Autores
Mônica Bartira da Silva – Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura e professora – UNEMAT (MT) – monica.bartira@gmail.com
Luan Fernando Ormond Sobreira Rodrigues – Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP – luanormond@gmail.com
Luiz Felipe Guedes Baldini – Engenheiro agrônomo e mestre em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP – felipebaldini.fb@gmail.com
Michelly Cruz de Souza – Graduanda em Agronomia – UNEMAT-MT – michellydesouzah1234@gmail.com
Ao falarmos de doenças, é sempre bom reforçar que: para que as medidas de controle possam ser efetivamente tomadas, as doenças devem ser analisadas sob o ponto de vista epidemiológico. Isso implica conhecer a cultivar, o patógeno e as condições ambientais que afetam tanto a planta hospedeira como o patógeno.
Quando falamos em doenças de hortaliças folhosas elas podem ser divididas em:
Ü Doenças de raiz e caule: podem ser causadas por fungos, bactérias e nematoides, com destaque para damping-off (Pythium spp. e Rhizoctonia solani), murcha (Pythium spp.), podridão-de-esclerotinia (Sclerotinia sclerotiorum e S. minor), murcha-de-esclerócio (Sclerotium rolfssi), podridão-negra (Thielaviopsis basicola), queima-da-saia (Rhizoctonia solani), murcha-de-fusário (Fusarium oxysporum f. s. lactuce), podridão mole (Pectobacterium spp. ou Dickeya spp. = Erwinia spp.) e nematoides-das-galhas (Meloidogyne spp.).
Ü Doenças da parte aérea: podem ser causadas por fungos, bactérias e vírus, com destaque para míldio (Bremia Lactucae), septoriose (Septoria lactucae), mancha-de-cercóspora (Cercospora longissima), podridão-de-botritis (Botrytis cinerea), oídio (Oidium spp.), murcha-bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. vitians), murcha- cerosa (Pseudomonas cichorii), queima-lateral-das-folhas (Pseudomonas marginalis pv. marginalis), pinta-preta (Alternaria brassicicola) e as viroses.
Como a lista é grande, separamos apenas algumas para comentar, sendo elas: podridão-de-esclerotinia (Sclerotinia sclerotiorum e S. minor), míldio (Bermia lactucae), pinta-preta (Alternaria brassicicola) e queima-da-saia (Rhizoctonia solani).
Podridão-de-esclerotinia
O fungo S. sclerotiorum é uma espécie altamente polífaga, com registro de ataque a mais de 400 hospedeiras diferentes no mundo. Conhecido também como mofo branco, é uma doença de clima ameno e úmido, que pode ser muito severa quando as temperaturas variam de 15 a 21°C.
O controle químico é uma medida bastante utilizada e seu sucesso está condicionado ao uso de fungicidas adequados na época adequada, de forma a prevenir o aparecimento ou o desenvolvimento da doença no campo.
Uma alternativa de manejo é rotacionar a área com a cultura do milho, utilizar sementes e outros materiais propagativos de boa qualidade e tratados com fungicidas e manejar a irrigação de forma a evitar excesso de umidade. É importante salientar que o tratamento do solo pela solarização, com fumigantes ou biofumigantes, pode ser viável em áreas pequenas ou em cultivo protegido, mas tem pouca aplicação para grandes áreas.
Míldio
Uma das principais doenças da alface, tanto em campo como em cultivo protegido, inclusive em hidroponia, é o míldio. Essa doença é causada pelo oomiceto do reino Stramenopila bremia lactucae Regel, considerado um problema grave, porque aumenta os custos de produção no inverno, época em que os preços são menores devido à maior oferta e ao menor consumo.
Destaca-se por ser limitante em localidades onde a temperatura é amena e as folhas ficam constantemente molhadas por irrigação, chuva ou orvalho. Em regiões mais secas, como no Brasil Central, a intensidade da doença varia consideravelmente em decorrência da época de plantio e do manejo da cultura e em função do método e da frequência da irrigação.
As manchas provocadas pelo míldio são verde-claras ou amareladas, de diferentes tamanhos, e geralmente delimitadas pelas nervuras, o que as torna facilmente identificáveis. Na parte inferior da folha, em condições de alta umidade, percebe-se a esporulação esbranquiçada pulverulenta do fungo. Sob ataque severo, pode-se observar um escurecimento dos tecidos internos do caule, causado pela invasão sistêmica do fungo.
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Atualmente, o controle do míldio tem sido feito por meio do uso de fungicidas. Existem diferentes grupos químicos com registro para a cultura da alface, como éter mandelamida, imidazolinonas, morfilina, imadazol, carbamato + benzamida piridina e valinamida carbamato + carbonitritas.
As recomendações variam entre aplicações preventivas e logo no início dos primeiros sintomas. Como alternativa também se recomenda o uso de variedades resistentes, manejo da irrigação, plantio menos adensado (permitindo boa aeração entre as plantas) e eliminar os restos culturais.
Pinta-preta
A alternariose, causada principalmente por Alternaria brassicicola (Schwein.) Wiltsh. e Alternaria brassicae (Berk.) Sacc., é considerada a doença fúngica mais comum e destrutiva das crucíferas. Ela causa danos nas fases de sementeira e planta adulta das crucíferas, resultando em reduções consideráveis na produtividade e na qualidade dos produtos.
Os sintomas da doença se caracterizam por lesões necróticas circulares, marrom-escuras ou pretas, com anéis concêntricos, onde se encontram os conídios e conidióforos do fungo. Os restos culturais e as sementes infestadas constituem as principais fontes de inóculo primário e os conídios se dispersam de forma rápida, principalmente em condições de alta umidade e vento.
O controle da alternariose é realizado, em geral, por meio de pulverizações com fungicidas à base de chlorothalonil, iprodione ou mancozeb, antes ou após os primeiros sintomas. Existe, ainda, a possibilidade da utilização de extrato de Allamanda blanchetti.
Alguns pesquisadores têm demonstrado que o extrato de A. blanchetti é capaz de atuar na redução da severidade dos sintomas da alternariose em mudas de couve-manteiga, podendo atuar tanto na ativação de mecanismos de defesa como pela ação antimicrobiana direta sobre o patógeno.
Queima-da-saia
A queima-da-saia é uma doença causada por um fungo de solo chamado Rizoctonia solani. Essa doença causa maiores problemas em condições de alta temperatura e solos muito úmidos, afetando as folhas baixeiras de plantas adultas próximo ao ponto de colheita.
Já foram relatadas perdas de até 70% para culturas produzidas em solos infestados sob condições de alta umidade e temperaturas entre 25 e 27°C.
O grande problema no manejo desta doença é que o fungo pode sobreviver no solo por muito tempo. As medidas de controle se baseiam em evitar o encharcamento na base das plantas, podendo-se adotar o uso de canteiros mais altos, realizar o plantio menos adensado (permitindo boa ventilação entre as plantas), eliminar os restos culturais e fazer rotação de culturas por pelo menos um ano com gramíneas.
Uma alternativa que vem sendo estudada é o manejo da doença a partir do uso do Trichoderma asperellum. Este é um dos antagonistas mais estudados para a controle biológico de patógenos do solo, apresentando a vantagem de ser quase inócuo para os seres humanos e não levando danos ambientais.
Atualmente, há disponível no mercado alguns fungicidas biológicos à base de T. asperellum, com indicações de uso para todas as culturas com ocorrência do alvo biológico. São recomendadas (para esse produto, em específico) duas aplicações – uma deve ser realizada no plantio, em jato dirigido, cobrindo todo o fundo do sulco e sobre os propágulos e a segunda na fase de crescimento das plantas.