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Cultivares de batata-doce: novas opções para plantio

Foto: Shutterstock

Orlando Gonçalves Brito
Engenheiro agrônomo, doutor em Produção Vegetal e pesquisador – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
orlandocefet@yahoo.com.br
Jeferson Carlos de Oliveira Silva
Engenheiro agrônomo, doutorando em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA)

A batata-doce (Ipomoea batatas L.) é uma das plantas alimentares de maior importância para o mundo, sendo cultivada em mais de 111 países. Além de nutritiva, a cultura apresenta boa rusticidade e ampla adaptação aos diferentes tipos de climas e solos, o que a torna uma ótima alternativa para a agricultura familiar.

Apesar desta relevância, a cultura ainda é explorada de forma muito rudimentar no País, resultando nas baixas produtividades encontradas no País. Em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil plantou 59.481 hectares da cultura e produziu 847.896 toneladas, com produtividade média de aproximadamente 14 t ha-1, visto que a cultura tem potencial para alcançar produtividades acima de 50 toneladas por hectare.

Tecnologias

O desenvolvimento de cultivares com alto potencial produtivo é uma das principais estratégias para elevação dos patamares de produtividade nas lavouras. No caso da batata-doce, a criação de novas cultivares é favorecida pela grande diversidade genética presente na espécie, ou seja, alta variação de formatos de folhas, tipos de ramas, formatos de raízes, cores de polpa, etc.

Estas características permitem que as novas cultivares possam atender diversas aptidões agronômicas, como consumo humano, alimentação animal, uso agroindustrial, produção de etanol, etc. Apesar disso, a maioria das cultivares são desenvolvidas principalmente visando a produção de raízes para o consumo humano.

Nos últimos anos, o consumo de cultivares de batata-doce com polpa colorida tem aumentado, o que tem estimulado novas linhas de pesquisas nos programas de melhoramento com esta finalidade. Além do sabor agradável, o maior consumo deste tipo de polpa deve-se ao elevado conteúdo de compostos bioativos funcionais e nutricionais, que são benéficos à saúde humana.

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Principais compostos benéficos à saúde

Os hábitos alimentares dos consumidores de hortaliças mudaram de forma acentuada nos últimos anos, buscando-se, especialmente, alimentos mais saudáveis e nutritivos. Com isso, diversos investimentos estão sendo realizados para o desenvolvimento de hortaliças geneticamente biofortificadas, ricas em compostos benéficos à saúde e que sejam mais acessíveis à população.

As batatas-doces de polpas coloridas destacam-se neste grupo de alimentos, pois além de apresentarem ótimo sabor e aparência, este tipo de polpa possui elevado conteúdo de compostos bioativos e nutricionais, que são benéficos à saúde humana. Dentre estes compostos benéficos, destaca-se a presença de betacaroteno na batata-doce de coloração de polpa alaranjada e de antocianinas nas raízes de coloração de polpa roxa, além de alto teor de vitaminas e minerais nas raízes.

A batata-doce de polpa alaranjada tem boa quantidade de betacaroteno, com uma retenção de 70 a 92%. Neste contexto, a batata-doce é um alimento estratégico para atenuar deficiência de vitamina A, pois de acordo com pesquisas, apenas 100 a 125 gramas de batata-doce cozida dessa coloração atende às necessidades diárias de ingestão de vitamina A de crianças com idade abaixo de cinco anos.

O uso de antioxidantes sintéticos tem sido reduzido nos últimos anos, pois podem causar problemas de saúde, como danos ao fígado e serem cancerígenos. Isso tem levado à substituição por antioxidantes naturais, como a batata-doce de polpa roxa.

Assim, considerando a grande necessidade de pigmentos naturais e saudáveis na indústria alimentícia, há uma atenção especial para a exploração de antocianinas de plantas comestíveis. Por ser um alimento funcional e com grande potencial para biofortificação, genótipos de batata-doce com polpas alaranjadas e roxas são alimentos estratégicos.

Desenvolvimento de novas cultivares

Foto: Shutterstock

Diversas linhas de pesquisas vêm sendo desenvolvidas nos programas de melhoramento genético da cultura, que em sua maioria são desenvolvidos por instituições públicas, como Embrapa, institutos de pesquisas e universidades.

Os pesquisadores buscam selecionar genótipos de batata-doce com elevada produtividade de raízes comerciais, sabor agradável, bom formato e resistência às principais pragas de solo. Nos últimos anos a seleção tem focado também em genótipos com alta produção de antocianinas e carotenoides, ou seja, batatas-doces com polpas coloridas.

Devido às características atrativas e nutricionais, estas batatas-doces podem ser direcionadas para a produção de farinhas, massas, pães, chips, cervejas, dentre outras. Esta característica demonstra o potencial de mercado das batatas-doces de polpas coloridas, as quais podem apresentar um valor agregado diferenciado, especialmente para o mercado gourmet e na indústria de alimentos.

Disponibilidade

De acordo com o Registro Nacional de Cultivares (RNC), o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), atualmente no Brasil estão registradas 43 cultivares de batata-doce, com a maior parte desenvolvida para uso de raízes no consumo humano.

De acordo com a Embrapa, até o ano de 2020 havia apenas uma cultivar de polpa com coloração roxa registrada no RNC, denominada SCS370. Todavia, esta cultivar era de recomendação restrita ao Estado de Santa Catarina e com produtividade média de 14,7 t ha-1. Com isso, em 2021 foram lançadas as cultivares BRS Anembé e BRS Cotinga ambas de polpa roxa e com alta aptidão agroindustrial.

Características

A BRS Anembé é uma cultivar de ampla adaptação climática, com ciclo médio de 140 dias e indicada para diferentes regiões do Brasil. Além disso, sua polpa é roxa intensa, com alto teor de antocianina de 184,8 mg g-1, atingindo elevada produtividade média nos ensaios (42,8 t ha-1).

A cultivar BRS Cotinga é uma cultivar de polpa roxa intensa, com teor de antocianinas igual a 154 mg g-1 e destinada para a produção de chips.

Entretanto, a cultivar pode ser utilizada para outras formas de processamento agroindustrial, como produção de farinhas, xaropes e cervejas artesanais. Essa forte aptidão ao processamento industrial deve-se especialmente ao elevado teor de matéria seca (32%) e sólidos solúveis acima de 11 °Brix.

Já a BRS Nuti é uma cultivar de casca rosada e polpa alaranjada, a qual apresenta elevada adaptabilidade e estabilidade de produção, com uma produtividade média de 40,5 t ha-1 nos ambientes avaliados em diferentes Estados (MG, SP, RS, SC, PE, PI, PA e DF).

A cultivar apresenta elevado teor de betacaroteno (150 mg kg-1) e é indicada para consumo de mesa e uso industrial. A BRS Nuti possui ciclo mais longo, que pode variar entre 150 e 180 dias.

Outra cultivar de polpa alaranjada bem conhecida no Brasil é a Beauregard que possui ótima qualidade de raízes e produção de betacaroteno (115 mg kg-1), porém,  produtividade inferior a 30 t ha-1

Estas cultivares apresentam elevado potencial agronômico e alta qualidade, colocando o mercado de polpas coloridas em evidência.

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