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O míldio é a principal doença da videira no Brasil. Causa sérios prejuízos à viticultura em regiões com alta precipitação, principalmente no final da primavera e no verão. É também conhecida como peronóspora, mufa ou mofo
O míldio da videira ataca, de modo geral, tanto variedades americanas como vinÃferas (variedades de uva). Ele pode começar o ataque às folhas, ramos, cachos, bagas e à própria inflorescência logo no início das primeiras brotações, mas nas condições do Rio Grande do Sul, onde está a maior parte da produção brasileira, acontece por volta da floração, que se dá no mês de outubro.
Segundo Lucas Garrido, pesquisador na área de fitopatologia da Embrapa Uva e Vinho, dependendo do momento do ataque do agente causal, Plasmopara viticola, ocasiona-se maiores ou menores prejuízos ao produtor. “O ataque na floração, que seria a época mais crÃtica, é quando ocorrem as maiores perdas na produção, com o abortamento das flores ou a queda das ‘baguinhas’. Já na pós-floração ocorre o ataque às folhas, e mesmo esse também é prejudicial para a produção“, alerta.
A produção pode não ser afetada em quantidade, mas é prejudicada na qualidade, pois o ataque do míldio às folhas deixa a uva mais ácida e com teor de açúcar menor. Esses motivos justificam a necessidade de o produtor fazer as devidas aplicações, seja com fungicidas ou com produtos alternativos, visando o controle.
Alerta geral
O míldio da videira é considerado a principal doença da cultura, embora existam outras que também afetam as frutas, mas, em termos de potencial destrutivo, esta seria a que, de modo geral, causa as maiores perdas, principalmente em ano de El Niño, como foi o último.
Lucas Garrido explica que, com a sequência maior de chuvas surgem as condições ideais para o desenvolvimento do patógeno, que se desenvolve melhor com  temperatura em torno de 24°C, podendo ser mais elevada no mês de janeiro, e umidade, visto que os esporos do patógeno precisam dela para a germinação seguida de penetração nos tecidos da planta.
Sintomas
O ataque às folhas ocasiona a chamada mancha de óleo, pois a folha fica um pouco translúcida nas lesões. “Primeiro as lesões são amareladas, passando a necróticas, até ocasionar a desfolha da planta. O ataque à inflorescência, ou na presença de ‘baguinhas’, provoca o abortamento de flores com manchas amarronzadas, e a queda das ‘baguinhas’ quando elas ainda estão pequenas. Já o ataque aos ramos deixa-os com aparência amarronzada“, informa o pesquisador da Embrapa.
Ainda segundo ele, em anos de La Niña, em que chove menos no Sul, os danos são menores. “Os dois últimos anos foram ano de La Niña e talvez por isso em 2014 muitos produtores tenham se apavorado, por já terem esquecidos da frequência de pulverizações que são necessárias para controlar o míldio“, diz Lucas Garrido.
Infestação
O míldio acaba se perpetuando de uma safra para a outra por meio das folhas infectadas caÃdas no chão, sendo que recolhê-las seria muito difícil. A praga também é levada pelas correntes aéreas, ou seja, o próprio vento ajuda a espalhar o míldio para outros vinhedos, principalmente porque na Serra Gaúcha os vinhedos ficam um ao lado do outro.
Controle
O controle do míldio deve ser realizado com algumas práticas, dentre elas não plantar o vinhedo em baixadas, onde se concentra mais umidade e favorece a doença. Se possível, o plantio deve acontecer em terreno de encosta. De qualquer forma, aconselha Lucas Garrido, se o plantio for em baixada o produtor realizará Â mais pulverizações.
Outro aspecto diz respeito à escolha da variedade. “Embora o míldio ataque as uvas americanas e as vinÃferas, as variedades europeias (vinÃferas) são muito mais suscetíveis à doença“, justifica o pesquisador.
O terceiro aspecto é a adubação equilibrada. Isso porque o produtor gosta de colocar uma quantidade maior de adubo e capricha na adubação nitrogenada, o que, posteriormente, acaba favorecendo na suscetibilidade da videira à infecção causada por fungos. Ou seja, a adubação tem que ser equilibrada.
O quarto ponto essencial é a utilização de produtos para o controle dirigido do míldio. Há vários fungicidas de contato e ou sistêmicos para o controle do míldio. Evidentemente, na época mais crÃtica os agricultores costumam fazer uma aplicação por semana visando o seu controle, que é uma mistura de produtos de contato e sistêmicos, aplicados preferencialmente antes da entrada do patógeno nos tecidos. Os produtos sistêmicos apresentam o poder de eliminar estruturas de fungos após a entrada nos tecidos, desde que aplicados logo após a infecção define. Outro ponto importante é o produtor sempre utilizar os fungicidas registrados para a videira, bem como respeitar o período de carência de cada produto.
Os produtos a base de cobre a mais de um século são utilizados para o controle dessa doença. São produtos de contato, baratos e eficientes se aplicados corretamente.