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Importância da luz no cultivo protegido

Autores

Rafael Campagnol rafcampagnol@hotmail.com

Glaucio da Cruz Genuncio glauciogenuncio@gmail.com

Elisamara Caldeira do Nascimento elisamara.caldeira@gmail.com

Doutores e professores – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)

Cultivo protegido – Foto: Shutterstock

O cultivo protegido é definido como a produção de plantas feita em ambientes onde há o controle, total ou parcial, de pelo menos um fator climático. Assim, a manipulação da luminosidade é considerada uma técnica de cultivo protegido. Para melhor exemplificar como podemos alterar a luz em benefício das plantas, iremos fracioná-la em três fatores: intensidade de luz (quantidade); qualidade da luz (comprimentos de onda) e duração do período de luz (fotoperíodo).

O conceito

A luz solar é como uma chuva de fótons de diferentes frequências e comprimentos de onda. Do total de energia solar que incide sobre as plantas, apenas uma pequena fração (cerca de 5%) é convertida em carboidratos.

O motivo dessa porcentagem tão baixa é que grande parte da luz tem um comprimento de onda demasiadamente curto ou longo para ser absorvido pelos pigmentos fotossintéticos. O espectro de luz que as plantas utilizam na fotossíntese é denominado de radiação fotossinteticamente ativa e compreende os comprimentos de onda entre 400 a 700 nanômetros.

A intensidade de luz está relacionada à quantidade de luz ou fótons que incide sobre o ambiente de cultivo. Considerando a faixa de luz utilizada no processo fotossintético, a quantidade de luz (ou densidade de fluxo fotônico fotossintético) que incide sobre o dossel de um cultivo em um dia ensolarado é de cerca de 2.000 µmol m-2 s-1.

Contudo, as plantas não aproveitam toda essa quantidade. O ponto a partir do qual as plantas param de responder ao aumento da quantidade de luz é chamado de ponto de saturação luminosa (PSL) e varia de espécie para espécie e até mesmo em função das condições de crescimento de cada folha numa mesma planta.

O tomateiro, por exemplo, é uma espécie exigente em luz e seu ponto de saturação luminoso é superior ao da alface. De maneira geral, as folhas dos vegetais saturam de luz entre 500 a 1.000 µmol m-2 s-1.

Folhas de culturas bem adubadas podem apresentar ponto de saturação luminosa acima de 1.000 µmol m-2 s-1. Cabe ressaltar aqui que a incidência de luz sobre as folhas de uma planta pode variar em função da sua posição. Assim, as folhas do topo do dossel de um tomateiro podem atingir o ponto de saturação luminosa, enquanto que as folhas baixeiras não.

A luz e sua qualidade

A qualidade da luz está relacionada com a proporção de comprimentos de onda que compõe a luz que incide sobre as plantas. A luz natural possui uma proporção específica de comprimentos de ondas que pode ser alterada naturalmente, pela copa de uma árvore, por exemplo, ou artificialmente, por meio de filmes plásticos, telas de sombreamento coloridas e iluminação artificial.

A qualidade da luz exerce grande influência sobre o crescimento e desenvolvimento das plantas, podendo ser preponderante para que certos processos ocorram, como, por exemplo, a germinação de sementes, o florescimento, o estiolamento das plantas, a abertura estomática, a síntese de pigmentos e a promoção de crescimento.

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Os comprimentos de onda mais eficientes à fotossíntese, ou seja, os que mais estimulam o crescimento vegetal, são próximos de 430 nm (faixa do azul) e de 660 nm (faixa do vermelho), que são as faixas do espectro da luz que as clorofilas mais absorvem.

Já a duração do período luminoso (ou fotoperíodo) é o tempo de exposição contínua à luz. Essa duração naturalmente está relacionada ao local de cultivo. Regiões próximas à linha do equador (latitude 0) possuem fotoperíodo próximo de 12 horas, tanto no inverno quanto no verão.

Quanto mais afastado da linha do equador é o local de cultivo, maiores são os comprimentos dos dias no verão e menores no inverno, e isso pode ter várias implicações no cultivo de plantas. A duração do período de exposição à luz está diretamente relacionada ao potencial fotossintético das plantas.

Quanto maior o tempo de luz, maior será a produção de fotoassimilados. Além disso, o comprimento do dia pode induzir processos específicos em algumas plantas. Para a cebola, por exemplo, a exposição a determinado número de horas de luz (ou quantidade superior) é fundamental para estimular a bulbificação.

Plantas submetidas a fotoperíodos menores que o necessário (inferior ao fotoperíodo crítico) não irão bulbificar de forma adequada. Naturalmente, conseguimos manejar o fotoperíodo pela seleção do local e da época de cultivo. Artificialmente, podemos reduzir o comprimento do dia por meio de cortinas (blecautes) e aumentar com o uso de iluminação artificial.

Funções das cores das telas

Em cultivos protegidos, a forma mais fácil e usual de manipular a luz é com as telas agrícolas (também conhecidas como telas de sombreamento). Atualmente, há no mercado telas agrícolas com diferentes características e aplicações.

As telas têm duas principais funções (mas não únicas): reduzir a intensidade de luz que atinge as plantas e reduzir a temperatura do ambiente. Além dessas funções, algumas telas são usadas para aumentar a difusão de luz no inteiro do dossel, como as telas brancas e aluminizada; ou para alterar a qualidade da luz. Nesse caso, elas são chamadas de telas fotosseletivas.

Cabe aqui ressaltar que estamos considerando como telas todos os materiais fabricados com o objetivo de reduzir a intensidade luminosa do ambiente de cultivo, incluindo as telas propriamente ditas e as malhas agrícolas.

A intensidade da luz pode ser reduzida em diferentes níveis. Essa redução está vinculada ao grau de sombreamento que o material possui. Há telas desde 15 até 80% de sombreamento.

Para selecionar a tela correta, o produtor deve se atentar à espécie ou espécies que estão sendo cultivadas. Há aquelas que são mais tolerantes ao sombreamento, como a rúcula, e outras que são mais exigentes em luz, como tomate e pimentão, por exemplo. A seleção da tela errada pode prejudicar significativamente a produção comercial da espécie cultivada.

O sombreamento excessivo do tomateiro, por exemplo, além de reduzir o potencial fotossintético das plantas, irá estimular o alongamento do internódio. Isso irá reduzir o número de cachos formados até o arame superior e, consequentemente, reduzirá a produtividade. Já o excesso de luz para rúcula poderá causar fotoinibição e fotooxidação, causando grandes danos às plantas.

Equilíbrio

A redução da temperatura do ambiente é uma condição sempre muito desejada pelos produtores em cultivo protegido. Ela é obtida pela da redução da quantidade de luz (ou energia) que atinge as plantas, o solo e as estruturas de cultivo, o que, consequentemente, reduz a temperatura do ambiente.

Contudo, quando aplicada dentro de uma estufa agrícola (ou casa de vegetação), sua ação sobre a temperatura é reduzida (mas não anulada). Isso porque parte da energia refletida por ela é retida pelo plástico da cobertura da estufa, o que aquecerá o ambiente.

A forma mais eficiente de reduzir a temperatura através das telas de sombreamento é aplicá-las acima da estufa. Mas convenhamos, isso exigirá maiores gastos com estrutura de suporte, pois ela não poderá ficar em contato com o filme plástico devido ao atrito e desgate de ambos os materiais. Além disso, a limpeza da cobertura da estufa, que deve ser feito no mínimo 1 vez por ano, será dificultada.

Algumas telas de sombreamento também apresentam a função de aumentar a difusão de luz no ambiente. A principal vantagem desse espalhamento da luz é aumentar a sua “penetração” ao longo do dossel das plantas.

Esse efeito, que também pode ser proporcionado pelo filme de plástico de cobertura das estufas, é muito interessante para a produção de culturas tutoradas, como tomate, pimentão e pepino, pois aumenta a incidência de luz solar nas folhas do terço médio e inferior do dossel, o que eleva o potencial fotossintético total das plantas.

A alteração da qualidade da luz é uma função das telas agrícola que tem sido explorada mais recentemente pelos produtores. Seus efeitos sobre a qualidade da luz ocorrem devido aos comprimentos de onda que elas refletem. Ou seja, telas vermelhas refletem majoritariamente a cor vermelha. Consequentemente, seu uso aumenta a proporção de luz vermelha em relação às demais. As cores de telas agrícolas mais utilizadas no cultivo de plantas hortícolas são as pretas, brancas, aluminizadas, vermelhas e azuis.

Cor da tela Principais funções
Telas pretas Atuam principalmente na redução da intensidade luminosa e temperatura do ambiente
Telas brancas Além de reduzirem a intensidade luminosa e a temperatura do ambiente, aumentam a difusão de luz
Telas aluminizadas (termorrefletoras) Devido à sua melhor refletividade, promovem uma maior difusão da luz e redução da temperatura em relação às outras telas
Telas vermelhas Reduzem a intensidade luminosa e a temperatura, além de aumentar a proporção de luz de comprimento próximo de 660 nm (espectro vermelho). A luz vermelha, além de grande influência na fotossíntese e no crescimento vegetal, inibe o alongamento de entre nó (efeito de compactação), o que é benéfico para diversas hortaliças
Telas azuis Além dos efeitos na redução da intensidade luminosa e da temperatura do ambiente, aumentam a proporção de luz na faixa do azul (próximo de 430 nm). Essa faixa do espectro luminoso favorece vários processos nas plantas, como por exemplo, o fototropismo, a inibição do alongamento do hipocótilo (caule) em plântulas, a síntese de clorofilas, carotenoides e antocianinas e a abertura estomática.

Como implantar a técnica

As telas de sombreamento podem ser instaladas em estufas agrícolas ou sobre estrutura de arame. Em estufas, são geralmente instaladas na altura do pé-direito (distância entre o chão e a ponta superior do pilar de sustentação), sendo suportadas por fios de arame esticados entre as pontas dos pilares de sustentação.

A estrutura de suporte das telas pode ainda possuir sistemas para a sua abertura e fechamento, o que permite explorar melhor a radiação solar ao longo do dia e evitar o aquecimento excessivo do ambiente. Esses sistemas podem ser manuais, manejado por manivelas, polias, ou ainda automáticos. O manejo ideal das telas deve fornecer, ao longo do dia, as condições mais próximas do ideal para o crescimento e desenvolvimento das plantas.

No caso dos sistemas automáticos, o acionamento pode ser feito manualmente, por um botão de liga e desliga; por tempo pré-definido, usando um temporizador, por exemplo, para a abertura da tela de sombreamento no período mais quente do dia; pela temperatura, em que um controlador ligado a um sensor de temperatura aciona a abertura da tela quando a temperatura do ar atingir um determinado valor; pela luminosidade, usando sensores de radiação fotossinteticamente ativa ligados a um controlador que fecha a tela quando a quantidade de luz abaixa de determinado valor; ou pela combinação de parâmetros, como por exemplo, pela luminosidade para fechar as telas quando a quantidade de luz for baixa e temperatura, quando ela for muito elevada.

Cabe ressaltar que os sensores devem ser instalados em locais adequados e calibrados frequentemente para fornecer dados reais.

O manejo das telhas manualmente, por sistemas compostos por manivelas e polias, requer mais mão de obra e atenção, contudo, podem trazer melhores resultados produtivos do que manter as telas abertas constantemente (telas fixas).

A manutenção das telas constantemente abertas (estendidas) pode diminuir muito a intensidade de radiação e, consequentemente, o crescimento das plantas. Por isso, o produtor, quando optar por instalar as telas fixas, deve selecionar muito bem o grau de sombreamento que a tela proporcionará.

Relação com a produtividade

Diversos trabalhos científicos e experiências práticas têm demonstrado que o uso de telas de sombreamento tem gerado grandes benefícios ao cultivo de diferentes espécies hortícolas (flores, frutas e hortaliças), tanto na produtividade quanto na qualidade dos produtos.

A redução da intensidade luminosa, a alteração da qualidade da luz e/ou a diminuição da temperatura do ambiente de cultivo gerados com o uso de telas de sombreamento podem favorecer o crescimento e desenvolvimento das plantas (aumento de produtividade) e reduzir os danos causados pela radiação solar, como queimadura de folhas e frutos (aumento da qualidade).

Em alguns casos, como em cultivos realizados em locais quentes e com alta irradiância, o uso de telas pode ser fundamental para viabilizar a produção comercial. Em períodos chuvosos, as telas também podem ser benéficas, pois reduzem o impacto da chuva sobre as plantas e, assim, os danos às folhas.

Erros e acertos

Os principais erros que ocorrem com as telas de sombreamento são:

ð Instalação incorreta: estrutura de suporte das telas mal dimensionada e uso de materiais inadequados podem causar danos às telas e às plantas (quando rompe);

ð Seleção da tela errada: a escolha de telas com grau de sombreamento muito elevado pode reduzir muito a transmitância de luz (quantidade de luz que atinge as plantas) e, por sua vez, a produtividade dos cultivos.

ð Uso de telas de qualidade ruim: a tecnologia de fabricação de telas tem evoluído muito nos últimos anos, o que diminui os riscos de os produtores adquirirem material de qualidade ruim. Contudo, eles devem ficar atentos e se informarem bem com outros produtores e profissionais da área, a fim de evitar a compra de telas que rapidamente perdem qualidade.

As telas devem ter durabilidade e manter suas características (como a cor, por exemplo) por maior tempo possível. Sua durabilidade depende de vários fatores, como tratamento recebido na fabricação (proteção contra raios ultravioleta, por exemplo), forma de instalação, incidência de ventos fortes, manejo realizado (abertura e fechamento), dentre outros. A durabilidade mínima deve ser de três anos (opinião dos autores). Há casos de produtores que utilizam a mesma tela, sem grandes sinais de desgaste, por mais de 10 anos.

Custos

Os valores de aquisição das telas de sombreamento podem variar, sem contar com os custos de frete, em função das suas características (grau de sombreamento, tipo de filamento e cor, por exemplo) e da empresa fabricante.

De maneira geral, os valores variam entre R$ 4,00 a R$ 12,00 o metro quadrado. As telas termorrefletoras são geralmente mais caras que as demais. As pretas são as mais baratas. O grau de sombreamento também influencia no custo da tela, uma vez que quanto maior o grau de sombreamento, maior será a quantidade de material necessário para fabricar a tela.

Investimento x retorno

Os benefícios gerados pelas telas de sombreamento podem ser diferentes de acordo com a cultura explorada e o local e época de cultivo. Para o cultivo de hortaliças folhosas, como alface, rúcula, agrião, almeirão e temperos, o uso de telas geralmente apresenta um bom custo-benefício.

Em locais de clima quente e com alta irradiância solar, as telas são essenciais, não sendo possível obter produção comercial sem elas. Para o cultivo de hortaliças de frutos, como o tomate, pimentão e pepino, culturas mais exigentes em luz, a aplicação de telas de sombreamento deve ser muito bem estudada. Casos de redução de produtividade gerados pelas telas de sombreamento não são incomuns.

Para o cultivo de flores, espécies que possuem geralmente mais valor agregado em comparação às hortaliças, o uso de tela de sombreamento apresenta melhor custo-benefício.

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