Bruna Kovalsyki
Andressa Tres
Doutoras em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Fernanda Moura Fonseca Lucas
Doutoranda em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
A queima da vegetação é hoje um dos métodos mais utilizados para limpeza de áreas agricultáveis e para renovação de pastagens, no entanto, essa prática quase sempre é realizada de maneira indiscriminada.
Vale lembrar que, via e regra, o uso do fogo é proibido pelo Código Florestal (Lei 12.651/2012), mas em locais com peculiaridades que justifiquem o seu uso em práticas agropastoris ou florestais, entre outras exceções, é possível a utilização mediante aprovação do órgão ambiental competente. Sem o devido acompanhamento, as queimas podem fugir do controle e provocar incêndios que atingem remanescentes florestais e plantios comerciais.
Apesar de indesejável, a ocorrência de incêndios florestais em áreas de cultivos comerciais de extração de madeira é comum. O Brasil detém mais de 7,0 milhões de hectares de plantios de espécies florestais.
Considerando o uso eventual do fogo nas práticas agropastoris e florestais, a ocorrência de queimas em áreas vizinhas às culturas e a presença de estações secas propícias para a formação e propagação de um incêndio, tornam indispensável a presença de brigadistas e a realização de atividades preventivas nesses locais.
Causas
Mais de 99% das causas dos incêndios advêm de atividades antrópicas, muitas vezes não intencionais e resultam em perdas econômicas, sociais e, principalmente, ecológicas.
Em um levantamento conduzido por Foster Brown, pesquisador da Universidade Federal do Acre, verificou-se que incêndios florestais que aconteceram durante uma estação seca prolongada no segundo semestre de 2005 na região sudoeste da Amazônia que ocupa Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia), resultaram em expressivos danos.
Estima-se que mais de 300 mil hectares de floresta foram afetados, produzindo uma poluição atmosférica que atingiu mais de 400 mil pessoas e um prejuízo de 50 milhões de dólares em perdas econômicas diretas.
Por que o fogo pode ser fatal às florestas?
A ação do fogo proporciona diversos efeitos às florestas e aos plantios florestais. Quando utilizado como técnica de manejo, o fogo pode ser útil e trazer benefícios para aquele ambiente. Porém, fora de controle, pode causar muitos danos.
O fogo possui grande capacidade de alterar a estrutura e a funcionalidade destes ambientes, pois age no solo, na matéria orgânica, nos microrganismos, nas espécies vegetais e animais. A depender da intensidade e frequência de sua ocorrência, o fogo pode alterar o ambiente a um ponto irreversível e extinguir as condições de vida necessárias para os seres ali existentes.
O efeito do fogo no solo é amplo. A curto prazo, a queima devolve ao solo de maneira rápida grande parte dos nutrientes existentes na biomassa consumida. Por outro lado, a passagem das chamas reduz a matéria orgânica presente e altera, consequentemente, a estabilidade do solo, deixando-o mais vulnerável a processos erosivos.
O calor produzido com a combustão da biomassa pode proporcionar elevação da temperatura das células vivas a um nível letal, sendo essa uma das principais causas de mortalidade vegetal. Assim, a passagem do fogo devasta mudas e pequenas árvores, podendo também provocar injúrias nos troncos (cicatrizes) que facilitam a infestação de pragas.
Espécies que não possuem mecanismos de resistência, como cascas mais espessas ou proteções nas gemas, são menos resilientes. Deste modo, em ambientes dotados majoritariamente por espécies pouco tolerantes, a passagem de incêndios pode ser fatal.
O foco
Muito se questiona sobre o fator causador de um incêndio, mas no Brasil grande parte destes eventos não são submetidos à perícia investigativa. Somente a partir de denúncias e observações em campo torna-se possível estimar as prováveis causas.
Com base nos dados obtidos pelos registros de ocorrência de incêndios (2014 a 2019) disponibilizados no Sistema Nacional de Informações sobre o Fogo (Sisfogo), a maioria dos incêndios florestais advém de atividades antrópicas.
Ações de vandalismo sobressaem com maior número de ocorrências, equivalendo a 25% de um total de mais de 4,0 mil incêndios computados. Em seguida, destacam-se as queimadas para renovação de pastagens (naturais e plantadas) com 14,4% e queimas para limpezas de cultivos com 13,03%.
Incêndios naturais ocorrem em menores taxas (0,41%) e intensidade, pois são basicamente oriundos de raios, e consequentemente, seguidos por chuvas.