Camile Dutra Lourenço Gomes
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
camile.dutra@unesp.br
Luana de Carvalho Catelan
Engenheira agrônoma e doutoranda em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
luana.catelan@unesp.br
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e professora – UNESP
adriana.kronka@unesp.br
As doenças são responsáveis por perdas substanciais na produção de cebolas. Alguns fitopatógenos são transmitidos pelas sementes, que se constituem em fonte de inóculo para o desenvolvimento de doenças.
A adoção do tratamento de sementes é uma prática largamente difundida, que consiste na aplicação de uma substância ou microrganismos antagonistas visando o controle de patógenos e a preservação do potencial das sementes.
Na rizosfera, encontram-se bactérias de vida livre ou associadas aos tecidos vegetais, incluindo as chamadas rizobactérias promotoras do crescimento das plantas (RPCP), que colonizam as raízes, proporcionando efeitos benéficos às plantas.
Vários gêneros bacterianos apresentam capacidade de promover crescimento vegetal, incluindo Bacillus e Pseudomonas, que se destacam pela importância reconhecida e pelo emprego comercial como inoculantes e biofertilizantes.
Vantagens
O tratamento de sementes com microrganismos, denominado de microbiolização de sementes, pode proporcionar o controle de fitopatógenos associados a elas e a proteção das plântulas em início de desenvolvimento daqueles presentes no solo.
A microbiobilização de sementes com rizobactérias vem demonstrando ser uma importante ferramenta a ser utilizada nos sistemas de produção de cebolas, onde se busca maior eficiência no controle de doenças, promoção do crescimento das plantas, aumento de produção e menor custo, além de benefícios de ordem ambiental.
Tratamento de sementes com rizobactéria
Os benefícios das rizobactérias promotoras do crescimento de plantas podem ser observados em diferentes culturas agrícolas. Além da promoção do crescimento das plantas e o controle de patógenos, por antagonismo direto ou indução de resistência, os benefícios associados às rizobactérias incluem aumento da fixação de nitrogênio; solubilização de fosfatos e oxidação de enxofre; aumento de permeabilidade das raízes, estimulando a absorção de nutrientes; aumento da nodulação de leguminosas por rizóbios; produção de fitormônios (auxinas, giberelinas, citocininas e etileno) e sideróforos; biorremediação; aumento da porcentagem de germinação e emergência; incremento na produtividade; e melhoria na resistência às adversidades abióticas.
Vários desses benefícios já foram relatados na microbiolização de sementes de cebola, além de maior estatura de plantas, número de folhas, biomassa radicular e da parte aérea e aumento na produção de bulbos.
Dessa forma, o emprego de rizobactérias no tratamento de sementes apresenta-se como alternativa sustentável, que pode promover o aumento da produção em sistemas agrícolas.
Aplicação da microbiolização
A microbiolização das sementes é realizada antes da semeadura. O tratamento de sementes pode ser realizado na própria fazenda (“on farm”) e nas unidades de beneficiamento de sementes (UBS).
Em sementes de cebola, a microbiolização geralmente é realizada pela técnica de imersão sob agitação. As sementes são imersas em uma suspensão com o isolado da rizobactéria, por um determinado tempo, que varia de acordo a rizobactéria a ser utilizada.
Após o período de imersão, as sementes são postas para secar em temperatura ambiente por 24 horas e, em seguida, é realizada a semeadura.
A microbiolização realizada nas unidades de beneficiamento de sementes é um processo que consiste na aplicação automatizada da suspensão da rizobactéria e pode ser combinada com a aplicação de fungicidas, inseticidas, micronutrientes, nematicidas entre outros.
Microbiolização e produtividade da cebola
Vários fatores interferem na eficácia da microbiolização e nos benefícios alcançados, incluindo a rizobactéria empregada no tratamento, a variedade vegetal e a interação entre elas, dentre outros.
Dessa forma, não há como determinar com segurança o efeito na produtividade, mas pesquisas mostraram que esse tratamento resulta em maior população de plantas na área de plantio, com consequente aumento na produção de bulbos por hectare.
Em geral, esses efeitos foram observados para sementes microbiolizadas com isolados de Bacillus e Pseudomonas.
Cuidados na aplicação da microbiolização
Tanto na microbiolização de sementes “on farm” quanto no tratamento de sementes industrial (TSI), alguns erros podem ocorrer durante a condução do tratamento, comprometendo sua eficácia.
Alguns cuidados devem ser observados, para que o tratamento de sementes com agentes biológicos tenha êxito. Dentre eles, destacam-se: escolha correta dos bioagentes para o tratamento de sementes; utilização de produtos de procedência idônea; observação do tempo de sobrevivência dos agentes biológicos (validade dos produtos comerciais) e das condições ambientais durante o processo de preparação da suspensão e de aplicação.
Durante o tratamento, devem-se evitar danos nas sementes, para não comprometer o tegumento e embrião, inviabilizando, assim, a germinação. Na execução do tratamento, o produto deve ser aplicado na concentração recomendada e de forma uniforme nas sementes.
Após o tratamento, as sementes devem ser armazenadas em local fresco e arejado, para que os produtos não sejam degradados ou percam sua eficiência.