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Florestas primárias: o que são e qual a sua importância?

Créditos: Depositphotos

Fernanda Aparecida Nazário de Carvalho
Graduanda em Engenharia Florestal – Instituto de ciência, Educação e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG)
fernandacarvalhonaz@gmail.com
Fabíola Martins Delatorre
Graduanda em Engenharia Industrial Madeireira – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
fabiola.delatorre@edu.ufes.br
Allana Katiussya Silva Pereira
Engenheira florestal, mestra em Ciências Florestais e doutoranda em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)
allanakatiusssya@usp.br
Ananias Francisco Dias Júnior
Engenheiro florestal, doutor em Recursos Florestais e professor – UFES
ananias.dias@ufes.br

 As florestas primárias, popularmente conhecidas como “matas virgens” ou “florestas maduras”, recebem este nome por serem florestas cuja ação humana não provocou alterações significativas em sua estrutura original.

As florestas primárias apresentam vegetação uma grande diversidade biológica, representando um importante valor para a biodiversidade. Essas florestas servem de abrigo e fonte de propágulo para diversas espécies animais e vegetais, inclusive para as espécies florestais que são sensíveis às perturbações advindas de ações humanas.

Essas florestas são base essencial para melhor compreendermos como a flora e a fauna vêm se modificando ao longo do tempo, servindo de suporte para entender os distúrbios naturais e os efeitos das perturbações humanas.

Pressão

Ao longo do tempo, as florestas ao redor do planeta vêm sofrendo inúmeras pressões, como as fragmentações em decorrência de desmatamentos para o desenvolvimento da agricultura ou até mesmo processos de exploração predatória.

Em consequência, essas florestas perdem sua biodiversidade, algumas espécies são extintas e em resposta, causam-se uma série de impactos ambientais negativos, refletindo nas mudanças climáticas. É válido ressaltar que essas florestas são insubstituíveis e apresentam qualidades incomparáveis, o que torna qualquer interferência uma preocupação para o meio ambiente.

Preservar as florestas primárias é crucial

Uma variedade de atividades humanas pode refletir na degradação das florestas. Atividades como a exploração intensiva de madeira, garimpo, incêndios, expansão urbana, atividades voltadas à agricultura e a pecuária, provocam não só a perda da biodiversidade e do habitat de muitas espécies, mas interfere na qualidade de vida humana.

Nesse sentido, a proteção dessas florestas é uma preocupação global devido ao papel que desempenham nos sistemas planetários de suporte à vida, especialmente no ciclo global de carbono e no comprimento das metas internacionais de biodiversidade e desenvolvimento sustentável.

O Fórum das Nações Unidas sobre Florestas divulgado em 2021 abordou que mais de 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono são anualmente absorvidas pelas florestas primárias, que purificam o ar e a água. Mas a velocidade de extinção de suas espécies é de cerca de 100 a 1000 vezes maiores do que a taxa de referência.

O relatório de 2021 das Organização das Nações Unidas (ONU) destacou que um milhão de espécies correm risco de extinção e que 100 milhões de hectares de florestas primárias forem perdidos de 1980 a 2000. Ao mesmo tempo, as mudanças climáticas estão colocando em risco a resiliência dos ecossistemas florestais e suas capacidades de apoiar serviços ecossistêmicos em todo o mundo.

Embora as florestas ofereçam soluções baseadas na natureza para superar esses desafios globais, elas também nunca estiveram tão em risco. O caminho a seguir precisa ser pavimentado com maior sustentabilidade e um ambiente mais verde.

De forma sustentável, as florestas fornecem recursos que geram empregos, a redução de risco de desastres naturais, segurança alimentar e as redes de segurança social, dentre outros benefícios sociais, ambientais e econômicos. Elas também podem proteger a biodiversidade e promover tanto a mitigação quanto a adaptação ao clima.

Conservação do solo

As florestas têm um papel fundamental na preservação ambiental em especial sobre o solo. A cobertura florestal protege o solo de fenômenos como a erosão e evaporação excessiva, atribuída a estrutura de suas árvores, que “amortecem” o impacto direto da água da chuva, conferem proteção da ação dos ventos, dos raios solares e das variações de temperatura.

As raízes das árvores também são responsáveis por favorecerem a estrutura do solo, promovendo a aeração e a infiltração da água de maneira facilitada. Manter essas florestas funcionais, permite que elas contribuam com o solo no fornecimento de matéria orgânica e nutrientes, o que favorece  as interações entre os microrganismos que nele habitam.

A riqueza vegetal sobre o solo ainda contribui para sustentar a fauna, favorecendo o equilíbrio do ecossistema. Em florestas onde o solo habitualmente não sofre interferência por muito tempo, o seu desenvolvimento é beneficiado e, junto a isso, o solo de ocupação florestal se torna um grande reservatório de carbono do planeta devido a quantidade de biomassa produzida e retida na floresta, junto a todo o processo de ciclagem através da biota do solo.

Qual o papel da floresta primária?

Quando se aborda o tema “falta de água” há cada vez mais um distanciamento de sua real causa: a perda de florestas. A cobertura florestal cumpre um importante papel na estocagem de recursos naturais, principalmente na oferta de água, cujo seu ciclo envolve o solo, árvores, lençol freático e chuvas.

As florestas primárias apresentam um conjunto de características que contribuem de forma efetiva para a capacidade de absorção de água pelo solo, como: um sub-bosque conservado, dossel denso e grande teor de matéria orgânica acumulado ao longo do tempo. A vegetação natural, favorece a interceptação da água da chuva, graças aos obstáculos que ela encontra no solo (grande teor de matéria orgânica acumulada), que é capaz de promover a infiltração da água de modo lento, garantindo sucesso no abastecimento do lençol freático.

A cobertura florestal, em distintas posições da superfície terrestre, exerce diferentes funções favoráveis a essa hidrologia. A vegetação localizada em topos de morro são responsáveis por favorecer as recargas de aquíferos.

Quando encontrada nas encostas, reduz o escoamento superficial e, consequentemente, o processo erosivo, desempenhando papel importante evitando a degradação do solo em decorrência da precipitação.

Já nas áreas ripárias – zonas vegetadas no entorno de rios e córregos, cumpre importante papel de proteção, principalmente prevenindo contra assoreamento dos cursos d’água. Nesse sentido, as florestas são fundamentais quando se trata de qualidade, forma, quantidade de água e proteção.

Manter as florestas primárias saudáveis e funcionais em sua máxima expressão pode ser o caminho para desacelerar as crises globais climáticas, de saúde, desigualdade socioambiental e biodiversidade, fazendo com estes os serviços essenciais prestados por estas florestas continuem sendo ofertados.

É necessário que seja firmado um compromisso diário com essas florestas a partir de políticas públicas que visem conferir sua conservação e manutenção como prioridades.

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