados Unidos. A primeira fase do acordo comercial traz estabilidade ao mercado, mas não garante compras de soja dos EUA por parte da China, que segundo as autoridades chinesas, comprará de acordo com o preço e a disponibilidade.
Há perspectiva de compras a partir do segundo semestre com a entrada da safra norte-americana no mercado. Por enquanto, porém, só compras pequenas e pontuais.
Qualidade atrai atenção
Um dos fatores que faz com que o produto nacional seja mais procurado é a sua qualidade. A soja brasileira tem maior teor de óleo e proteína em comparação com grãos produzidos nos Estados Unidos e na Argentina, sendo fortes atrativos, principalmente, para os chineses.
A soja brasileira é mais competitiva que a dos concorrentes diretos. É um produto de qualidade superior e de melhor custo-benefício para a produção de proteína animal. Não existe, atualmente, outra proteína mais acessível e competitiva do que a soja brasileira.
Somado a isso, devido ao nosso clima, produzimos de duas a três safras de grãos por ano, algo que não existe em nenhum lugar do mundo. Apesar desses aspectos, que são alguns dos diferenciais da nossa competitividade, a rentabilidade do produtor tem sido achatada devido aos cada vez maiores custos de produção, principalmente com insumos como defensivos, sementes e combustíveis. Apesar da rentabilidade estar menor, o setor tem dado grande contribuição ao País.
Vantagens da exportação
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A comercialização possibilita a entrada de dólares no Brasil, a manutenção de empregos, o fortalecimento da agroindústria, dos serviços e do comércio, além de promover o desenvolvimento das cidades no interior.
É importante frisar que a maioria dos produtores fez negócios de soja para a safra atual de forma antecipada, portanto, não fecharam soja a mais de R$ 90,00 reais a saca. Na média, fecharam negócio em torno de R$ 80,00. A alta do dólar aqueceu os preços e permitiu aos produtores buscarem as oportunidades proporcionadas pelo câmbio favorável e pelo aumento da demanda, que começa a se recuperar após a epidemia.
Estratégia é o plano
Porém, é preciso estar atento à melhor estratégia diante da elevação dos custos para aquisição de insumos para a próxima safra. Com a escalada do dólar e a compra de insumos pra a safra seguinte na moeda americana, a receita líquida dos produtores está sendo reduzida.
Não sabemos o que vai acontecer com o dólar. O importante é buscar a negociação futura para garantir menor custo de produção. Sabemos que esses custos vão subir bastante. Mas, é um tema que teremos de enfrentar para garantir melhores custos de produção na safra 2020/21.
Potencial do agronegócio – Além das expectativas
Talita de Santana Matos – Engenheira agrônoma, doutora e pós-doutoranda – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRRJ) – talitasmatos@gmail.com
Elisamara Caldeira do Nascimento – Engenheira agrônoma, doutora e pós-doutoranda – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) – elisamara.caldeira@gmail.com
Glaucio da Cruz Genuncio – Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Ciência do Solo e professor de Fruticultura – UFMT/FAA/DFF – glauciogenuncio@gmail.com
O agronegócio é considerado setor essencial da economia, sendo responsável por aproximadamente metade das exportações do País, o que demonstra grande poder sobre o saldo positivo na balança comercial brasileira. E mesmo com as complicações causadas pela pandemia de Covid-19 que desestabilizaram as economias mundiais, as participações das exportações brasileiras têm sido animadoras, se aproximando das projeções definidas para 2020.
Recordes brasileiros
Abril foi de recorde para as exportações de alguns produtos da agropecuária brasileira, como mostram os dados divulgados pelos Ministérios da Agricultura (MAPA) e da Economia referentes à balança comercial. Produtos como soja, carnes bovina e suína, e algodão tiveram desempenho positivo nas vendas externas, apesar da pandemia de coronavírus, e registraram novas marcas históricas, segundo o governo.
Além do complexo soja, em 2019 o milho teve aumento de 123% em valor e 130% em volume. A alta produção interna, superior a 100 milhões de toneladas, e a quebra na safra americana favoreceram as vendas. O país é o terceiro maior produtor de milho e o segundo maior exportador.
Em volume, o algodão (86% de aumento) e o café verde (11,3%) também tiveram destaque, e segundo o sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio Agrostat Brasil (MAPA), a elevação nas vendas de carne brasileira também foi decisiva para o volume das exportações. A bovina aumentou 10% e o frango in natura, 9%. Comparando com 2018, o crescimento foi em torno de 5%.
De acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), as exportações brasileiras apresentaram participação recorde com valores superiores a 28% para o período, tendo como maior coadjuvante os produtos do complexo soja. Entretanto, as safras de outros produtos como açúcar, milho e café também tiveram alta, aumentando assim sua participação nas exportações.
Em destaque
Para o primeiro trimestre de 2020, os produtos do complexo soja, café, produtos florestais e matéria-prima para indústria têxtil alcançaram vendas superiores em relação ao primeiro trimestre de 2019. Neste período, os produtos do completo soja somaram 35%, as carnes aproximadamente 19%, os florestais, 13%, o açúcar, quase 7% e o café, 6%, do total da exportação ligada ao agronegócio.
O que totaliza a soja, foram realizados embarques de 16,3 milhões de toneladas. O recorde anterior tinha sido em março deste ano, de 11,64 milhões de toneladas. O farelo de soja também registrou nova marca em abril: 1,7 milhão de toneladas, informou o MAPA.
Pelo critério da média diária, usado pelo Ministério da Economia para comparar os números, houve um crescimento de 82,1% nos volumes exportados de soja, em relação a abril de 2019, contabilizando média de 815,42 mil toneladas. Em receita, a média diária foi de US$ 272,98 milhões, aumento de 73,51% na mesma comparação.
Os esforços do MAPA para manter o abastecimento e as exportações nesse período de pandemia têm apresentado resultados positivos, com a abertura de novos mercados, principalmente para outros produtos.
Alguns fatores foram primordiais para tornar a soja a principal commodity do agronegócio. Entre estes fatores destacam-se a cotação elevada da soja no mercado internacional, a partir de meados dos anos 70, tornando o produto competitivo no mercado internacional; facilidades de mecanização total da cultura; estabelecimento de uma rede de pesquisa, afim de permitir que a cultura fosse produzida nas diferentes regiões do País, substituição das gorduras animais por óleos vegetais; utilização em rações animais; política agrícola de incentivo à produção, principalmente o crédito agrícola; pacote tecnológico eficiente; competência dos agricultores e investidores.
Avanços do agronegócio
A demanda por alimentos será sempre crescente, estimulando sua produção, o que motiva os investimentos e favorecem os avanços do agronegócio no Brasil, que apresentam tendência de continuar crescendo e aumentado sua participação no PIB.
Os mercados da Ásia cada vez mais necessitam de produtos produzidos no Brasil e a cada ano vamos abrindo novos mercados e diversificando os produtos para exportação. A produção de carnes já conseguiu iniciar o processo de habilitação para alguns países asiáticos e com ações corretas para abertura de novos mercados, temos grandes chances de nos tornar absolutos no agronegócio mundial. Sendo assim, o agronegócio vem se consolidando como um dos principais pilares da economia brasileira.
O cenário Brasileiro proporciona a transformação do Brasil em um dos maiores produtores de alimentos do mundo, com grande potencial para se tornar o maior produtor mundial. Temos, além de grandes áreas agricultáveis, recursos naturais, disponibilidade de água e variáveis climáticas que possibilitam o desenvolvimento de uma grande variedade de culturas em regiões distintas.
Junto com o investimento em práticas que permitem uma exploração desses recursos de forma sustentável com pacotes tecnológicos que aumentam a eficiência de produção (incluindo tecnologias em manejo, melhoramento genético e controle de pragas), essas ações permitem a elevação da produção de alimentos, possibilitando inclusive o cultivo de até três ciclos por ano.
Não se pode deixar de destacar que os produtores rurais são peças fundamentais nesse processo que, com sua coragem, audácia e investimento, vêm transformando a agricultura do Brasil. Além disso, é importante o investimento em conhecimento não só de tecnologias, mas de mercados consumidores, o que facilita as tomadas de decisões, identificando quais ações têm mais chances e em quais devem investir.
Desafios
Um gargalo ainda existente que interfere na dinâmica desses produtos (principalmente carnes e frutas) é a logística de distribuição, além de toda a limitação de tráfego dessas mercadorias, problemas com a falta de disponibilidade de contêineres refrigerados, por exemplo, ainda são limitantes para a exportação desses produtos.
O patamar atual do agronegócio brasileiro nessa safra foi influenciado positivamente pelos problemas climáticos nos Estados Unidos, a alta do câmbio e a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que levou o Brasil a ganhar espaço no mercado chinês e, como dito anteriormente, o aumento em outras commodities, como carne, milho e algodão. A possibilidade da abertura de novos mercados na Ásia e na África é, sem dúvida, bastante promissora.
Com a retomada das atividades econômicas chinesas, acredita-se que todo o potencial de vendas atinja a normalidade até o final do ano. O mês de abril já registrou saldo superior ao mesmo mês do ano passado, com as exportações ultrapassando a marca de US$ 10 bilhões, somando algo em torno de US$ 31,40 bilhões para os primeiros quatro meses de 2020 (MAPA).
Sustentabilidade colocada à prova
Hoje, o agronegócio sozinho representa 21,1% do PIB brasileiro, de acordo com dados do SNA (Sistema Nacional de Agricultura). Mesmo com todo esse destaque e com a posição ocupada pelo agronegócio brasileiro, para que possamos nos tornar o celeiro mundial é necessário ainda investir em sustentabilidade, aplicando tecnologias e desenvolvendo políticas que atuem no processo de proteção de recursos naturais com ênfase nos biomas como a Mata Atlântica, a Amazônia, a Caatinga e Cerrado.
É consenso que uma imagem mais atrelada às práticas sustentáveis é fundamental para ajudar o País a conquistar novos mercados e a desmistificar preconceitos. Também é fundamental ter garantias de maior segurança alimentar no Brasil.
Para os especialistas, as perspectivas são bastante otimistas – mesmo com o acordo EUA-China, que encerrará a guerra comercial entre os dois países, o cenário é promissor para o agronegócio brasileiro no comércio internacional, em 2020 e para os próximos anos.
– O Brasil tem 50% das exportações mundiais de soja
– Cerca 40% do total exportado pelo agronegócio vem do complexo soja.
– De cada US$ 100 exportados pelo País, US$ 14 são oriundos da soja
– A oleaginosa é responsável por boa parte do superávit de US$ 48 bilhões de 2019 e dos mais de US$ 300 bilhões acumulados nos últimos anos em reservas cambiais pelo Brasil.