As folhosas ocupam lugar de destaque no cenário nacional da olericultura brasileira. De acordo com recente levantamento do Cenário Hortifrúti Brasil, quatro culturas pesquisadas (alface, repolho, couve e brócolis) envolvem um contingente próximo a 1,5 milhão de produtores, com grande destaque para São Paulo, porém, marcando presença nos cinturões verdes das principais cidades em todos os Estados do País.
A área média ocupada por folhosas fica abaixo de 0,3 hectare por produtor, mas ainda assim são cultivados 174 mil hectares no total.
Ainda com relação à área dedicada à produção das folhosas, 49,9% é ocupada pela alface, seguida do repolho, com 15,3%; e da couve, com 6,1%, enquanto as demais culturas deste segmento ocupariam os restantes 28,7%.
Já a produção dessas culturas é superior a 1,3 milhão de toneladas, em que a participação dos três produtos é estimada em respectivos 43,6% para alface, 31,7% para repolho, 9,1% para couve, e 15,5% para os demais.
Além de seu protagonismo na produção, a alface se destaca também por ser a folhosa mais consumida no Brasil. Atualmente, ela movimenta, em média, um montante de R$ 8 bilhões apenas no varejo, com uma produção de mais de 1,5 milhão de toneladas ao ano.
Em destaque
Dentre os maiores produtores mundiais de alface, a China, com 23,6 milhões de toneladas (52% da produção mundial), lidera a lista, seguida de Estados Unidos e Índia. No Brasil a produção chega a 1,5 milhão de toneladas, sendo que a hortaliça é plantada principalmente na região centro-sul.
Entretanto, por se tratar de um produto altamente perecível e largamente consumido, é cultivado em todas as regiões, especialmente em áreas próximas dos grandes centros, os chamados “cinturões verdes”.
O Estado de São Paulo é o maior produtor e consumidor de alface no País (cerca de 137 mil toneladas em 8 mil hectares plantados), seguido do Paraná (54 mil toneladas em 2.845 ha) e Minas Gerais (18 mil toneladas em 1.192 ha).
A área ocupada por alface pode ultrapassar 86,8 mil hectares cultivados por mais de 670 mil produtores, com volume produzido de 575,5 mil toneladas. A produção de alface no Brasil se concentra nas regiões sudeste e sul, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.
Contudo, sua produção é expressiva nos cinturões verdes das principais cidades em todos os Estados do País. Os maiores polos da cultura, conforme registra o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), são Ibiúna e Mogi das Cruzes, em São Paulo, seguidos de Teresópolis, no Rio de Janeiro, Mário Campos e Caeté, em Minas Gerais.
O consumidor brasileiro tem à sua disposição diversos tipos de alface, tais como crespa, americana, lisa, mimosa, roxa, romana e mini.
Estimativas
Para a safra de verão 2019/20, estimativas iniciais indicam aumento de 12% na área das regiões acompanhadas pelo Hortifruti/Cepea. Com a boa rentabilidade da temporada de verão anterior (2018/19), produtores podem investir mais na atividade. Para o inverno 2020, a aposta é de manutenção na área em relação à safra 2019, uma vez que os resultados no inverno costumam ser mais limitados e a demanda por folhosas mais retraída.
Contudo, esse cenário vai depender do comportamento da safra de verão 2019/20 e das condições climáticas até o momento do plantio.
Custo de produção x rentabilidade
No Estado de São Paulo, durante a safra de verão 2018/19 (dez/18 – jun/19), foi registrada uma redução de 14,1% nas áreas de Mogi das Cruzes e Ibiúna, totalizando, respectivamente, 6.630 e 10.500 hectares.
Durante boa parte da safra, as cotações estiveram em elevados patamares. Além disso, a temporada registrou alta incidência de doenças – principalmente queima e mela – o que resultou no aumento dos custos de produção. Com oferta baixa durante a safra, os preços subiram, inclusive ficando superiores aos da anterior: a crespa em Mogi das Cruzes teve média de R$ 0,91/unidade, enquanto o custo foi estimado em R$ 0,68/unidade, proporcionando rentabilidade positiva de 35%.
O verão 2019/20 deve contar com maiores investimentos em área, devido aos bons resultados obtidos na temporada anterior. Durante a safra de inverno 19, a área destinada às alfaces recuou 10% em Ibiúna e 12,5% em Mogi das Cruzes.
De junho a novembro, o preço médio da crespa foi de R$ 0,48/unidade, enquanto os custos foram de R$ 0,46/unidade. Sendo assim, a rentabilidade no fechamento da temporada ficou bastante apertada, proporcionando resultados pouco satisfatórios os alfacicultores paulistas.
Em Mário Campos (MG), a temporada de verão 2018/19 também foi marcada por redução de área, de 11,6%, totalizando 320 hectares. Esse cenário se deve ao aumento dos custos de produção e ao rompimento da barragem de Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019.
Com a redução do volume disponível, a rentabilidade foi bastante positiva aos produtores, registrando alta de 61% para a americana e de expressivos 124% para a crespa. Vale ressaltar que, apesar de positiva, poucos produtores se beneficiaram deste bom retorno, pois os elevados preços foram recorrentes da produção restrita da região, devido aos impactos da barragem e redução do plantio.
Mesmo com as dificuldades de produção, no geral, a rentabilidade foi negativa, por conta dos preços baixos, dos maiores gastos com problemas de qualidade, como, por exemplo, a presença de tripes em novembro, e da produção prejudicada pelos efeitos do rompimento da barragem.
Já no Estado do Rio de Janeiro, outro importante polo produtor de alface, a área da safra de verão de 2018/19 na região de Teresópolis teve redução de 5,3%, a 1.800 hectares. No geral, a temporada foi marcada por problemas de qualidade, decorrentes das chuvas em janeiro/19, que prejudicaram diretamente a oferta local.
Além disso, as elevadas demandas paulista e mineira pelas alfaces do Rio impulsionaram as cotações e as vendas na região, possibilitando rentabilidade positiva. A crespa teve média de R$ 0,64/unidade, 37% superior aos custos. Com os preços mais altos no verão passado (2018/19), os investimentos para safra 2019/20 apresentaram leve aumento em relação aos anos anteriores.
Quanto à safra de inverno, as áreas destinadas à produção de alface nas regiões de Teresópolis, Nova Friburgo e Sumidouro (RJ) se reduziram em relação ao ano anterior, resultando em 1.008 hectares. Esse cenário se deve às menores cotações no período de inverno, à baixa demanda e à boa produção – vale ressaltar que produtores buscaram reduzir a área para minimizar as sobras nas lavouras.
Ao contrário do que ocorreu nos invernos passados, no de 2019, a qualidade dos pés ofertados foi satisfatória, sem registro de proliferação de míldio e esclerotinia, devido à utilização de sementes resistentes.
Balanço geral
No geral, o ano de 2019 se mostrou animador para o produtor de alface, principalmente no verão. Isso se deve ao clima favorável e à demanda aquecida, além da menor oferta, que refletiu em preços acima dos custos de produção em praticamente toda a temporada de verão.
Já na safra de inverno 2019, mesmo com a redução de área nas regiões produtoras, a procura retraída e a boa produtividade pressionaram as cotações, que ficaram abaixo do custo durante alguns períodos garantindo uma boa lucratividade para o produtor de alface.
Com relação aos tipos de alface, O principal segmento em termos de consumo continua sendo o da alface crespa (mais de 50% do total). No entanto, existe a tendência de diferenciação da cultivar, com a oferta de produtos para atender às diversas demandas e preferências dos consumidores. Neste novo cenário de mercado destacam-se: o segmento da alface “Americana”, que são crocantes e bastante usadas no “Food Service”; o segmento “Mimosa”, com sabor agradável, diferentes formatos de folha e cores variadas; e o segmento “Mini”, com folhas pequenas e numerosas.
Demais tendências para o setor incluem a expansão do cultivo hidropônico e o comércio de folhosas minimamente processadas. O cultivo hidropônico propicia maior controle sobre todo o processo, aumento da produtividade e redução dos custos de produção, maior qualidade estética e maior vida útil de prateleira.
Por outro lado, as hortaliças minimamente processadas propiciam maior praticidade e conveniência para o consumidor, agregam valor e promovem o melhor aproveitamento do produto.
Autoria:
Herika Paula Pessoa – Engenheira agrônoma, mestre e doutoranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV) – herika.paula@ufv.br
Ronaldo Machado Junior – Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – UFV – ronaldo.juniior@ufv.br
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