Autora
Diouneia Lisiane Berlitz – Doutora em Biologia – Universidade do Vale do Rio dos Sinos e sócia-fundadora do DLB Soluções Biológicas – dberlitz@hotmail.com
O milho é uma cultura de grande expressividade no Brasil. O último levantamento das safras, efetuado pela Conab (2020) estima que a produção deste cereal tenha um acréscimo de 2,5% na safra 2019/20 atingindo 102,5 milhões de toneladas. Nesta produção, destaca-se a região centro-oeste seguida da região Sul, como as maiores produtoras do grão.
Alto poder destrutivo
Entre as pragas que causam danos econômicos ao milho, encontram-se diferentes lepidópteros, como a lagarta-elasmo, que ocorre na fase inicial da cultura, a lagarta-do-cartucho-do-milho e a lagarta-das-folhas, que podem ocorrer até a fase reprodutiva da cultura.
Além dessas lagartas, a larva-alfinete, um coleóptero conhecido como “brasileirinho”, também é causador de danos.
A lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus (Zeller, 1848), pode ser considerada o lepidóptero da fase inicial do milho. São insetos muito ativos e atacam as plantas com até 30 cm de altura, destruindo a gema apical, dano conhecido como “coração morto”.
Essa praga ocorre nos primeiros 30 dias após o plantio ou até a planta atingir cerca de 35 cm de altura. As mariposas realizam a postura no solo, próximo às plantas de milho. A temperatura e umidade do solo estão diretamente relacionadas com o sucesso na eclosão das lagartas, que pode ocorrer três dias após a deposição dos ovos.
Os danos estimados por este inseto podem ser de 20% até a destruição total da lavoura, quando não tratada.
A larva-alfinete, denominada Diabrotica speciosa (Germ., 1824), é um coleóptero de coloração verde. Os adultos colocam os ovos no solo, pois suas larvas atacam o sistema radicular do milho, causando a morte das plantas recém-germinadas.
Quando as larvas atacam as raízes adventícias, causam o crescimento irregular das plantas, tornando-as recurvadas. Esse sintoma é chamado de “pescoço de ganso”, ou “milho ajoelhado”, e ocorre entre o primeiro e segundo mês de semeadura.
Os danos causados pelo inseto variam de 10 a 13%, em altas infestações. Os adultos também podem causar danos à parte aérea do milho, hábito que pode transmitir viroses para as plantas.
Emergentes
Durante o período vegetativo surgem novas pragas no cultivo. A Spodoptera eridania (Cramer, 1782), conhecida como lagarta-das-folhas, é uma praga polífaga que ataca também o algodão, a soja, o tomateiro, feijão, hortaliças, dentre outros. As fêmeas deste inseto podem colocar cerca de 1.000 ovos em um período de cinco dias, e a eclosão das lagartas ocorre entre quatro e seis dias.
Outra espécie deste gênero é S. frugiperda (J. E. Smith, 1797), que pode ser considerada a principal espécie de lagarta na cultura do milho. Essa praga também ataca e causa danos em diversas outras culturas, tais como o algodão, sorgo, soja, aveia, batata, cana-de-açúcar, hortaliças, entre outras espécies vegetais, com predomínio das gramíneas.
Podem atingir níveis populacionais elevados, com surtos associados às condições climáticas favoráveis, como temperaturas mais elevadas e baixa precipitação pluviométrica.
As mariposas de S. frugiperda ovipositam de 1.500 a 2.000 ovos no cartucho do milho, onde as lagartas, após a eclosão, raspam as folhas mais jovens até a destruição total da parte central da planta.
As lagartas têm hábito canibal, que inicia em torno de cinco a sete dias após a eclosão. Por esse motivo, geralmente encontra-se somente uma lagarta por cartucho/planta. Os danos causados pelo inseto atingem de 20% até a destruição total da cultura, sendo o período crítico a época próxima ao florescimento.
Em determinadas safras, especialmente em períodos mais secos, os insetos podem prejudicar as plantas desde o início do ciclo, cortando-as rente ao solo.
Estratégias de controle
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Existe um grande número de inseticidas indicados para o controle desses insetos, que diferem em seletividade, ou seja, causam impactos diferenciados sobre os inimigos naturais, além dos casos de resistência em algumas populações de lagartas aos inseticidas.
Para uma boa estratégia de controle, o Manejo Integrado de Pragas (MIP), integrando os procedimentos disponíveis para a prevenção e combate da praga, é de suma importância. Os aspectos fundamentais do MIP envolvem desde o monitoramento das lavouras até a tomada de decisão na aplicação de métodos de controle atualmente disponíveis.
Novidades em controle biológico
No caso de controle biológico, podem-se aplicar produtos à base da bactéria Bacillus thuringiensis visando o controle de S. frugiperda e S. eridania. Recentemente, em 2019, foi registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento um produto à base de baculovírus indicado para o controle de S. frugiperda, S. eridania, Helicoverpa armigera e Chrysodeixis includens.
Além disso, o predador Doru luteipes (tesourinha), os parasitoides de ovos Trichogramma spp. e Telenomus sp. e os parasitoides de lagartas Chelonus insularis e Campolitis flavicincta também são potenciais para o controle das lagartas.
No caso de D. speciosa, majoritariamente o controle é realizado com produtos químicos. Porém, os fungos entomopatogênicos como Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae e Purpuriocilium lilacinum são importantes para o controle das larvas presentes no solo.
As lagartas E. lignosellus também são de difícil controle, sendo utilizados inseticidas no tratamento das sementes com atividade sistêmica. Apesar disso, vários parasitoides, vírus de poliedrose nuclear e os fungos Aspergillus flavus e B. bassiana são relacionados como potenciais para o controle desse inseto.
Trabalhos recentes também demonstram o uso de nematoides entomopatogêncios dos gêneros Steinernema spp. e Heterorhabditis spp. para o controle de lagartas e pupas de E. lignosellus.
Agricultura de precisão dita o caminho
Com o avanço constante de tecnologias e a modernização de equipamentos e maquinários agrícolas, atualmente a Agricultura de Precisão (AP) é uma grande aliada do produtor, visando o gerenciamento das lavouras especialmente através de técnicas de sensoriamento remoto.
Essas estratégias envolvem o manejo e preparação do solo, o plantio, o acompanhamento das culturas e a colheita, adequando-os às variações espaciais e temporais dos fatores que podem interferir na boa produtividade das culturas. Na América Latina, o Brasil é o país que está à frente da utilização dessas técnicas, que envolvem desde análises e correção de solo, o mapeamento de pragas e doenças e a colheita com máquinas e sensores de produção.