José Braz Matiello
jb.matiello@gmail.com
Rodrigo N. Paiva
Lucas Bartelega
Engenheiros agrônomos – Fundação Procafé
O conhecimento de como está evoluindo o ciclo fenológico do cafeeiro é importante, pois a análise, em certos períodos, de como se encontram os processos de crescimento e de florescimento/frutificação, vai auxiliar na indicação de práticas no manejo das lavouras.
A fenologia do cafeeiro estuda os eventos periódicos do ciclo de vida das plantas, que acontecem correlacionados com as condições do ambiente. Esses eventos podem ser agrupados em dois tipos – vegetativos e produtivos.
A parte vegetativa consta do crescimento da ramagem e da folhagem, bem como a indução e desenvolvimento das gemas florais nos ramos. O maior crescimento vegetativo ocorre de setembro-outubro até janeiro-fevereiro, com dias longos e maiores temperaturas.
Já a partir de janeiro e, principalmente, após março-abril, até junho, com dias curtos, as gemas foliares existentes são induzidas para gemas florais. Elas amadurecem e entram em dormência.
A parte produtiva começa com o abotoamento, seguindo-se a floração e a frutificação. As gemas dormentes são estimuladas por um diferencial hídrico, que ocorre com a retomada das chuvas ou irrigações, a partir de setembro-outubro. Elas crescem rapidamente e ocorre a abertura dos botões e, então, a frutificação.
Sincronicidade
Os eventos vegetativos e produtivos ocorrem simultaneamente no cafeeiro e as fases fenológicas se completam em dois anos. Ao mesmo tempo em que está ocorrendo a frutificação, na parte mais velha do ramo, uma parte nova, desse mesmo ramo, vai crescendo para suportar a frutificação do ano seguinte.
Assim, acontece uma interação entre as fases, pois quanto maior for o crescimento dos ramos, maior será a produção no ano seguinte. Por outro lado, quanto maior a produção de frutos num ano, menor será o crescimento do ramo novo.
Fenometria
Uma forma simples de acompanhar o crescimento do cafeeiro (pela fenometria) é o de marcar alguns ramos, de algumas plantas, e contar, em certos meses, como vem vindo o desenvolvimento da ramagem, avaliando-se o número de nós, isso contando a partir da parte verde do ramo, ou seja, do crescimento inicial daquele ano agrícola.
Ao mesmo tempo, pode-se avaliar, nesses ramos, o enfolhamento presente. Na tabela 1 foram incluídos o número de nós por ramo e o enfolhamento, determinados, durante os meses, na média de 21 anos (1999-2020), na Fazenda Experimental de Varginha.
Nessa tabela foram incluídos os dados médios em lavouras de safra alta e baixa. Verifica-se que o crescimento dos ramos ocorre de setembro a abril/maio e a partir daí se estabiliza. O enfolhamento nos ramos novos se inicia em setembro e permanece alto até fevereiro, daí vai caindo e chega ao mínimo em agosto.
Na figura 2 foram colocados os dados, em cinco anos, do crescimento diferencial dos ramos, na comparação entre lavouras de safra baixa e alta. Pode-se verificar que as plantas sem carga apresentam, no final do ciclo, cerca de dois nós a mais do que os de safra alta.
Nesse trabalho, da Estação de Avisos da Fundação Procafé, avalia-se, também, o crescimento dos ramos em plantas esqueletadas e tem-se verificado que, nessas plantas, os ramos crescem mais, de forma semelhante àquelas de safra baixa.
Gemas florais
No aspecto de avaliação da diferenciação e desenvolvimento das gemas florais, a figura 2 mostra os diferentes estágios e auxilia nas observações, para diagnosticar o que vem acontecendo no campo.
Neste último ano agrícola, em outubro/novembro de 2021, verificou-se que muitas lavouras apresentavam bom desenvolvimento de ramos novos, porém, havia baixa ou nula floração/frutificação.
A causa provável disso foi a falta de água ocorrida na fase de diferenciação floral, lá atrás, de março a junho. Isso mostra a necessidade de avaliar e acompanhar, periodicamente, os aspectos ligados à fenologia do cafeeiro.
Verifica-se que, dentro do trabalho de assistência técnica ou de consultoria, prestado aos cafeicultores, a par das avaliações já usuais, relativamente às análises de solo e folhas, o técnico deve fazer o acompanhamento das fases vegetativas e produtivas dos cafeeiros, dando base para ajustes na indicação de práticas mais adequadas, compatíveis com o desenvolvimento das plantas e do seu potencial produtivo.