Givago Coutinho – Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado) – givago_agro@hotmail.com
A figueira (Ficus carica L.) é uma espécie pertencente à família Moraceae. O gênero ao qual pertence, Ficus, engloba por volta de 1.000 espécies e desperta o interesse para a maioria das espécies apenas para fins de jardinagem.
Dentre as cultivares, ‘Roxo de Valinhos’ é a mais largamente cultivada no Brasil, sendo a principal plantada a nível comercial e seus frutos são utilizados tanto para consumo in natura quanto na indústria.
Potencial de cultivo
Atualmente, o cultivo da figueira tem se tornado uma opção interessante para a agricultura familiar e agroturismo. Quanto à utilização dos frutos, os figos, quando ainda verdes, são comercializados em feiras e supermercados, utilizados na fabricação de compotas e frutas cristalizadas ou vendidos à indústria de doces.
Quando maduros ou nos estádios iniciais de maturação, comumente conhecido como “de vez”, são utilizados no consumo in natura ou na forma de doces como a figada (em barra), geleias e tipo rami.
Neste contexto, o correto manejo nutricional da figueira em todas as suas fases fenológicas visa alcançar altos índices produtivos e assim viabilizar os cultivos de forma sustentável e racional, permitindo a expansão da cultura para novas áreas de produção, além de incentivar a diversificação de culturas e renda por parte dos produtores, desde os cultivos mais tradicionais até os mais tecnificados.
Correto manejo nutricional
Para a calagem, deve-se ajustar a faixa ideal de pH para a cultura entre 6 e 6,5 e a saturação por bases próxima a 70%, com teor de magnésio de no mínimo 0,9 cmolc.dm-3. Recomenda-se utilizar o método da saturação por bases, efetuando-se a correção para o poder real de neutralização total (PRNT) do calcário adquirido.
A calagem deve ser realizada com prazo de antecedência mínimo de três meses à instalação do pomar, além de se optar preferencialmente pelo calcário dolomítico, fonte de cálcio e magnésio.
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A calagem visa a elevação do pH do solo até valores adequados à cultura, além de contribuir para a neutralização ou redução dos efeitos tóxicos causados pelo alumínio e/ou do manganês do solo. A técnica também proporciona melhores condições para o desenvolvimento radicular das plantas e a absorção de nutrientes.
No contexto do manejo nutricional da figueira, dentre os macronutrientes primários o nitrogênio (N) e o potássio (K) são os mais demandados. Contudo, a figueira é pouco exigente em fósforo (P). Com relação aos micronutrientes, é exigente em boro, zinco e molibdênio, sendo esses três últimos aplicados via solo, assim como os demais micronutrientes.
Dicas
A aplicação de micronutrientes pode ser efetuada em intervalos de dois anos e conforme mencionado, dando-se preferência por adubos que possam ser aplicados via solo. A necessidade de aplicação de micronutrientes pode ser estimada por análises foliares.
Estima-se que para se atingir uma produtividade média de 7.000 kg.ha-1 de figos verdes ocorre a extração média de macronutrientes nas seguintes quantidades: nitrogênio = 17,2; potássio = 13,3; cálcio = 4,56; magnésio = 2,07; fósforo = 2,03 e enxofre = 0,90 (valores em quilogramas/hectare/safra).
Com relação aos micronutrientes, ocorre a extração em quantidades médias de: ferro = 48; manganês = 33,7; boro = 32,3; zinco = 22,7 e cobre = 7,94 (valores em gramas/hectare/safra). Já se o cultivo ocorrer visando a produção de figos maduros, a demanda por potássio é levemente superior à de nitrogênio.
O adubo fosfatado, ou seja, fonte de fósforo, deve ser aplicado na área em dose única no início do período de brotação e com tempo mínimo de um mês após a calagem, se houver necessidade desta. As fontes de nitrogênio e potássio (adubos nitrogenados e potássicos, respectivamente) são aplicadas em parcelamento com quatro doses, com a primeira a partir do início da brotação, obedecendo intervalos médios de 60 dias entre as aplicações.
Estratégias eficientes
Maiorano et al. (2014) relatam que na produção da figueira no Brasil, como estratégia de adaptação da planta, foram utilizadas duas estratégias de manejo de adubação. A primeira diz respeito ao intenso uso de matéria orgânica proveniente de esterco de curral e, mais recentemente, o uso de cama de frango.
A segunda se refere ao uso de cobertura morta no solo proveniente de massa seca de espécies como capim, conhecido popularmente como gordura ou meloso, seguida pela aplicação de bagaço de cana.
No cultivo orgânico da figueira, Nachtigal, (2008) ressalta que a adubação orgânica pode ser efetuada a partir de resíduos como cama de frango, esterco bovino, etc. A utilização de cobertura morta no inverno (aveia preta, ervilhaca e nabo forrageiro) e verão (crotalária, feijão de porco e mucuna-preta) na linha de plantio apresenta benefícios como a melhoria na eficiência do uso da irrigação, aumento na produtividade e redução da ocorrência de algumas doenças.
Planejamento é tudo
Visando um bom programa de cultivo, o ficicultor deve estabelecer algumas condições como ideais, como o suprimento adequado de água e nutrientes, além de contribuir para manter ou aumentar o teor de matéria orgânica presente no solo, sabendo-se que poderão ocorrer perdas desta por erosão, decomposição e retiradas pela cultura e/ou plantas invasoras. Ao proceder desta forma, estabelece-se um efeito compensatório destas perdas.
Para o adequado acompanhamento do estado nutricional das plantas, o ficicultor deve realizar análises anuais de solo e de folhas. De posse das análises de solo, é possível efetuar as recomendações visando à correção do solo, bem como a adubação das plantas.
As análises foliares permitem complementar a recomendação de adubação da cultura. Neste sentido, é possível a avaliação do programa de correção do solo e adubação, avaliando a eficiência do mesmo e permitindo-se inferir se o objetivo de produção está atingindo o esperado, verificando se as plantas estão com a nutrição adequada.
Segundo Caetano et al. (2012), a correta amostragem de folhas de figueira parte da coleta de folhas jovens e totalmente expandidas, em ramos com exposição ao sol e cerca de três meses após o início da brotação, com no mínimo 40 folhas coletadas por gleba ou talhão com características homogêneas de área.
Os mesmos autores propõem valores considerados adequados aos teores de macro e micronutrientes presentes nas folhas (Tabela 1).
Tabela 1. Valores de referência para teores foliares de macro e micronutrientes na figueira. Fonte Caetano et al., (2012). Adaptado de Costa et al. (2007).
Macronutrientes | ||||
N | P | K | Ca | Mg |
dag.kg-1 | ||||
2,2 – 2,4 | 0,12 – 0,16 | 1,2 – 1,7 | 2,6 – 3,4 | 0,6 – 0,8 |
Micronutrientes | ||||
Fe | Zn | Cu | Mn | B |
mg.kg-1 | ||||
80 – 160 | 11 – 13 | 4 – 8 | 60 – 100 | 50 – 80 |
Em campo
Leonel e Damatto Junior (2008), ao avaliarem os efeitos de doses de esterco de curral na nutrição e produção da figueira em Botucatu (SP), ressaltam que a adubação com o esterco de curral apresentou eficácia, sendo capaz de suprir as exigências nutricionais da figueira em sua fase de formação.
Os autores observaram teores foliares dos principais macro e micronutrientes em teores considerados adequados para a cultura. Estes resultados foram positivos para a produção de frutos e obteve-se uma produtividade média de 6,3 t.ha-1.
Recomenda-se, ainda, que a adubação das covas seja feita em até 30 dias antes do plantio no campo.