Vinícius Teixeira Lemos – Engenheiro agrônomo, consultor e professor de Agronomia – Centro Universitário Una de Bom Despacho – lemosvt@yahoo.com.br
Dentre todos os micronutrientes utilizados pela planta, um merece atenção: o boro. O micronutriente apresenta funções indispensáveis à planta de café, dentre as quais: germinação do grão de pólen, crescimento do tubo polínico, regulagem da síntese da parede celular, crescimento de meristemas e atividade enzimática.
Desta forma, salienta-se a importância de se suprir de forma adequada esse nutriente, principalmente pela sua influência no pagamento da florada, que interfere diretamente na produção do cafeeiro.
Malavolta (2006) resume as funções do boro na planta do seguinte modo:
1. Absorção e transporte de água e nutrientes;
2. Maior vegetação;
3. Maior pegamento das floradas, menor esterilidade;
4. Proteção contra doenças;
5. Melhora na qualidade dos produtos.
Não deixe faltar
O boro é um micronutriente encontrado na matéria orgânica. Os fatores que contribuem para sua falta são: lixiviação, falta de cálcio ou calagem excessiva, ou ainda o excesso de nitrogênio na adubação, entre outros fatores, da seguinte maneira: a falta de matéria orgânica no solo ou a dificuldade de sua mineralização provocada pela seca acarretará a indisponibilidade do boro às plantas. Por outro lado, o excesso de chuva pode retirar esse nutriente da área de ação das raízes por meio da lixiviação.
A falta de cálcio dificulta a absorção de boro. Porém, a calagem excessiva poderá alterar o pH do solo, diminuindo assim a absorção não só do boro, mas também de outros nutrientes. A figura 1 do livro manual de nutrição mineral de plantas do autor Eurípedes Malavolta exemplifica bem isso:
[rml_read_more]
Figura 1: Relação entre o pH e a disponibilidade dos nutrientes para serem absorvidos pelas plantas no solo. Fonte: MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas Piracicaba: Ceres, 2006. 638p.
Meio de fornecimento
Muito nitrogênio na adubação também poderá induzir a deficiência de boro pelo efeito de diluição, pois este é um nutriente pouco móvel na planta. O boro se movimenta pelo floema, e devido a tal imobilidade, sua aplicação via foliar apresenta baixa eficiência. Por isso, é indispensável a aplicação via solo, quando houver demanda.
Sendo assim, a aplicação de boro via foliar deve funcionar apenas como um complemento da aplicação via solo, pois se utilizada em substituição pode resultar em deficiência desse nutriente.
A aplicação do boro via solo é a mais eficiente e duradoura, mantendo, normalmente, níveis foliares adequados por 1,5 ano, provavelmente pelo caminhamento em profundidade e sua absorção, pelas raízes do cafeeiro, de camadas mais profundas do solo.
A dose indicada em cafezais adultos é de 2,0 – 6,0 kg/ha de fontes usuais, como ácido bórico, bórax e ulexita, com as doses menores em solos mais leves.
Sintomas de deficiência
Os sintomas de deficiência de boro ocorrem primeiramente nos órgãos mais novos e em regiões em crescimento. As folhas mais novas apresentam redução de tamanho e deformação, menor desenvolvimento das raízes, seca e morte das gemas apicais e menor pegamento da florada.
Tanto nas gemas terminais como na ponta dos ramos e ápices das plantas ocorre superbrotação em forma de “leque”, fazendo com que folhas se tornem deformadas, de tamanho menor que o normal, e retorcidas, com bordos irregulares.
Os sintomas de toxidez são percebidos quando os teores foliares de boro atingem valores superiores a 200 ppm, como clorose malhada nos bordos e ápices das folhas mais velhas, escurecimento de nervuras e desfolhamento.
Níveis adequados e exigências
Os teores adequados de boro no solo, quando o extrator for água quente, variam em função do tipo de solo, espécie vegetal, clima, teor de matéria orgânica e pH. Para a cultura do café, admite-se como adequado um teor foliar de 40-80 ppm e um nível no solo de 0,5 a 1,0 mg/dm3 (Cultura de Café no Brasil – Manual de Recomendações, 2015).
Na literatura recomenda-se aplicação de boro quando houver teores abaixo de 0,6 mg/dm³ no solo, entretanto, muitos técnicos têm optado por aplicar boro quando este apresentar teor abaixo de 1,0 mg/dm³ no solo.
A demanda de boro pelo cafeeiro é de 2.500 mg/ha. Essa exigência foi dividida em diferentes partes da planta por Malavolta (2006), de modo que se chegou à seguinte ordem decrescente: folhas, fruto, ramos, tronco e raiz na proporção de 50%, 20%, 15%, 10% e 5%, respectivamente.
Modos de aplicação e doses
O boro pode ser aplicado no cafeeiro por duas vias principais: solo e folha. A adubação foliar deve ser encarada como uma prática auxiliar no suprimento de nutrientes via solo.
De acordo com recomendação da fundação Procafé, o boro pode ser fornecido via foliar usando-se ácido bórico, bórax ou boro líquido, na concentração de 0,3 a 0,5% para as duas primeiras fontes e, para o boro líquido, 0,2 a 0,3%. A adubação foliar para o boro não é duradoura, sendo que mantém o teor foliar por aproximadamente 60 dias.
A adubação via solo é recomendada em casos de deficiências agudas, ou seja, quando o teor no solo for menor que 0,6 mg/dm3.
O suprimento é feito com 2,0 a 6,0 kg/ha de boro aplicados na projeção da copa. As fontes utilizadas podem ser o ácido bórico ou o bórax, dando preferência ao ácido, que apresenta um melhor comportamento no solo pela maior solubilidade.
Fontes de boro solúveis em água: bórax, ácido bórico; pentaborato de sódio.
Fontes de boro não solúveis em água: ulexita (borato de sódio ou cálcio); colemanita (borato de cálcio); FTE (fritas elementos traços – boro na forma de silicato); boro orgânico (boro na forma de éster ou amida).
O ácido bórico (H3BO3) e as demais fontes solúveis em água citadas proporcionam também uma alta disponibilidade inicial, desta forma, são extremamente suscetíveis à lixiviação.
Já no caso da ulexita e as demais fontes não solúveis, suas solubilidades dependem diretamente da proporção de entre sódio e cálcio, dessa forma, o boro é liberado mais lentamente, de acordo com a granulometria.
Além disto, deve-se ter atenção com relação ao tipo do solo, uma vez que solos de textura argilosa apresentam maior capacidade de retenção do boro, quando comparado a solos de textura arenosa, em que situações de elevada irrigação ou precipitação podem acarretar em lixiviação deste nutriente.
Dica prática
Para se ter economia de recursos quando for fazer aplicação de tal micronutriente no solo, quando a fonte for ácido bórico, pode ser feita juntamente com a aplicação de produtos de solo (inseticida-fungicida) via líquida, bastando somente fazer os cálculos de acordo com a quantidade de calda usada/ha e diluir a quantidade de ácido bórico correspondente no pulverizador.
A participação relativa do adubo e dos nutrientes do solo depende do nível de fertilidade química atual do solo, ou seja, quanto maior o nível de fertilidade, menor a participação do adubo e maior a do solo na produção.
Desta forma, somente após a compreensão dos mecanismos que regem o sistema solo-planta-atmosfera, do comportamento dos nutrientes no solo e no interior da planta e dos níveis adequados e modos corretos de aplicação, um nível de fertilidade adequado pode ser buscado.
Isso deve acontecer de forma gradativa e contínua, respeitando as particularidades do solo, da cultura e nível tecnológico do produtor, visando produção satisfatória em uma agricultura racional, que equalize necessidades do homem com o ambiente.