Alessandra Marieli Vacari – Doutora em Entomologia e professora dos Programas de Pós-graduação em Ciência Animal – Universidade de Franca (Unifran) – amvacari@gmail.com
Gustavo Pincerato Figueiredo / Enes Pereira Barbosa / Eder de Oliveira Cabral
Engenheiros agrônomos e mestrandos no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal – Unifran
Apesar do pequeno percentual que representa o café orgânico, comparado com a produção de café convencional do Brasil, o mesmo vem aumentando a sua participação no mercado e está em constante expansão. O sistema orgânico de café tem um enorme potencial de promover a preservação ambiental, assim, tendo como fundamento os princípios da agroecologia e, consequentemente, eliminar o uso de agrotóxicos e adubos minerais.
Implantação de uma lavoura orgânica
O primeiro passo importante para o produtor que queira iniciar os trabalhos com a produção do café orgânico é buscar informações sobre o manejo, filiando-se a uma organização que possua uma estrutura necessária para suportar tal demanda.
Hoje, o produtor possui suporte de muitas informações e alternativas para implantar uma lavoura de café orgânico. Após escolher o local que a cultura será instalada, o futuro cafeicultor orgânico deverá escolher uma cultivar apta a todas as possíveis diversidades que ele encontrará pela frente, iniciando pela escolha da variedade do café.
Existem muitas variedades. Dentre elas, algumas possuem resistência à principal doença do cafeeiro, a “ferrugem” Hemileia vastatrix, outras possuem resistência a pragas-chave da cultura, como o “bicho mineiro” Leucoptera coffeella, outras possuem tolerância maior a veranicos, com maiores ou menores produtividades. São muitas as opções que deverão ser levadas em consideração.
Certificação
Para um produtor ser validado como orgânico, o mesmo precisa obter a certificação, o que quer dizer que ele precisa passar por alguma(s) auditoria(s) para averiguação do cumprimento das regras que tal órgão/selo exige.
Manejo orgânico
O Brasil, cada vez mais, apresenta demanda no manejo orgânico em todas as culturas aqui cultivadas. Assim, empresas que comercializam produtos biológicos estão em crescente evolução, buscando novas tecnologias e soluções para as adversidades que os produtores vêm enfrentando.
Tendo em vista o passado, hoje o produtor tem mais ajuda, alternativas e incentivos para o cultivo orgânico, mas isso não quer dizer que todas as adversidades sofridas por tal cultura, como pragas, doenças e plantas daninhas estão solucionadas.
O cafeicultor que possui uma lavoura orgânica com uma cultivar que não é resistente às principais doenças e/ou pragas da cultura ainda sofre com a falta de opções de produtos registrados/certificados que combatem tais adversidades. Assim, no manejo orgânico trabalha-se com muitas técnicas alternativas para tentar controlar os problemas citados.
Produtividade do café
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Para se obter uma boa produtividade na cultura do café, é necessário que todas as exigências nutricionais da cultura sejam supridas, fazendo a correção de solo e suprimento de nutrientes por meio de adubações orgânicas. Outro fator muito importante é o controle das principais pragas e doenças que a cultura sofre ao longo do seu ciclo produtivo.
Florada do cafeeiro
A florada do café é a resposta da planta em relação ao seu tratamento ao longo do ciclo produtivo de um ano, assim envolvendo todas as adversidades sofridas, como calor, frio, chuva, sol, patógenos, pragas, etc.
A planta irá produzir flores, que futuramente vão virar grãos de café. São as flores que definem o potencial produtivo do cafezal e que irão gerar uma bebida de melhor qualidade e valor de mercado. Quanto mais protegidas, mais frutos as plantas produzirão.
Nessa etapa, o cafeicultor que busca máxima produtividade precisa ficar atento às doenças que atacam a cultura. A mancha de phoma, que ataca as folhas, os ramos e os botões; a cercosporiose, que inviabiliza o fruto com perda de produtividade e qualidade; e a mancha-aureolada, provocada por bactéria, exigem bastante atenção.
Características das doenças
A cercosporiose (Cercospora coffeicola) ataca especialmente os frutos e pode tanto derrubar os que estão em formação, chamados de chumbinhos, como provocar queda de qualidade dos já granados, conforme o momento em que atacam o cafezal. Altas temperaturas, chuvas seguidas de veranicos e desequilíbrio nutricional são fatores que facilitam o seu surgimento.
Já as lesões típicas da mancha de phoma (Phoma costaricensis) ocorrem nas margens das folhas, impedindo o crescimento e fazendo com que elas fiquem retorcidas. É possível observar pequenas pontuações marrom-escuras. A disseminação do patógeno ocorre pelos respingos de água das chuvas ou da irrigação. Nas flores e nos frutos, o fungo causa lesões escuras, e podem ser atacados em qualquer estádio de desenvolvimento.
A mancha-aureolada, ou crestamento bacteriano (Pseudomonas syringae pv. garcae), se diferencia por ser causada, ao invés de fungos, por uma bactéria. Assim como a macha de phoma, esta também apresenta manchas, como coloração marrom-escura, de formato irregular. A diferença está na presença de um anel amarelo (auréola), que é de onde vem o nome. Elas são distribuídas em toda a superfície das folhas, sendo mais frequentes nas bordas. Nos ramos, causa requeima e nos frutos infectados, necrose.
As doenças, mancha de phoma e mancha aureolada, ocorrem com maior intensidade em regiões de altitudes elevadas no início e final do período de inverno. Nessas áreas, mesmo na primavera, ventos frios, temperaturas abaixo de 19°C e alta umidade do ar criam as condições perfeitas para o seu surgimento.
Os períodos de maior incidência da doença ocorrem entre os meses de março e abril e entre setembro e outubro, com o início do período de chuvas.
Como controlar
Para o controle desses fungos, é preciso ter diferentes manejos e também utilizar produtos alternativos para que não ocorra desenvolvimento de resistência. Assim, há diversos trabalhos mostrando bons resultados no controle de bactérias e fungos, como antracnose, cercosporiose, dentre outros patógenos, utilizando produtos biológicos, como exemplo o ingrediente ativo Bacillus subtilis.
Outro exemplo de pulverizações que vem mostrando bons resultados, visando a prevenção de fungos, é a utilização da calda sulfocálcica.
Ainda em estudo e buscando uma alternativa a mais para o controle biológico, tem-se utilizado em constantes pulverizações produtos de homeopatia, assim visando um possível controle de doenças e bactérias.