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Ácidos húmicos: Mais disponibilidade de nutrientes ao tomateiro

Autores

Nilva Terezinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (UniPinhal)
nilvatteixeira@yahoo.com.br

Fotos: Shutterstock

O tomate é uma das hortaliças mais importantes em termos econômicos no Brasil, compondo a dieta diária de grande parcela da população. Por este motivo, a necessidade de se obter a máxima produtividade da cultura é uma constante.

 A quantidade de nutrientes extraída pelo tomateiro é relativamente pequena, mas a exigência por fertilizantes é muito grande, pois a eficiência de absorção dos nutrientes pela planta é baixa. Para os fertilizantes fosfatados, por exemplo, a taxa de absorção é de aproximadamente 10%.

O uso eficiente de fertilizantes exige uma diagnose correta de possíveis problemas de fertilidade do solo e nutrição da planta, antes e após as adubações. O conhecimento do histórico da área deve também ser considerado, pois os resíduos de adubações pesadas, principalmente de micronutrientes, podem atingir níveis tóxicos.

 Assim, aumentar a eficiência no uso dos fertilizantes é muito importante, e entre as ferramentas disponíveis para aumentar tal está a inclusão de fertilizantes contendo ácidos húmicos e fúlvicos.

Quem são elas

As substâncias húmicas, ou seja, huminas, ácidos húmicos e fúlvicos, além de influenciar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo exercem efeito direto sobre o crescimento e metabolismo das plantas, especialmente sobre o desenvolvimento radicular.

Mas, o que são substâncias húmicas? São compostos derivados de sedimentos orgânicos, como turfa, estercos, etc., contendo na sua estrutura hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre. Não apresentam estruturas bem definidas e se dividem, de acordo com a solubilidade, em huminas, ácidos húmicos e ácidos fúlvicos. Os dois últimos são os ativos biológicos.

Grupos funcionais

Os ácidos húmicos e fúlvicos possuem, na composição, diferentes grupos funcionais, como hidroxilas, carbonilas, fenóis, entre outros, o que permite, quando incluídos nos cultivos agrícolas, propiciar melhorias nas propriedades físicas, biológicas e químicas dos solos, beneficiando, assim, o enraizamento das plantas, seu desenvolvimento e produção.

Os ácidos húmicos interferem diretamente na qualidade física do solo, por promoverem uma aproximação das partículas e, consequentemente, sua união, gerando, dessa forma, uma maior agregação dos solos.

O processo de agregação dos solos influi diretamente sobre outras características como, por exemplo, a densidade, porosidade, aeração, capacidade de retenção e infiltração de água no solo.

Por possuírem cadeias muito grandes, as substancias húmicas têm alta capacidade de retenção de água, o que colabora para a manutenção de agregados estabilizados nos solos. Sua capacidade de reter água é 20 vezes maior que a dos solos sem matéria orgânica, o que justifica a maior capacidade de plantas sobreviverem melhor em solos com grande quantidade de substâncias húmicas durante o período de déficit hídrico.

Os efeitos químicos causados ácidos húmicos e fúlvicos no solo estão relacionados com o aumento da disponibilidade de nutrientes para as plantas, o que se concretiza devido às características coloidais de tais substâncias, que possuem essa propriedade devido ao seu tamanho, o que lhes confere alta reatividade, podendo interferir diretamente no pH, pelo efeito tampão, e aumentar a capacidade de troca catiônica dos solos.

Ação nutricional

Considera-se que os ácidos húmicos e fúlvicos favorecem a disponibilidade e a assimilação de nutrientes, a retenção de cátions em concentrações elevadas no solo, pelas cargas e elevada superfície específica que possuem.

Os efeitos de tais ácidos são diversos, e sempre de acordo com a adubação empregada, o que torna o estudo da inclusão dos mesmos nos sistemas de produção interessante. As substâncias húmicas são degradadas no solo, o que demonstra a importância da incorporação permanente de resíduos vegetais ou de substâncias húmicas comerciais ao solo, para a permanência dos benefícios.

Os efeitos positivos dos ácidos húmicos e fúlvicos sobre as plantas são justificados por influência positiva no transporte de íons, favorecendo, também, a absorção, o aumento da taxa respiratória e das reações enzimáticas do ciclo de Krebs, o que resulta em maior produção de ATP.

Considera-se, ainda, que tais substâncias promovem incremento no conteúdo de clorofila, de ácidos nucleicos e de proteínas nas plantas. Relata-se, também, que a influência dos ácidos húmicos na absorção iônica seria o resultado de aumento da permeabilidade da membrana celular.

 Acredita-se, também, que os ácidos húmicos e fúlvicos absorvidos pela planta, em estágios avançados do seu desenvolvimento, são uma fonte de polifenóis, que funcionam como catalizadores da respiração. O resultado é o aumento da atividade metabólica do vegetal, aceleração dos processos enzimáticos e da divisão celular, crescimento mais rápido da raiz e aumento de matéria seca.

Assim, o emprego de formulados contendo ácidos húmicos e fúlvicos, quando associados a um programa de adubação adequado, pode resultar em benefícios à produção, principalmente em solos arenosos ou muito argilosos, melhorando a disponibilidade e a assimilação de nutrientes e estimulando o metabolismo das plantas, resultando em melhor enraizamento, favorecendo o desenvolvimento e produtividade das plantas.

Pesquisas com tomateiro

Em estudo com tomateiro cultivado no campo pela equipe de Nutrição de Plantas do UniPinhal,evidenciou-se que o uso em fertirrigação, com a aplicação de 10 L.ha-1, em quatro parcelas aos 15, 30, 45 e 60 dias, proporcionou aumento de 28,30% de produção de frutos, melhorando qualidade e tempo de prateleira, favorecendo, então a durabilidade dos frutos, o que beneficia comercialização.

Aspecto a considerar é o efeito positivo do uso dos ácidos húmicos na produção de raízes. Sabe-se que as raízes são importantes órgãos de fixação das plantas para absorção de água e nutrientes, o que se reflete na produtividade.

Em estudo em vasos com tomate cv Combate, conduzido no UniPinhal, observou-se, com o uso via drench de formulado comercial contendo 10,0% de K2O e 20,5% de ácidos húmicos e ácidos fúlvicos, na dose de 2 L.ha-1, por ocasião do plantio das mudas, um ganho de 15% em comprimento, 23% em massa fresca e 26,4% em massa seca das raízes, em observações efetuadas aos 40 dias pós instalação do estudo.

Em ensaio conduzido em vasos em casa de vegetação do setor de Nutrição Mineral de Plantas, Curso de Engenharia Agronômica “Manoel Carlos Gonçalves”, UNIPINHAL, Espírito Santo do Pinhal (SP), com tomate cv Alamba, implantado em solo de baixa fertilidade e de textura argilosa, estudou-se a influência da adição de doses crescentes de fertilizante contendo 10,0% de K2O e 20,5% de ácidos húmicos e fúlvicos.

As parcelas experimentais não receberam nenhum tipo de adubação orgânica e a fertilidade foi corrigida com calcário e adubos minerais, pela análise de solo e necessidade da cultura. Aos 60 dias coletaram-se os seguintes dados: número de frutos, peso dos frutos, frescos e secos, e massa verde e seca da parte aérea.

Os resultados obtidos permitiram concluir, para condições experimentais, que o formulado atuou como condicionador do solo em estudo, restaurando as propriedades do solo, beneficiou a produção, aumentando o número de frutos e o peso dos mesmos. A dose de 1,5 L.ha-1 foi a mais conveniente.

Quando usar

As possibilidades são inúmeras. Pode-se começar aplicação na formação de mudas por fertirrigação ou em mistura com o substrato. Assim, as mudas terão raízes mais vigorosas e volumosas, o que proporcionará melhor adaptação ao plantio definitivo.

ð Por ocasião do plantio no campo: de acordo com o formulado escolhido, pode-se aplicar em área total e incorporar o insumo no solo (material sólido), na faixa de plantio (fertirrigação, via drench, ou via sólida).

ð Durante o ciclo da cultura: uma possibilidade é aplicar aos 15, 30, 45 e 60 dias após o transplante. Outra opção é adicionar tais ácidos todas as vezes que for adubar a cultura.

ð Em relação à dose: depende do produto selecionado: na apresentação líquida há recomendações de uso de 9,0 até 40 L.ha-1 e na forma sólida de 5,0 até 20 kg.ha-1.

ð Aspectos importantes: usar com recomendação técnica, na dose indicada e aplicar corretamente. A inclusão do produto na lavoura com respaldo técnico, modo de aplicação e doses adequadas pode proporcionar expressivos ganhos ao tomaticultor.

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