José Braz Matiello
Engenheiro agrônomo – Fundação Procafé
jb.matiello@gmail.com
A desfolha em cafeeiros é um problema que pode causar perdas no desenvolvimento e na produtividade das plantas. Por isso é importante conhecer suas causas e, então, evitar os seus efeitos.
O bom enfolhamento das plantas de café é necessário, pois as folhas são as responsáveis pela síntese de energia para a planta, por meio da fotossíntese. Assim, quanto maior a área foliar por área de terreno (IAF), maior tende a ser o crescimento e a produção do cafeeiro. E esse IAF ideal pode ser obtido por um bom número de plantas por área (pelo espaçamento) e pela manutenção das plantas enfolhadas.
Folhas intactas
O cafeeiro não é planta de folhas caducas, assim, sob condições adequadas, de sombreamento, umidade e nutrição, o cafeeiro pode manter praticamente todas as folhas por vários anos. Porém, nas condições de campo, a pleno sol e sob tratos normais, a vida das folhas do cafeeiro pode durar de três a 20 meses.
O processo que leva à queda de uma folha está ligado ao rompimento da camada de abscisão, existente na região de ligação do pecíolo ao ramo. Ela ocorre devido à alteração dos níveis de auxina e, principalmente, do etileno.
Com o processo natural de senescência, por lesões ou destruição de área do limbo foliar, forma-se um apodrecimento, que produz muito etileno e a zona de abscisão fica sensível, se rompe e causa a desfolha. Também ocorrem desfolhas por causas mecânicas.
Causas
As principais causas de desfolha em cafeeiros são:
1 – Desgaste da folhagem (estresse) por carga das plantas, associada a deficiências nutricionais;
2 – Ataque de pragas e doenças, provocando lesões e aumento de etileno;
3 – Desfolha mecânica na colheita, por ventos fortes ou por queimaduras por pulverizações (sais, herbicidas, etc.);
4 – Ocorrência de condições climáticas adversas, como: estiagem, granizo, geada, ventos frios, desequilíbrio em temperaturas, etc.
Reflexos
Os efeitos da desfolha sobre o crescimento e a produtividade dos cafeeiros dependem do nível e da época da desfolha. A tabela 1 mostra a influência de quatro níveis de desfolha, 0, 30, 60 e 90% em quatro épocas, em fevereiro, maio, agosto e novembro.
Pode-se observar que as perdas produtivas crescem com os maiores níveis de desfolha, especialmente a partir de 60%. Quanto à época, a desfolha se mostra mais prejudicial em maio e agosto, coincidindo quando a planta já, naturalmente, possui um menor nível de enfolhamento.
Em novembro e em fevereiro, quando as plantas se encontram em fase de novo enfolhamento, a desfolha é menos prejudicial.
Em termos gerais, o nível considerado crítico, acima do qual aumentam bastante os prejuízos produtivos, é de 50% de desfolha, ou seja, um enfolhamento de 50%. Isto significa que, por exemplo, um ramo que nos seus seis últimos pares deveria ter 12 folhas, poderia perder até seis delas.
O nível de enfolhamento dos cafeeiros, especialmente aquele verificado no período mais crítico, no pós-colheita e pré-florada, é um parâmetro essencial no pegamento da frutificação. Assim, para saber como a lavoura vai produzir na próxima safra, basta observar o estado de enfolhamento das plantas do talhão, como elas se encontram em agosto-setembro.
Isso ocorre por que as plantas de café concentram suas reservas na folhagem. O cafeeiro frutifica e enche os frutos no período de 80 – 100 dias pós-florada. Nessa ocasião, caso a planta, pela desfolha, não possua boas reservas, acaba abortando e deixando cair frutinhos, o que se chama de mau pegamento da florada, na realidade da frutificação.
Tabela 1– Efeito de níveis e épocas de desfolha em cafeeiros sobre a perda de produtividade – Venda Nova do Imigrante (ES).