Enilson Nogueira
Consultor Céleres Consultoria
enogueira@celeres.com.br
Após duas safras de rentabilidades historicamente elevadas e expansão considerável de área plantada de algodão, os desafios geopolíticos, a elevação forte de custos de produção e as incertezas sobre os preços de petróleo no curto prazo adicionam bastante atenção para a temporada 2022/23 da cultura.
Ao longo da última década, a área plantada de algodão tem buscado consolidar o patamar de 1,6 milhão de hectares a nível nacional. No entanto, após a queda em 2020/21, a área cultivada da cultura deve completar na safra que se inicia o segundo ano consecutivo de aumento de relevante.
Em números
A expectativa da Céleres® é que a área semeada seja de 1,77 milhão de hectares em 2022/23, diante de margens ainda atrativas para a cultura, representando aumento de 8% frente à safra anterior. Os números oficiais da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA) indicam 1,78 milhão de hectares para a próximo ciclo.
Do ponto de vista da produção, além do aumento de área, a produtividade no Cerrado pode se recuperar frente a uma temporada de desafios climáticos para os rendimentos e a qualidade do algodão colhido em 2021/22.
A produção estimada de pluma deverá ser acima de 3,0 milhões de toneladas, de acordo com dados da Céleres®, aumento anual relevante de 9%.
Evolução de área plantada e produção de algodão no Brasil
Comercialização
O crescimento de área e produção ainda é sustentado pelo nível elevado de comercialização antecipada de pluma da temporada 2022/23. Até meados de novembro/2022, um pouco mais de 50% da safra de pluma de algodão em Mato Grosso já havia sido comercializada, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), próximo do comportamento médio dos últimos anos.
No entanto, vale lembrar que os produtores aproveitaram de preços mais altos entre o final de 2021 e o primeiro quadrimestre de 2022, o que incentivou a intenção de crescimento para a área plantada mesmo com a queda forte de preços nos últimos seis meses.
A conjuntura de preços passou por várias incertezas, que culminaram na desvalorização das cotações da pluma de algodão no último semestre. De acordo com o IMEA, em meados de maio/22, a arroba de pluma de algodão era negociada acima de R$ 250 no Oeste de Mato Grosso.
Contudo, após as quedas nos preços internacionais de petróleo – importante driver de custos para fibras sintéticas e naturais, e a possibilidade de baixo crescimento ou até depressão econômica nos países desenvolvidos diante dos conflitos Rússia e Ucrânia e aumento das taxas de juros no global, os preços médios da pluma na mesma região caíram para a casa R$ 170, mais de 30% de queda em relação às máximas deste ano.
Rentabilidade
O cenário recente adverso de preços tem limitado as perspectivas de rentabilidade para o produtor nacional. As simulações de rentabilidade para o produtor de algodão mato-grossense em 2022/23 ainda indicam rentabilidades um pouco acima do histórico para a cultura e maiores em relação às culturas concorrentes.
Mesmo com a forte valorização dos custos diretos de produção esperados para 2022/23 (+ 40%, pela base do IMEA) – reflexo dos preços internacionais mais elevados de fertilizantes e defensivos e das boas rentabilidades em anos anteriores, a margem de contribuição da cultura ainda está positiva em 33% da receita bruta, se plantada isoladamente, ou de 31%, se integrada ao sistema com soja – abaixo do ano anterior, mas dentro da média dos últimos cinco anos.
Vale ressaltar que o cenário desafiador de custos se repete para soja e milho inverno no Estado. Contudo, o retorno esperado absoluto de um hectare em condições de produção no Estado ainda mostra vantagem para a cotonicultura em relação ao milho inverno – principal cultura adotada no ciclo de inverno no Estado.
Rentabilidade estimada de diferentes sistemas de produção de milho. Em R$ mil/ha
Tecnologias alavancam produção
Estruturalmente, os ganhos de produtividade entregues pela junção de sementes mais tecnológicas e produtivas e bons pacotes de defensivos agrícolas têm levado ao retorno de produtores para a cultura em várias regiões produtivas – inclusive produtores de médio porte, visto que o importante elemento de escala para a rentabilidade da cultura foi aliviado pela diminuição do break-even da cultura, com aumento de produtividade.
Por ser uma cultura de alto custo de produção frente a outros concorrentes agrícolas – como soja e milho, os riscos produtivos e de mercado para o algodão são altamente relevantes dentro da dinâmica de produção e comercialização desta cultura, levando a estratégias mais aprimoradas de proteção dentro e fora da fazenda.
Estratégias
Além de garantir bom pacotes tecnológicos – algo que a cadeia produtiva e produtor brasileiro já fazem com maestria, é importante que o produtor adote estratégias de fechamento de custos de produção e preços recebidos pela pluma que deem segurança para a marcha de expansão da cultura dentro da propriedade.
Neste cenário, a potencial adoção de estratégias de barter para acesso a insumos e comercialização antecipada da cultura – com ou sem posicionamento de proteção no lado financeiro, são fundamentais para a longevidade dentro da atividade.