Silvia Massruhá
Chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária
A Agricultura 4.0 (Agro 4.0), também chamada de agricultura digital, é uma era na qual a produção estará cada vez mais baseada em tecnologia de ponta, conteúdo digital e conectividade.
Essa definição é uma referência à Indústria 4.0, inovação que teve início na indústria automobilÃstica alemã e que agora conquista fábricas de diversos segmentos devido à completa automatização proporcionada aos processos produtivos.
A Agro 4.0, ou melhor, a agricultura digital e conectada, vem ajudar o produtor rural a elevar os Ãndices de produtividade, de eficiência no uso de insumos, de redução de custos com mão de obra, e ainda melhorar a qualidade do trabalho e a segurança dos trabalhadores, além de diminuir os impactos ao meio ambiente por meio de tecnologias de ponta.
Os métodos computacionais de alto desempenho, rede de sensores, comunicação máquina para máquina (M2M), conectividade entre dispositivos móveis, computação em nuvem, métodos e soluções analÃticas para processar grandes volumes de dados sistematicamente e em tempo real contribuirão para a construção de sistemas de suporte à tomada de decisões de planejamento e manejo, beneficiando tanto a parte de gestão como agronômica da propriedade rural.
Ainda que a Agricultura 4.0 seja um desafio, ela precisa acontecer. Confira as características do mercado que vão forçar essa mudança.
ü O perfil do agricultor mudou nos últimos dez anos;
ü Quem comanda as fazendas hoje, devido à sucessão familiar, é mais ávido e quer velocidade para fazer acontecer;
ü Inconformados trouxeram ideias de aplicativos do setor bancário para o agronegócio;
ü Produtores querem conteúdo e conectividade;
ü Eles entenderam que há uma forma nova de fazer as coisas;
ü Querem economia de recurso. Fazer mais com menos.
ü Há necessidade de aumentar a produção agrícola sem ampliar a área plantada;
ü Estima-se a presença de 50 bilhões de dispositivos móveis conectados à internet em 2020.
Inúmeras possibilidades
Em nossa visão, a Agricultura 4.0 é uma possibilidade para todos os produtores. Os grandes agricultores já estão mais inseridos neste contexto, enquanto entre os pequenos e médios produtores o desafio é maior em relação à infraestrutura física, humana e de comunicação.
Estima-se que 95% do aumento da produção mundial de alimentos daqui em diante terá que vir de ganhos de produtividade e tecnologias que auxiliem o agricultor a fazer mais com menos, de modo mais eficiente, rápido e com menos custos. A agricultura digital será capaz de conectar informações e dados de modo a maximizar os benefícios de todas as outras tecnologias já existentes, e as que estão por vir.
Mais que isso, a próxima evolução da tecnologia da informação, a Internet das Coisas redefine a maneira como interagimos com o mundo físico e viabiliza formas mediadas por computação ” até então impossÃveis ” de produzir, fazer negócios, gerenciar infraestrutura pública, prover segurança e organizar a vida das pessoas.
Penso que os produtores que adotam a Agricultura 4.0 saem na frente na busca pela otimização no uso dos recursos naturais e dos insumos, o que fará com que a fazenda do futuro seja massivamente monitorada e automatizada.
Sensores dispersos por toda a propriedade e interligados à internet (Internet das Coisas) gerarão dados em grande volume (Big Data) que necessitarão ser filtrados, armazenados (computação em nuvem) e analisados. A força de trabalho humana não será capaz de gerenciar essa quantidade de dados e necessitará de algoritmos cada vez mais aprimorados, por meio de técnicas de inteligência computacional e computação cognitiva, para auxiliá-los no processo de análise.
Após a análise, o ciclo é fechado por meio de comandos remotos aos tratores e implementos agrícolas que, munidos de GPS, farão intervenções pontuais apenas onde necessário para otimizar custo, produção e impacto ao meio ambiente.
Dentre as vantagens desta agricultura conectada, pode-se destacar que produtores acompanharão remotamente, de casa ou da sede da fazenda, pelo computador, tablet ou smartphone, o desempenho de suas máquinas nas lavouras por telemetria, a transmissão automática de dados via sinal de telefonia celular.
Além disso, com o apoio destas tecnologias o produtor, as cooperativas e o governo podem tomar microdecisões e macrodecisões mais assertivas, e com isso conseguir melhorar a produção agrícola com o uso sustentável dos recursos naturais e insumos, minimizando os custos e triplicando a produtividade no campo.
Realidade
Um das barreiras que a Agricultura 4.0 enfrenta é a comunicação, o sinal de celular no campo. Muitas empresas, multinacionais ou startups têm lançado ou testado suas tecnologias nas regiões sul e sudeste, principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, onde a cobertura de celular na zona rural está entre regular e boa.
As empresas têm avançado para outros Estados, como Goiás e Mato Grosso, mas a tecnologia esbarra neste problema de conectividade.Além do problema de conexão no campo, um outro entrave para a Agricultura 4.0 é a mão de obra capacitada.
Um grande desafio é a capacitação para os produtores, os técnicos agrícolas, agrônomos e consultores, que terão de trabalhar com essas máquinas inteligentes e sensores no campo, saber analisar os dados gerados e transformá-los em informação e conhecimento para que o produtor possa tomar uma decisão em tempo real.
Essa capacitação é estratégica para o País e tem tido um papel fundamental e polÃtico em outros setores da economia; e na agricultura não será diferente.
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