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Limpeza do sistema hidropônico

Rafael Campagnol rafcampagnol@hotmail.com

Glaucio da Cruz Genuncio glauciogenuncio@gmail.com

Elisamara Caldeira do Nascimento elisamara.caldeira@gmail.com

Doutores e professores – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)

Cultivo protegido – Crédito: Glaucio Genuncio

Dentre os principais benefícios proporcionados pelo cultivo de plantas em sistemas hidropônicos, a menor incidência e/ou interferência de doenças nos cultivos é um dos mais apontados por muitos pesquisadores, profissionais da área e produtores.

Na realidade, de maneira geral, isso é verdadeiro, uma vez que na hidroponia as plantas não são cultivadas no solo (que pode ser fonte de contaminação) e ao uso de estufas agrícolas para a proteção contra chuvas, o que reduz ou até mesmo evita o molhamento das plantas, condição necessária para ocorrência de muitas doenças, especialmente as bacterianas e fúngicas.

Entretanto, mesmo nessas condições, as plantas ainda estão sujeitas a diversas doenças. No caso do cultivo hidropônico NFT (Nutrient Film Technique), onde a solução nutritiva, fonte de água e nutrientes paras as plantas, é recirculante (após passar pelas plantas, essa solução é coletada e aplicada novamente para todas as plantas do sistema), doenças radiculares podem se tornar um sério problema aos produtores, principalmente quando o sistema não é bem manejado e limpo.

O começo

Antes de falamos sobre os procedimentos para a limpeza adequada do sistema hidropônico, precisamos entender como uma determinada doença aparece ali e como evitar que isso ocorra.

As principais formas de entrada de patógenos nos sistemas hidropônicos são pelas sementes, substratos ou mudas contaminadas; pela água utilizada nos cultivos; insumos, como ferramentas de poda e caixas de colheita; e pelas pessoas que trabalham ou visitam a hidroponia, que carregam patógenos em suas roupas e calçados.

Muitos patógenos incidentes em culturas ou em plantas daninhas próximas à estufa também podem ser carregados para dentro do sistema hidropônico pelo vento.

Uma vez presente no ambiente de cultivo, uma determinada doença poderá incidir sobre o cultivo e causar danos econômicos, quando este for suscetível e as condições ambientais forem favoráveis ao desenvolvimento do patógeno.

Em sistemas hidropônicos, por mais que o ambiente de cultivo seja desfavorável à ocorrência de muitas doenças, algumas outras, como por exemplo Pectobacterium spp., Pythium spp., Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum, Bremia lactucae, Cercospora longissima e Septoria lactucae podem encontrar condições muito favoráveis à sua infecção, disseminação e sobrevivência.

Problema x solução

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Em algumas situações, a incidência de doenças pode ser tão severa que inviabiliza completamente o cultivo de plantas no sistema hidropônico.

Para evitar que esses problemas ocorram, é recomendado que os produtores adotem, de forma integrada, várias estratégias de controle para prevenir a entrada de patógenos na área, promover a redução do inóculo e sua disseminação, bem como minimizar os efeitos de doenças sobre a cultura.

Dessa forma, a limpeza adequada do sistema hidropônico é um procedimento muito recomendado para reduzir os diversos problemas fitossanitários e, consequentemente, os riscos da produção hidropônica.

A limpeza do sistema hidropônico pode ser feita de diversas formas, mas independente do procedimento escolhido, o importante é que haja uma boa desinfecção do sistema. O ideal é fazer a limpeza do sistema quando ele estiver sem plantas, pois alguns dos agentes desinfetantes usados podem causar danos ao sistema radicular.

Assim, recomenda-se iniciar a limpeza logo após a colheita de todas as plantas do sistema ou da bancada hidropônica. A primeira etapa da limpeza é a retirada dos restos de raízes do interior dos perfis e das folhas aderidas na sua superfície e presentes no chão da estufa, material que pode ser fonte de inóculo para os próximos cultivos.

Esse procedimento pode ser feito de diversas formas, desde um pano ou esponja umedecidos em um agente desinfetante até um sistema que aplica água com alta pressão por meio de uma mangueira.

O próximo passo

Feita a remoção dos restos vegetais do sistema, é aconselhável que seja aplicada uma solução contendo algum agente desinfetante, como dióxido de cloro, peróxido de hidrogênio, amônia quaternária ou outro produto que não deixe residual tóxico para as plantas e para as pessoas que se alimentarão delas.

Soluções de hipoclorito de sódio, conhecidas popularmente como água sanitária, também podem ser usadas na limpeza do sistema hidropônico. Contudo, como o cloro pode ser tóxico às plantas, após a aplicação da solução com hipoclorito de sódio deve-se enxaguar bem o sistema com água antes do transplante das mudas para as bancadas.

Dicas

A aplicação de soluções desinfetantes é mais eficiente quando permanecem circulando no sistema por um determinado tempo (pode ser uma noite, por exemplo). Após esse período, é recomendado que seja feita uma lavagem do sistema com água. O reservatório de solução nutritiva também deve ser limpo.

Essa tarefa é mais fácil de ser executada quando há uma tubulação específica para o esvaziamento do reservatório.

Caso a bancada que está sendo limpa utilize o mesmo sistema de tubulações e reservatório de solução nutritiva de outras bancadas que estão com plantas, a água residuária da limpeza da bancada deve ser direcionada para um outro reservatório e não misturada com a solução nutritiva que está sendo usada nas demais bancadas.

Apesar de ser viável limpar somente as bancadas, não é recomendável o seu uso até que o reservatório tenha sido limpo antes, pois ele pode conter inóculos de patógenos que poderão infectar as mudas que serão transplantadas.

Na tabela a seguir, são apresentadas sugestões de agentes sanitizantes/desinfetantes para limpeza de sistemas hidropônicos. Esses produtos químicos são usados rotineiramente na indústria de alimentos para sanitizar e desinfectar superfícies de contato de produtos, ambientes e equipamentos.

As recomendações apresentadas foram obtidas de artigos publicados por instituições de pesquisa, empresas especializadas em hidroponia ou de produtores hidropônicos. Entretanto, antes de fazer o uso desses agentes, recomenda-se fortemente fazer um teste de toxidade antes, pois os efeitos desses produtos, tanto para as plantas quanto para os patógenos, podem ser diferentes de acordo com o tipo de estrutura hidropônica, qualidade da água, condições do ambiente de cultivo e composição química do produto.

Esse teste pode ser feito em uma área pequena do sistema hidropônico, que não gere prejuízo econômico ao produto caso a dose testada cause fitotoxidez às plantas. Toda a manipulação e aplicação desses produtos devem ser feitas com cuidado, atenção e com o uso de equipamento de proteção individual para evitar acidentes.

Agentes sanitizantes Recomendação de Uso
Dióxido de cloro 60 ppm por 10 minutos.
Peróxido de hidrogênio 80 volumes, a uma diluição de 30 ml para 1.000 L de água.
Quaternários de amônio 100 a 400 ppm, dependendo da composição química do produto. Quarentenários de amônio de 5ª geração podem ser usados em menor concentração.
Hipoclorito de sódio 200 a 400 ppm de cloro ativo por no mínimo 30 minutos.
Ácido Peracético 80 a 120 ppm por cinco minutos, no mínimo.

Quando mais cuidado, melhor

Além da limpeza adequada das estruturas do sistema hidropônico, outra forma de reduzir problemas fitossanitários na hidroponia é o tratamento da solução nutritiva durante o cultivo. Ou seja, fazer o uso de métodos que reduzam a incidência, desenvolvimento e disseminação de doenças através da solução nutritiva. Dentre as técnicas usadas para isso, destacam-se o ozônio e a radiação ultravioleta.

Tanto o borbulhamento de ozônio como o uso de radiação ultravioleta na solução nutritiva são eficientes na inibição do crescimento de vários fungos e oomicetos, como o Pythium. Entretanto, seus usos podem prejudicar a estrutura de quelatos, especialmente de ferro.

Assim, o uso dessas técnicas deve ser muito bem avaliado. Caso o produtor opte por usar alguma delas, ele pode aumentar a dose aplicada de micronutrientes quelatados e deve acompanhar o crescimento das plantas afim de constatar rapidamente qualquer sintoma de carência nutricional.

Outro método de tratamento da solução nutritiva é o biológico. Os produtos biológicos para uso na agricultura está cada vez mais comum, diversificado e acessível. O tratamento da solução com esses agentes biológicos, como o Bacillus subtilis e Trichoderma sp, por exemplo, tem apresentado boa eficiência no controle de algumas doenças radiculares, como a podridão de raízes causada pelo Pythium.

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