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Polinização do tomate: Uso de abelhas otimiza operação

Autora

Herika Paula PessoaEngenheira agrônoma, mestre e estudante de doutorado em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)herika.paula@ufv.br

Abelhas – Montagem MQAG

O tomateiro é uma planta que apresenta flores hermafroditas, ou seja, cada flor apresenta tanto estruturas reprodutivas masculinas quanto femininas. A autofecundação é um fenômeno comum para essa cultura, uma vez que não existe incompatibilidade entre essas estruturas em uma mesma flor.

Ainda com relação à biologia floral do tomateiro, as anteras, que são as estruturas reprodutivas masculinas, são soldadas e formam um cone que envolve o estigma, estrutura reprodutiva feminina. O pólen é liberado das anteras através de um poro que se forma no ápice do cone. Para que essa liberação ocorra, é necessário a vibração das anteras, que movimentará os grãos de pólen, promovendo sua expulsão pelo poro.

Como funciona

Dois mecanismos naturais que atuam de forma eficiente na vibração das anteras e consequente fecundação das flores de tomateiro são o vento e a visita de abelhas. As abelhas pousam sobre a região central da flor em busca do pólen e produzem vibrações com sua musculatura torácica, a qual é transmitida para as anteras de forma que a liberação do pólen pelo poro é possibilitada.

O vento também pode ser um agente polinizador, quando é forte o suficiente para expulsar o pólen das anteras e atingir o estigma da flor. Entretanto, a atuação das abelhas é muito mais eficiente nesse processo, especialmente em cultivos em ambiente protegido, onde a ação do vento é limitada.

Espécies de abelhas para polinização

Nem todas as abelhas são capazes de exibir o comportamento de vibração abdominal. As abelhas (Apis mellifera), mais comumente criadas para a obtenção de mel por apicultores, por exemplo, não fazem a vibração e, embora possam polinizar as flores do tomateiro, o fazem com menor eficiência.

Essa capacidade vibratória está presente em alguns grupos de abelhas, sendo que já foram descritas sete famílias e mais de 50 gêneros de abelhas que são capazes de realizar a polinização por vibração.

Estudo realizado em 14 plantações do Estado de Goiás registrou a presença de 30 espécies de abelhas nativas realizando polinização por vibração nas plantações de tomateiro. Algumas das espécies de abelhas nativas capazes de realizar essa polinização são: Exomalopsis analis, E. auropilosa, Augochloropsis spp., e Centris tarsata.

Contudo, abelhas pertencentes aos gêneros Melipona, XylocopaBombus também têm essa capacidade. Dentre as abelhas vibradoras, as espécies do gênero Bombus são as mais estudadas e utilizadas na polinização do tomateiro em várias partes do mundo.

Aproximadamente 65% das colônias de Bombus comercializadas na Europa são destinadas à polinização do tomateiro. O serviço prestado por essas abelhas é estimado em 12 bilhões de euros por ano. 

Como implantar a técnica

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As duas principais estratégias para maximizar a polinização do tomateiro com a utilização de abelhas polinizadoras é aumentar a população nativa desses insetos na região próxima à lavoura, e o cultivo de abelhas em áreas próximas a ela, ou dentro do ambiente protegido.

Para aumentar a população nativa de abelhas, a manutenção de vegetação nativa ao redor da plantação e próximo a cursos hídricos é muito importante. Esses remanescentes de vegetação podem facilitar a criação de ninhos pelas abelhas que visitam os tomateiros, além de fornecerem abrigo e alimento para elas.

A presença de ervas e arbustos e até mesmo de árvores dentro e próximo das plantações de tomates também pode atrair as abelhas. O plantio consorciado com outras culturas agrícolas, como berinjela, pepino, abóbora, melancia, melão e feijão, que servirão de atrativo para outras abelhas, também pode ajudar na manutenção e crescimento das populações dos polinizadores.

Com relação à criação dessas abelhas, algumas espécies de abelhas-sem-ferrão foram avaliadas a fim de identificar entre elas abelhas que possam ser manejadas para a polinização de cultivos. Algumas espécies testadas com sucesso foram Nannotrigona perilampoides, Nannotrigona testaceicornis, Frieseomelita varia, Melipona quadrifasciata e Melipona bicolor.

Ninhos destas espécies podem, inclusive, ser transferidos para dentro de casas de vegetação, em cultivo protegido de tomate.

Algumas vantagens no uso destas abelhas-sem-ferrão  são seu comportamento social, que resulta em grande número de indivíduos por colônia; as técnicas de manejo já existentes para algumas espécies, incluindo a multiplicação de colônias; a possibilidade de manutenção das colônias em caixas de criação; e a grande necessidade de recursos florais que resultam em altas taxas de visitação das flores.

Em campo

Embora o tomateiro não seja dependente da polinização por insetos para o desenvolvimento dos frutos, estudos indicam que ele pode se beneficiar da presença de polinizadores, em aspectos relativos tanto ao tamanho quanto à qualidade dos frutos.

Estudos anteriores apontam que a frutificação da cultura aumenta até 12%, os tomates podem pesar até 41% a mais e gerar 11% mais sementes. Quando a polinização é realizada por abelhas capazes de vibrar o abdômen, elas resultam em frutos maiores e com mais sementes.

Por exemplo, apenas uma visita de Bombus já é suficiente para que se formem mais sementes em comparação aos frutos originados da autopolinização espontânea.

Outra espécie de abelha que tem se mostrado um eficiente polinizador é a Melipona quadrifasciata, uma espécie comum na Mata Atlântica que ocorre desde do Estado da Paraíba até o Rio Grande do Sul. Ao avaliar sua eficiência na polinização de flores de tomate usando como parâmetros a qualidade e tamanho dos frutos, encontraram resultados satisfatórios, quando comparado com frutos originados de flores polinizadas manualmente.

O efeito da polinização por abelhas sobre a produtividade do tomateiro também foi testado por pesquisadores, os quais protegeram algumas flores da ação das abelhas ensacando-as. A quantidade de grãos de pólen encontrada nos estigmas das flores ‘não ensacadas’ foi maior que a encontrada nas ‘flores ensacadas’.

Além disso, 82% das flores disponíveis aos polinizadores produziram frutos, e somente 50% das ensacadas, ou seja, não visitadas pelos polinizadores, frutificaram. As flores ensacadas produziram também frutos menores e com menor número de sementes.

Como evitar erros

As abelhas apresentam maior atividade de visitação as flores do tomateiro no período da manhã. Dessa forma, o ideal é que se priorize a aplicação dos produtos fitossanitários durante o período da tarde, uma vez que esses insetos são bastante sensíveis.

É provável que os efeitos dos agrotóxicos utilizados na cultura do tomate possam causar alterações, tanto comportamentais quanto populacionais, nas espécies nativas de abelhas que visitam as flores do tomateiro.

Dessa forma, é importante considerar a toxicidade dos produtos que serão utilizados na lavoura, de forma que eles não prejudiquem a população dos polinizadores. Uma característica muito importante das flores do tomateiro é que elas oferecem somente pólen aos visitantes florais.

Como o pólen não é o único recurso necessário para a sobrevivência e reprodução das abelhas, é necessário suprir as áreas também com outros recursos, principalmente néctar, e em alguns casos, óleos florais e resinas. Para isso, o manejo do habitat é muito importante e deve prever a conservação e o plantio de espécies vegetais que ofereçam recursos florais próximo às áreas de cultivo do tomateiro.

É necessário garantir uma grande diversidade de tipos de flores, uma vez que os polinizadores do tomateiro são muito diversos quanto ao tamanho do corpo, comprimento da probóscide, demanda energética e preferências por concentração de néctar.

Investimento x retorno

Flores ensacadas para evitar o contato com os polinizadores produziram frutos em até 89% dos casos, dependendo da variedade de tomate analisada. Entretanto, estas avaliações também mostraram que a visita de abelhas que vibram às flores nas áreas de cultivo pode incrementar ainda mais as taxas de polinização, evidenciando déficit de polinização em diferentes áreas de plantio.

O aumento na taxa de frutificação após as visitas de abelhas às flores foi de até 7%. Além disso, comparando-se áreas de cultivo com diferentes taxas de visitação de abelhas, foram observadas taxas de frutificação até 12% maiores nas áreas onde as abelhas eram mais frequentes.

Além da quantidade de frutos ser incrementada na presença de abelhas, a qualidade dos frutos também pode ser melhorada em função das visitas destes polinizadores. Os tomates resultantes de polinização aberta à visitação das abelhas tiveram maior peso (até 41% mais pesados) e maior número de sementes (até 11% a mais), quando comparados com aqueles formados a partir da autopolinização espontânea.

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