Herika Paula Pessoa – herika.paula@ufv.br
Françoise Dalprá Dariva – fran_dariva@hotmail.com
Felipe de Oliveira Dias – felipedeoliveiradias@gmail.com
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Anthonomus grandis é um besouro que atualmente é uma das pragas mais importantes na cotonicultura brasileira. Conhecido popularmente como bicudo-do-algodoeiro, o manejo eficaz dessa praga depende de técnicas que vão além da aplicação de inseticidas específicos. Isso se deve às particularidades do modo de vida desse inseto.
Pertencente à família dos curculionídeos, ordem coleóptera, o inseto adulto deposita seus ovos nas maçãs do algodoeiro e as larvas, quando eclodem, ficam protegidas pelo botão floral, reduzindo a eficiência das pulverizações.
Por possuir rápida capacidade reprodutiva, ao longo do ciclo cultural podem ocorrer entre quatro e seis gerações do besouro. Em final de safra os bicudos migram para outras áreas de algodão e/ou para áreas de refúgio, entrando na diapausa e voltando a colonizar a safra seguinte.
O ataque
O ataque do bicudo se inicia nas bordaduras das lavouras de produção de algodão. A redução da produção da pluma é o principal prejuízo causado pelo ataque dessa praga. O ataque do bicudo ocorre no período reprodutivo do algodoeiro devido às estruturas reprodutivas serem seu alvo principal.
Ao se alimentar ou ovipositar nos botões florais, as flores atacadas ficam com aspecto característico de “flor em balão” em decorrência da abertura anormal das pétalas. Para diferenciar os orifícios de oviposição e alimentação do bicudo, os primeiros são recobertos por cera e menores que os orifícios de alimentação. Preferem as maçãs mais jovens, por serem mais tenras, facilitando a alimentação.
O ataque pode levar ao amarelecimento e queda dos botões florais que, mesmo destacados da planta, ainda podem ser fonte de alimento e abrigo ao besouro.
Incidência
Altas infestações dessa praga são observadas durante períodos chuvosos e com temperaturas mais amenas. Isso porque uma maior umidade conserva os botões florais atacados por mais tempo, garantindo maior reprodução do inseto.
Por outro lado, períodos secos aliados a temperaturas elevadas provocam a dessecação dos botões florais atacados presentes na superfície do solo, ocasionando maior taxa de mortalidade de larvas.
Apesar de o bicudo-do-algodoeiro também ser considerado uma importante praga dos cultivos de algodão no Cerrado, as características ambientais desse local, tais como baixa umidade relativa do ar, temperaturas altas, falta de refúgios e alimentos alternativos na entressafra, são fatores que desfavorecem a sobrevivência do inseto adulto e, consequentemente, a severidade da infestação na safra seguinte.
Controle
As principais formas de controle do bicudo-do-algodoeiro consistem no manejo cultural dos campos de produção, como o plantio na época recomendada, preparo antecipado do solo (cerca de 40 dias antes da semeadura), utilização de variedades precoces, catação e destruição de botões florais atacados e caídos ao solo, aplicação de reguladores de crescimento para aumentar a eficiência da aplicação de inseticidas, e destruição de restos culturais em até 30 dias após a colheita.
O controle químico é ainda considerado a forma mais eficiente de combate. Atualmente são realizadas, em média, cerca de 15 a 20 aplicações de inseticidas por safra para controle do bicudo-do-algodoeiro nas lavouras de algodão pelo Brasil.
O emprego das diferentes estratégias de manejo da praga já citadas, contudo, reduzem significativamente o número de aplicações de inseticidas nas safras seguintes.
Questão e iniciativa
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A tomada de decisão, no caso do controle químico, é baseada no monitoramento constante do bicudo na lavoura. A amostragem da presença do inseto ou injúria causada pelo mesmo no botão floral é feita em 250 plantas dominantes por talhão (1 botão/planta) e o controle químico adotado quando 5% dos botões apresentarem sinais de ataque.
O monitoramento da população do inseto adulto, por meio de armadilhas dispostas ao longo dos talhões, contendo o feromônio do bicudo (grandlure), tem ainda papel fundamental na adoção de medidas de controle químico.
Em geral, as armadilhas de feromônio são instaladas ao longo dos talhões, 50 dias antes do plantio, espaçadas 200 metros entre si. Porém, vale ressaltar que cada armadilha possui suas especificações próprias, por isso, o produtor deve se atentar à recomendação do fabricante quanto à distância entre uma armadilha e outra no talhão e o intervalo de troca do feromônio.
Essas armadilhas são usadas para determinar o índice de captura, conhecido como BAS (bicudo/armadilha/semana) que, por sua vez, indica o número de aplicações por consequência do surgimento dos primeiros botões florais (estádio fenológico B1) da seguinte maneira: BAS maior que 2 indica três aplicações, BAS entre 1 e 2, duas aplicações, de 0 a 1, uma aplicação, e BAS igual a zero, indica nenhuma aplicação.
Opções
Vários grupos químicos são eficazes no controle desse inseto, como os organofosforados (fenitrotiona, malation, metidationa), piretroides (cipermetrina, deltametrina, bifentrina), ciclodienoclorados (endosulfan), carbamatos (carbaryl), entre outros. Ainda, formulações oleosas têm se mostrado mais eficientes no controle.
Além do monitoramento, a utilização de armadilhas, como os tubos mata-bicudo, têm papel importante na redução da população de insetos adultos que constituem risco 1 para a próxima safra.
O tubo mata-bicudo nada mais é que um tubo de papelão, posicionado a 1,0 m acima do nível do solo, e que contém substâncias tanto atrativas quanto inseticidas. Em geral, esses tubos são instalados em todo o perímetro externo do campo de cultivo, ou mesmo concentrados nos locais considerados portas de entrada e saída dos insetos (refúgios) na época do pré-plantio e também da colheita e destruição das soqueiras.
Pesquisas
Esforços da Embrapa em parceria com outras instituições para a criação de algodoeiro transgênico com resistência ao bicudo estão em andamento e prometem reduzir os prejuízos causados por essa praga, ao mesmo tempo que diminui as aplicações de defensivos químicos na lavoura.
Já foram identificadas cepas da bactéria Bacillus thuringiensis contento proteínas inseticidas eficientes no combate das larvas do bicudo. A ideia do projeto é transferir a informação genética que codifica essas proteínas para materiais elite de algodão via técnicas de engenharia genética. Tais cultivares ainda não estão disponíveis no mercado.
O aumento da infestação dessa praga têm sido observadas nos últimos anos. Tal fato está associado a deficiências no controle da soqueira e de plantas voluntárias (tigueras), que fornecem alimento ao bicudo no período da entressafra. Após a colheita do algodão, os insetos sobreviventes migram para a periferia do campo de produção e, posteriormente, para as áreas circunvizinhas, conhecidas como refúgio, onde permanecem em estado de quiescência (baixo metabolismo), só retornando após a implantação de um novo cultivo.