21.6 C
Uberlândia
quarta-feira, janeiro 15, 2025
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosHortifrútiMamão orgânico: Como plantar?

Mamão orgânico: Como plantar?

Autores

Marcelo de Souza SilvaEngenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura e professor – FAEF – Garça – SPmrcsouza18@gmail.com

Aline Mendes de Sousa GouveiaEngenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura e professora – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO)aline_mendes@fio.edu.br

Mamão – Créditos: Shutterstock

O Brasil é responsável por 10,9% da produção mundial de mamão, o que equivale a 1,4 milhão de toneladas da fruta. Nos últimos anos, o Brasil arrecadou, só com exportações de frutos, um valor correspondente a US$ 42 milhões, mas a maior parte de sua produção é consumida no mercado interno.

Vale destacar que as principais regiões exportadoras brasileiras estão localizadas nos Estados do Espírito Santo e do Rio Grande do Norte, que juntos enviaram cerca de 60% do volume destinado à União Europeia na média dos últimos cinco anos.

O Espírito Santo está no primeiro lugar no ranking dos exportadores brasileiros. Apesar do mamão ter grandes problemas fitossanitários, o clima é propício ao cultivo na região norte do Estado, assegurando, assim, o padrão exigido para comercialização internacional.

Mudança de paradigmas

O cultivo de mamoeiro no sistema orgânico pode assustar alguns produtores rurais devido à necessidade de implementar o manejo nutricional, pragas e doenças de forma sustentável e natural, além da aplicação de outras práticas de manejo que garantam bons índices produtivos.

Para o plantio do mamoeiro em sistema orgânico, primeiramente o produtor necessita consultar serviços de assistência técnica para correto manejo da cultura, escolher a área que será destinada ao plantio e, se necessário, aplicar práticas que visem a recomposição da microbiota do solo, implantar áreas de quebra-vento e contornos, além de recompor os elementos da paisagem florestal.

Todo esse procedimento antes da implantação da lavoura, no caso do papaya, pode levar até quatro anos. É importante mencionar que o principal trabalho é a recuperação do solo por meio de adubação verde, com amplo leque no plantio de leguminosas e de compostos orgânicos. Isso serve para recuperar a atividade microbiológica do solo.

Do plantio à colheita

Nas diferentes regiões produtoras brasileiras, a produção de mudas é realizada principalmente via sementes. Em geral, um grama de sementes contém, aproximadamente, 60 sementes. Para o plantio de um hectare, com densidade de 1.666 plantas, são requeridos 130 g de sementes, se forem utilizadas duas sementes por saquinho e duas mudas por cova. Caso sejam utilizadas três sementes por saquinho e três mudas por cova – o que é mais recomendado –, serão necessários, aproximadamente, 300 g de sementes.

As mudas podem ser produzidas com substrato na proporção de três partes de terra, uma de areia e uma de composto orgânico. Recomenda-se colocar de duas a três sementes em cada saco de polietileno, e cobri-las depois com uma camada de 1,0 a 2,0 cm de terra fina e peneirada. 

Sempre que possível, deve-se compensar falhas na germinação e perdas no viveiro e no replantio em campo. Recomenda-se produzir um excedente de 15% de mudas, em relação à quantidade prevista para o plantio.

Entre 10 e 20 dias após a semeadura ocorre a germinação. Deve-se desbastar as mudinhas ainda no saco de polietileno, quando as plântulas tiverem a altura de 3,0 a 5,0 cm, e deve-se deixar apenas a muda mais vigorosa em cada saquinho. De 20 a 30 dias após a germinação, inicia-se a seleção das mudas para o plantio. Elas devem estar livres de pragas e de doenças, e com altura de 15 a 20 cm.

Não dispondo de sistema de irrigação, as mudas devem ser levadas para o campo no início das chuvas. Existem três sistemas de plantio comercial: em cova (covas com 30 cm x 30 cm x 30 cm de dimensões), no sulco (empregado em grandes lavouras), e em camalhões (recomendado em áreas sujeitas a encharcamento).

Próximo passo

[rml_read_more]

Para o plantio, deve-se retirar três mudas dos sacos de polietileno, colocá-las no berço de plantio, com o cuidado de posicionar o colo ou a base das plantas no nível do solo, no espaçamento recomendado, e a uma distância aproximada de 20 cm umas das outras. O espaçamento para plantio pode ser de 3,0 a 4,0 m entre as linhas, e de 1,80 a 2,50 m entre plantas.

Como o mamoeiro apresenta diferentes tipos de flores (masculinas, femininas e hermafroditas) e estas determinam o formato e as características dos frutos, deve-se aplicar o desbaste de plantas (sexagem) com o surgimento das primeiras flores (três a quatro meses do plantio), deixando apenas uma planta (hermafrodita) por cova.

Essa prática facilita os tratos culturais e diminui a competição entre as plantas. A preferência dos mercados, interno e externo, por frutas de forma alongada determina a seleção de plantas hermafroditas.

Durante a condução da lavoura, deve-se realizar o controle de plantas daninhas com uso de capinas manuais e/ou mecânica, evitando-se a danificação do colo das plantas e o sistema radicular. Em seguida deve-se fazer a remoção das brotações laterais que surgem nos caules das plantas; e com o início da frutificação deve-se realizar o desbaste de frutos defeituosos e aqueles muito pequenos.

O mamoeiro apresenta um ciclo de vida relativamente curto, com maturação dos frutos de quatro a seis meses após a abertura da flor.

Adubação

Os solos tropicais, presentes nas principais regiões produtoras de mamão do Brasil, apresentam baixo teor de nutrientes e de matéria orgânica. Para realização do manejo da adubação faz-se necessário a realização prévia da análise química do solo.

Vale destacar que a calagem deve ser realizada visando elevar o valor do V% do solo para 70%. Não é recomendado aplicar mais de 4,0 t ha-1 de calcário no solo, mesmo se incorporado. Se a aplicação for realizada sem incorporação, não ultrapassar 2,0 t ha-1, com intervalo de novas aplicações de cinco a seis meses.

Embora dependa da análise do solo, para a adubação de plantio, em geral, recomenda-se a aplicação de 60 kg de nitrogênio (N) e 40 kg de fósforo (P2O5) ha-1. A adubação verde é outra prática que pode ser adotada para manter a cobertura, proteger e melhorar a estrutura física do solo.

Além disso, as leguminosas utilizadas como adubo verde auxiliam na fixação biológica de N. São, portanto, materiais orgânicos ricos nesse elemento, e devem ser cultivadas em pré-plantio e/ou nas entrelinhas de cultivo do mamoeiro.

 Como o mamoeiro responde bem à adubação orgânica, aconselha-se como fontes destes adubos as tortas de mamonas, estercos de gado e de galinha curtidos, compostos orgânicos diversos, entre outros.

Não é conveniente, porém, utilizar restos de mamoeiro como adubo orgânico, pois esse material inibe o crescimento da planta. A adubação de cobertura deve ser aplicada de forma parcelada, sendo recomendado o fornecimento de fontes orgânicas de adubação potássica (K) a partir do florescimento.

O parcelamento da adubação orgânica, fonte de N e K, pode ser mensal, enquanto o fornecimento das fontes de P2O5 a cada dois meses.

Fitossanidade

A cultura do mamoeiro é afetada por muitas pragas e doenças de importância econômica para o agricultor. Deste modo, o manejo fitossanitário deve ser rigoroso ao longo do ciclo desta frutífera, com a utilização eficaz de diversas medidas preventivas ou curativas, visando impedir a introdução ou erradicar essas pragas e doenças da lavoura.

Para a colheita, deve-se utilizar a coloração da casca como critério, operação que deve acontecer antes da maturação completa dos frutos. Quando pretende-se atender o mercado interno, a colheita é realizada quando os mamões apresentarem até 50% de coloração amarela nas estrias.

Frutos destinados à exportação ou à armazenagem por períodos longos devem ser colhidos mais cedo, ou seja, no estádio verde-maduro, que corresponde à mudança de cor da casca de verde-escuro para verde-claro.

Investimento x rentabilidade

No primeiro momento, o custo de produção do cultivo orgânico chega a ser 25% mais caro, em média. No entanto, esse valor diminui ao longo dos plantios. Atualmente, com a tecnologia e experiência existentes, é possível conseguir entre 70 e 80% da produtividade do mamão convencional no cultivo orgânico e a valorização da fruta orgânica aumenta o poder de atração deste negócio.

De maneira geral, o conhecimento dos custos de produção, dos rendimentos e das receitas esperadas é muito importante para o agricultor, pois a produção econômica de qualquer cultura depende de uma série de fatores que afetam seu desempenho e retorno financeiro.

No caso do mamoeiro, no primeiro ano de cultivo, que compreende a implantação e o estabelecimento da cultura, a colheita se inicia entre o nono e o décimo mês após o plantio, sendo possível explorar normalmente dois anos de produção comercial elevada.

No final do terceiro ano, devido à queda na produção e na qualidade dos frutos e à dificuldade de colheita ocasionada pelo porte elevado das plantas, tornam-se recomendáveis, economicamente, a erradicação e a formação de um novo pomar.

O custo de implementação e manutenção de um plantio de mamão é variável, pois depende de diversos fatores, como local de instalação, uso ou não de irrigação, disponibilidade de mão de obra, entre outros. A receita está ligada a fatores como oferta/demanda, tipo de mercado (interno ou externo), qualidade do produto e localização do mercado, entre outros, ficando a estimativa do resultado financeiro na dependência da quantificação desses fatores.

Para uma lavoura com densidade de 1.666 plantas ha-1, com uso de irrigação, estima-se um preço médio no 1º, 2º e 3º ano de US$ 4.348,93, US$ 3.389,85 e US$ 2.027,80, respectivamente.

Neste sistema de produção, considerando o fluxo de custos de produção e receitas para um período de três anos, projeta-se uma margem bruta negativa no primeiro ano, enquanto nos anos seguintes ela se torna positiva, com rentabilidade líquida, considerando o fluxo total de US$ 14.203,55, ou seja, o investimento mostra-se satisfatório, configurando uma excelente oportunidade de investimento.

Valorização dos orgânicos

A valorização do mamão no mercado interno, sobretudo do fruto orgânico, também deve segurar maior volume da fruta no País. Uma particularidade do mamão é que a variedade “Formosa” ou “Havaí” também pode influenciar na renda do produtor.

O consumidor parece dar preferência aos frutos menores, certamente pela sua maior adequação aos novos hábitos de consumo de famílias pequenas, hotéis e de pessoas que moram sozinhas.

ARTIGOS RELACIONADOS

IHARA anuncia tecnologia poderosa contra o bicudo do algodoeiro

Considerado a principal praga dos algodoeiros nas Américas, o bicudo pode reduzir em até 70% da produtividade da pluma.

Estudos ajudam a mitigar os riscos com nematoides

Dentre os problemas que podem prejudicar o crescimento das plantas de soja, os nematoides são os que,

A importância de escolher bem o porta-enxerto

AutoresRhaiana Oliveira de Aviz rhaianaoliveiradeaviz@gmail.com Graduandas em Agronomia - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) Luciana da Silva Borges Doutora, professora – UFRA e...

Hormônio fitorregulador beneficia produção de mangas

João Yoshio Murakami Engenheiro agrônomo, consultor e membro do GETMA (Grupo de Estudos Técnicos da Manga) jmurakamy@yahoo.com.br   O fitorregulador é uma ferramenta necessária ao tipo de manejo...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!