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Sistema de poda para safra zero

Crédito Procafé

José Braz Matiello
jb.matiello@gmail.com
Luis Bartelega
Engenheiros agrônomos – Fundação Procafé
José Renato Dias
Lucas Franco
Lucas H. Figueiredo

Engenheiros agrônomos – Fazendas Sertãozinho
Celio L. Pereira
Engenheiro agrônomo
Marcos E. Manoel
Técnico agrícola – FSH

Observações em campo mostram que as lavouras de café, podadas por esqueletamento, no sistema safra zero, e que se encontram, nesta safra, em ciclo de produção, tiveram menores perdas por efeito das estiagens. Da mesma forma, esse sistema se mostra muito adequado para equilibrar as safras, ou seja, para uniformizar as produções, entre os anos, nas propriedades.
A poda de esqueletamento/desponte é aplicada em cafeeiros combinando o corte lateral das plantas, realizado sobre a ramagem produtiva, com o corte superior da haste, ou um decote.
Com esse tipo de poda, se zera a produção no ano seguinte, pois se elimina as partes dos ramos que iriam produzir na próxima safra. Quando essa poda é aplicada a cada dois anos o sistema é chamado de safra zero/safra 100, ou seja, sem safra num ano e safra bem alta no outro.

Menores perdas por estiagem

As lavouras de café das principais regiões produtoras do País sofreram por estresses hídricos registrados nos dois últimos ciclos, provocados por redução das chuvas e por temperaturas mais altas. Em consequência, foram observadas perdas significativas de produtividade.
Neste último ano foram observados problemas que representam quebras de safra. O primeiro problema ocorre em cafeeiros que tiveram baixa indução de gemas florais, o que levou à redução na emissão de flores.
Nesse caso, embora as lavouras viessem com bom potencial produtivo, para a safra de 2022 surpreendentemente emitiram poucas gemas/botões e flores. O segundo foi o mau pegamento da florada, no que se conhece como abortamento dos frutinhos. Nessa situação, plantas que floresceram normalmente, em seguida apresentaram frutinhos enegrecidos e resultaram na ausência ou em poucos frutos por roseta.
A problemática de redução na floração/frutificação esteve relacionada com o stress hídrico, que provocou a falta de água e de reservas nas plantas, embora, em menor escala, pode ter havido algo de influência do frio mais intenso.
O abortamento de chumbinhos pode, também, ocorrer em função de ataque de fungos como a Phoma, mas, em boa parte, o abortamento vem acontecendo em regiões onde, por condições climáticas, a Phoma não é problema.
Por outro lado, as lavouras de café podadas, que vinham de safra zero, sentiram menos o efeito da estiagem, em função de terem, com a poda, maior equilíbrio entre a parte aérea e o sistema radicular das plantas, podendo, assim, se suprirem melhor de água. Além disso, por não terem safra no ano anterior, acumularam reservas na ramagem/folhagem nova/abundante.
Os ramos dos cafeeiros apresentam frutificação normal, embora não se espere que estas lavouras produzam tão bem como se houvesse o suprimento normal de água, pois, em muitos casos, a falta de chuvas afetou o crescimento da ramagem. Verifica-se, assim, que o sistema safra zero, além das vantagens de redução de custos, nos tratos e na colheita, se mostra uma alternativa para as condições onde se pretende minimizar riscos com déficits hídricos.

Maior equilíbrio nas safras

A poda de esqueletamento/desponte é indicada depois de uma safra alta ou na previsão de uma safra baixa no ano seguinte, primeiro para reduzir perda de safra, segundo porque cuidar, e, principalmente, colher lavoura com pouca carga onera muito o custo de produção.
Essa regra, aliás, é válida para todos os tipos de poda, e deve ser observada no início de uso do sistema, sendo ideal que, rapidamente, se atinja uma programação de podar cerca de 50% das lavouras, de uma propriedade, num ano e o restante no outro. Assim vai-se colher, em cada ano, áreas menores e só lavouras bem produtivas.
A experiência desenvolvida na Fazenda Santa Helena, no Sul de Minas, mostra que nos últimos 11 anos, já com cinco ciclos de poda do sistema safra zero em cafeeiros, houve boa vantagem no seu uso e foi possível observar claramente que as produtividades e as safras se equilibraram ao longo dos anos e num bom patamar.
Com uma área de lavouras de café de pouco mais de 200 ha, a Fazenda tem alcançado safras na faixa de 9 – 10 mil sacas/ano, portanto, com produtividade global da área acima de 40 sacas/ha e, em cerca da metade das lavouras, naquelas que se encontram nos anos de safra, produzindo na faixa de 80-100 sc/ha.
Verifica-se, nesse período, a tradicional bienalidade produtiva, típica da cafeicultura brasileira de café arábica, cultivada a pleno sol. Essa variação é devido a, na condição de um ano de boa safra, as plantas se esgotarem e não terem boa capacidade para o crescimento da ramagem nova, necessária para a safra seguinte.
Assim, zerando a produção baixa e programando uma alta, através da poda, além das vantagens de redução de custos, tem-se aquela de equilibrar as safras anuais, facilitando no fluxo de rendas do produtor.

Condições

Para finalizar, citamos as condições básicas para o sucesso na adoção do sistema safra zero – contar com lavouras com bom espaçamento, com maior número de plantas por área, começar as podas antes de perda significativa de saia, podar o mais cedo possível no pós-colheita, e podar um pouco mais longo e alto, observando a condição da ramagem e o espaçamento.

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